A indústria brasileira de dispositivos médicos pode ganhar fôlego renovado com o avanço das políticas da Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS) voltadas ao fortalecimento das cadeias regionais de suprimento em saúde. O órgão, braço da ONU nas Américas, tem ampliado o volume e a diversidade de produtos adquiridos, ao mesmo tempo em que incentiva a produção local e a integração das cadeias regionais de fornecimento.
Segundo a Associação Brasileira da Indústria de Dispositivos Médicos (ABIMO), o movimento abre uma janela concreta de inserção internacional para os fabricantes brasileiros — especialmente em um momento em que o setor busca diversificar mercados e reduzir a dependência dos Estados Unidos e da Europa, principais destinos das exportações do país.
“A OPAS atua diretamente na aquisição e gestão de tecnologias médicas para governos da América Latina e Caribe. Ao estimular a produção regional e harmonizar os marcos regulatórios, cria condições favoráveis para que o Brasil se torne um fornecedor estratégico de soluções em saúde”, avalia Larissa Gomes, gerente de Projetos e Marketing da ABIMO.
Os dispositivos médicos — categoria que abrange desde reagentes laboratoriais e produtos de reabilitação até materiais odontológicos — são considerados peças-chave para o funcionamento dos sistemas de saúde. Nesse contexto, a OPAS, por meio de sua área de Medicamentos e Tecnologias em Saúde, tem apoiado os países da região no fortalecimento da regulação, avaliação e gestão de tecnologias médicas (ATS), com foco em transparência e eficiência nas aquisições públicas.
Desde 2019, a Organização mantém uma lista de 337 dispositivos prioritários para o primeiro nível de atenção, usada como referência por governos na estruturação de compras e políticas de acesso. O documento contempla desde itens básicos, como estetoscópios e monitores de sinais vitais, até equipamentos especializados de odontologia, laboratório e diagnóstico por imagem.
“A ampliação dessa lista e o avanço da agenda regulatória da OPAS mostram que há espaço crescente para a indústria regional. O Brasil tem qualidade, capacidade produtiva e domínio tecnológico para atender a essas demandas, e nosso papel é ajudar as empresas a acessarem esses canais multilaterais”, afirma Larissa.
A ABIMO, por meio do projeto Brazilian Health Devices, em parceria com a ApexBrasil, atua para aproximar fabricantes nacionais de programas internacionais de compras e cooperação em saúde. O objetivo é posicionar o país como parceiro estratégico em iniciativas voltadas à modernização e ao fortalecimento dos sistemas públicos da região.
“As compras coletivas promovidas por organismos como a OPAS representam uma nova fronteira para a exportação de dispositivos médicos. Mais do que vender, é uma forma de integrar o Brasil a políticas que visam ampliar o acesso e a equidade em saúde nas Américas”, conclui Larissa.