O A.C. Camargo está apostando no modelo de parceria com estabelecimentos de saúde públicos e privados, com intercâmbio de profissionais e desenvolvimento de linhas de pesquisa, como o melhor caminho para reduzir os custos dos tratamentos de câncer. O diretor-geral do A.C. Camargo, Victor Piana, afirma que o diagnóstico precoce e o acompanhamento por uma equipe multidisciplinar em unidades especializadas são a chave para reduzir os custos no tratamento de pacientes oncológicos.
Em um modelo de atuação como o do A.C. Camargo, as equipes são especializadas nos diversos tipos específicos de tumores. Isso vale desde o atendimento primário, ainda na fase de suspeita da doença, até o psicólogo e o nutricionista que atuam de forma paralela ao oncologista durante o tratamento. Piana afirma que, sem as sinergias de um modelo como o adotado, o diagnóstico leva mais tempo e as financiadoras têm mais custos durante o tratamento.
“A jornada de um paciente no setor privado costuma ser a busca do médico de confiança, como um ginecologista no câncer de mama. A partir daí, o paciente realiza exames em um laboratório que é uma rede, em seguida realiza uma biópsia, e nisso o paciente vai percorrendo vários locais e as informações ficam espalhadas. É comum a gente ver desperdícios como repetição de exames, além de orientações diferentes a cada profissional”, afirma o presidente do A.C. Camargo.
A ampliação desse modelo de tratamento, segundo Piana, não exige maiores investimentos em infraestrutura e leitos, mas em tecnologia no tratamento de dados e na capacitação dos profissionais envolvidos.
De acordo com Piana, o A.C. Camargo atende atualmente 2,5 mil casos anuais em tumores de mama, cabeça e pescoço, que são os de maiores incidências na oncologia. De acordo com o executivo, a perspectiva do A.C. Camargo é de que o número de pacientes atendidos siga em crescimento nos próximos anos.
“Estamos passando por uma mudança epidemiológica. Há um volume maior de novos casos e uma mortalidade alta, porque até hoje não conseguimos estabelecer programas de antecipação diagnóstica e descobrimos os casos em estágios avançados. Além disso, os pacientes estão ficando cada vez mais jovens e isso não era comum”, afirma.
Essa maior incidência em pacientes mais jovens e o diagnóstico tardio também estão no radar da Funcional Health Tech, empresa de análise de dados para a área da saúde. O diretor médico da Funcional Tech, Alexandre Vieira, afirma que o atual cenário exige maiores esforços de detecção precoce dos casos.
Além do bem-estar do paciente e prognóstico de cura, a detecção precoce do tumor é decisiva para as contas de prestadores de saúde. Um levantamento exclusivo da Funcional Health Tech, a partir de dados de operadoras de saúde privadas entre 2019 e 2024, aponta que os custos de tratamento podem triplicar em caso de diagnóstico de tumores em estágio avançado.
A base de dados de 16 mil clientes aponta que o custo médio de tratamento foi de R$ 41 mil no caso de tumores identificados no início. Já quando a descoberta se dá em fase mais avançada, a média ficou em R$ 128 mil.
O Ministério da Saúde anunciou, no mês passado, que mulheres de 40 a 49 anos passaram a ter acesso a mamografia no Sistema Único de Saúde (SUS), mesmo sem sentir qualquer sintoma. O exame para detecção de tumores, até então, fazia parte da rotina apenas para mulheres entre 50 e 69 anos.
O conceito de custo-efetividade, segundo Vieira, deve ser levado em consideração pelas prestadoras de serviço. Ele destaca que uma das apostas da indústria farmacêutica é a terapia gênica, em que o medicamento ataca mutações específicas do câncer e não mata células saudáveis. Apesar do alto custo desses medicamentos, o uso deles pode significar menores tempo de internação e efeitos colaterais - ou seja, menos gastos.
“Foi oferecido para o paciente o melhor medicamento disponível? Se há duas drogas com a mesma eficiência, foi oferecida a mais barata, ou a que tem menos efeitos colaterais? É preciso corrigir as rotas não só em oncologia, mas em outras patologias, e a inteligência artificial ajuda nisso”, afirma.