A argumentação de Ferrari para investir em “cancer centers” era que, ao não ter os hospitais, a companhia perdia uma parte da receita do tratamento nos casos em que o paciente necessitava de uma internação que, por sua vez, é o procedimento mais caro.
Ernane Bronzatti e Marcelo Guimarães, sócios do grupo Oncomed, destacam que essa é uma realidade global e que não há muitos “cancer centers” no mundo. “Como referência mundial, o que temos é o Instituto Europeu de Oncologia, na Itália; o Memorial Sloan Kettering Cancer Center, em Nova York; e o MD Anderson, também nos Estados Unidos”, disse Bronzatti. “Nunca acreditei no modelo de “cancer center”, não temos demanda”, complementou Guimarães. Ambos foram sócios da Oncoclínicas até 2017, época em que a companhia era focada na rede de clínicas.
O AC Camargo, referência em tratamento oncológico no Brasil, interrompeu sua expansão. O hospital não vai abrir novas unidades por acreditar que o mercado de oncologia, em especial em São Paulo, já atingiu um tamanho limite por conta da expansão de vários grupos de saúde nessa área e devido à rápida inovação da indústria farmacêutica, o que está reduzindo o tempo de internação.
Em 2004, os pacientes do AC Camargo ficavam internados em média por 12 dias. Dez anos depois, esse prazo caiu para 6 dias e, no ano passado, estava em 4,5 dias. Considerando a UTI, são 3,5 dias de internação em média.
Os pacientes estão ficando menos tempo no hospital. Não precisamos aumentar nossa estrutura”
— Victor Piana
Com isso, o AC Camargo Cancer Center reviu sua estratégia de expansão e agora está priorizando parcerias, ou seja, presta serviços para outros hospitais para atendimento de paciente oncológico.
“Os pacientes estão ficando menos tempo no hospital. Não precisamos aumentar a nossa estrutura. Estamos passando por uma transformação tecnológica, temos tratamentos como terapia alvo, imunoterapia, que são mais eficazes”, disse o médico Victor Piana, presidente do AC Camargo Cancer Center, instituição de saúde sem fins lucrativos, em entrevista ao Valor, em dezembro do ano passado.
O Einstein Hospital Israelita tem em andamento a construção de um complexo, orçado em R$ 1,2 bilhão, voltado para tratamento de câncer e hematologia com 100 leitos. Mas vale ponderar que o atendimento oncológico hoje realizado em sua unidade principal, que destina cerca de 80 leitos para esses pacientes, será totalmente transferido para o novo endereço. Ou seja, a nova unidade já abre com demanda garantida.
Além disso, o “cancer center” do Einstein também abriga consultórios, área para pesquisa e laboratório de medicina diagnóstica.
A Rede D’Or, que tem cerca de 60 clínicas de oncologia distribuídas em todo país, e o Hospital Sírio Libanês, que também são referências no tratamento oncológico com uma equipe de médicos renomados, são outros exemplos de grandes grupos que não têm hospitais só focados no tratamento de câncer. Os casos que necessitam de cirurgias e outros procedimentos mais complexos são realizados em seus hospitais gerais.