Ao mesmo tempo em que muda o prognóstico de muitas doenças e amplia a expectativa de vida, a inovação em saúde também eleva a pressão por soluções para o dilema do acesso aos novos tratamentos e medicamentos.
Um dos maiores desafios do setor é, justamente, encontrar caminhos para melhorar o processo de incorporação de novas tecnologias em saúde ajudando os gestores a tomarem melhores decisões. “Como em qualquer área, precisamos alocar os recursos da saúde de maneira que beneficiem o máximo possível de pessoas pelo máximo de tempo”, descreve o médico Stephen Doral Stefani, uma das principais lideranças do debate sobre o acesso à inovação no País. O oncologista trabalha há mais de duas décadas na área de regulação e é presidente do Capítulo Brasil da Sociedade Internacional de Farmacoeconomia e Estudos de Desfecho (ISPOR), e esteve à frente do 1º Lilly Access Connection, evento organizado pela Eli Lilly do Brasil para discutir esta e outras questões com gestores de saúde de todo o Brasil ao lado de outros especialistas na área.
O debate é complexo e envolve fatores como as mudanças de comportamento dos usuários do sistema de saúde, a custo-efetividade das tecnologias em saúde a longo prazo e as diferentes estratégias que podem aprimorar o acesso de medicamentos aos pacientes. “Nós não vamos conseguir tomar as decisões mais acertadas se não tivermos um sistema de mensuração de resultados mais efetivo. Precisamos dar um passo atrás para enxergar todas as perspectivas, uma vez que o recurso é o mesmo, e saber comparar as tecnologias entre si”, afirmou Stefani. 
Países como a Inglaterra, Canadá e Alemanha investiram na construção de critérios transparentes para realizar esse tipo de avaliação. Um deles é o cálculo do investimento a ser feito para dar um ano de vida ajustado por qualidade ao Indivíduo, conhecido pela sigla QALY em inglês (Quality-adjusted life year). O dado funciona como um denominador comum para todas as tecnologias, permitindo trabalhar com bases comparáveis, explicou o médico. 
Hospitais e grandes centros médicos brasileiros também avaliam meios para alavancar indicadores de qualidade e custeio com foco no que é valor para o paciente. “A pertinência do cuidado é atualmente o fator em que a gente mais pode otimizar o uso dos recursos no sistema de saúde”, disse Vanessa Teich, superintendente de Economia da Saúde do Hospital Israelita Albert Einstein, que foi convidada a compartilhar a sua experiência no 1º Lilly Access Connection. 
E como devem atuar as farmacêuticas nesse cenário? Uma das vias para destravar o processo é aumentar a participação das companhias em toda a cadeia de valor para solucionar as questões centrais no processo de incorporação tecnológica. Entre eles está a estimativa de quanto e de que modo a nova tecnologia ou medicamento oferecidos poderão impactar o orçamento de forma geral e quem são os pacientes que de fato melhor se beneficiam clinicamente pelo uso de determinada tecnologia. “Essas respostas precisam chegar mais prontas a quem decide”, pontua o especialista Stefani. 
Na visão da presidente e gerente geral da Eli Lilly Brasil, Karla Alcázar, “é papel da indústria farmacêutica o trabalho conjunto com outras empresas do mesmo setor, a fim de oferecer uma estratégia global de melhor acesso aos medicamentos, o desenvolvimento de pesquisas clínicas e disseminação científica, educação médica continuada e geração de estudos farmacoeconômicos robustos”. 
 
Ela defende que as companhias devem trabalhar em parceria com agências governamentais e reguladoras, além de apoiar esforços educacionais internacionais, como os que têm sido feitos pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e pela Associação Mundial de Profissionais de Saúde.
A maior valorização da área de Acesso da companhia é fruto desta compreensão. “Os profissionais desta divisão, hoje vital para a companhia, buscam opções financeiramente viáveis para que os nossos medicamentos inovadores cheguem aos pacientes corretos, nos locais adequados e no momento certo. O foco das soluções que elaboramos está nas necessidades dos pacientes e na sustentabilidade do sistema”, define Karla.
Nessa linha, a empresa desenvolveu também um programa educacional para pacientes, educadores e profissionais da saúde para dar suporte à utilização dos medicamentos e gerenciamento dos sintomas.
Mais um aspecto valioso para a maior integração reside em fazer a implementação e o desenvolvimento por etapas, envolvendo operadores, prestadores e também empresas, como explica Fábio Rocha, outro convidado do evento sobre acesso promovido pela Eli Lilly. Rocha é diretor de marketing e operações do Instituto Brasileiro de Valor em Saúde (IBRAVS). Uma das lições dos países que mais avançaram em termos de incorporação tecnológica e acesso é, justamente, envolver todos os segmentos no debate.
Desafios da atualidade
Atualmente, o desafio é encontrar meios de colocar em prática ideias que melhorem os processos de incorporação tecnológica com a perspectiva da sustentabilidade do sistema.
Como lançar bases sólidas para essa transformação? Na visão dos especialistas, o caminho passa por algumas ações prioritárias. “Para garantir que a gente se preocupe com a sustentabilidade sem perder de vista o foco no paciente, precisamos ter informações básicas de desfecho – e não estou falando de implementar do zero um ‘supersistema’ de desfecho. Estou falando de informações básicas de mortalidade, reinternação e complicações intrahospitalares, que não temos de forma sistemática e que não são conhecidas dos beneficiários”, sinaliza Vanessa Teich.
A abordagem de Teich é igualmente precisa em relação à implementação de novos modelos de remuneração, um ponto fundamental para o futuro da saúde. “Mesmo antes de mudar modelo de remuneração, acho que seria até mais importante saber que existem protocolos que estão sendo seguidos e conseguir medir algum tipo de desfecho relacionado ao paciente.”
Além disso, a experiência dos países que mais avançaram na discussão da incorporação tecnológica está mostrando a necessidade de criar meios para engajar todos os players no debate. 
 
O médico Stephen Stefani investe nessa proposta. Ele promove sistematicamente reuniões semanais entre colegas oncologistas, empresas e operadoras para discutir incorporações e quanto cada tecnologia proposta impactaria o orçamento.
"Essa discussão é fundamental para chegar na razoabilidade do que procuramos", diz o médico. Razoabilidade é um termo do universo jurídico relativo a bom senso e proporcionalidade.
A Lilly, por sua vez, continua investindo em soluções integradas e que gerem valor para os tomadores de decisão, além de eventos e uma plataforma digital.