Experiência, objetividade e conhecimento dos padrões de acreditação. Esses são os fatores apontados pela gerente da Qualidade do Vera Cruz Hospital (Campinas-SP) como fundamentais para alcançar a excelência em saúde. De acordo com Cláudia Matias, “a parceria com o Consórcio Brasileiro de Acreditação (CBA) encurtou o caminho para a conquista da acreditação Joint Commission International (JCI). Os educadores do CBA mostraram e sugeriram o caminho, sem serem prescritivos”.
Diretor técnico médico do Vera Cruz, Gabriel Redondano, afirma que o hospital não buscava apenas um selo, mas construir uma jornada que equiparasse a instituição aos principais hospitais de referência do mundo. “Queríamos fortalecer a cultura de qualidade e segurança centrada no paciente. E identificamos no CBA o parceiro ideal para essa jornada rumo à excelência”, complementa.
Para alcançar o objetivo, foram organizados grupos de trabalho com formação multiprofissional, para debater sobre os capítulos do manual de acreditação da JCI. Cada turma teve autonomia para buscar as melhorias conforme os padrões da publicação. Para isso, lançou-se mão de variadas metodologias ativas, como o ‘master chef’ de metas, o Cine Vera Flix e a criação de crachá com QR Code para cartilha de metas e protocolos na inteligência artificial interna, com perguntas e respostas para esclarecimentos de dúvidas. “Reuniões mensais também foram realizadas para levantar os pontos que precisavam de apoio dos outros grupos, lideranças e áreas do hospital, sempre contando com o direcionamento dos educadores do CBA”, conta o diretor.
O trabalho integrado do time do hospital com a equipe do CBA resultou em diversos benefícios para os colaboradores e, em especial, para os pacientes: melhor organização, segurança, descrição e redução dos documentos obrigatórios; maior engajamento do corpo clínico; implantação de comitê para verificação da instalação e manutenção predial com reuniões periódicas mensais; melhoria da performance das linhas de cuidado em AVC e infarto; melhoria da segurança e prescrição medicamentosa, entre outros.
Outros resultados
Redondano afirma que a acreditação JCI melhorou diversos índices do hospital: “Diminuímos a taxa de infecção de sítio cirúrgico, nosso índice de reinternação caiu de 4,5% para 1,2%. Destacamos o indicador de incidência de queda com dano, cuja taxa foi de 0,2 para cada 1000 pacientes-dia; o indicador de profilaxia de Tromboembolismo Venoso, cuja taxa foi 99,5% de realização da profilaxia; e o indicador de infecção do trato urinário associada ao cateter vesical de demora, cuja taxa foi de 1,5 para cada 1.000 pacientes CVD-dia e tivemos ainda um ganho na Governança Clínica.” O diretor também ressaltou que a cadeia medicamentosa foi toda revista (fornecedor, armazenamento, cuidados com medicamentos multidoses). “Atualmente, temos uma sala de preparação de insulina na UTI, por exemplo. Os medicamentos de alta vigilância são direcionados ao andar em maletas com lacre e identificação, dificultando o acesso indevido a medicamentos como antibióticos e outros. No centro cirúrgico, houve mudança na administração de psicotrópicos. Hoje, o próprio anestesista é quem retira o medicamento, prepara, descarta ou retorna com o mesmo para farmácia, tudo da forma preconizada. Temos total controle do caminho do medicamento”, complementa. “Criamos um protocolo de cuidados voltado à alta segura do paciente, garantindo a educação e a administração medicamentosa correta, uma preocupação do hospital com a continuidade do cuidado”, observa Cláudia Matias.
Dor como sinal vital e plataforma com trilhas de educação
Apontado como diferencial, Redondano salienta a importância do protocolo da dor. “Conseguimos o reconhecimento da dor como o quinto sinal vital por nossos profissionais. Também atuamos para que nossos pacientes tivessem o conhecimento e letramento de que dor não é algo bom. Com isso, melhor acolhemos os pacientes. Hoje, quando mensuramos o índice de satisfação do paciente internado pré e pós-acreditação, ele é imensamente maior. E atribuímos isso muito ao fato do reconhecimento da dor como um sinal vital”, compreende.
O diretor técnico médico salienta que a criação da plataforma educacional online voltada para todo o time do hospital é fundamental para incentivar a cultura de segurança implementada no Vera Cruz. “Oferecemos trilhas de educação com cursos obrigatórios e opcionais sobre cuidados assistenciais, higienização das mãos, riscos de infecção até abandono do prédio em caso de incêndio, prontuário eletrônico, entre outros. Com isso, acompanhamos a adesão e a melhoria da qualidade. Também realizamos reuniões online com o corpo clínico para explicar o que chamamos de segmentação médica, como a importância da adesão à plataforma, a alta no horário adequado, à satisfação do paciente em relação ao atendimento médico (NPS), a participação dos médicos em eventos científicos e treinamentos (objetivando a melhoria da capacitação). Um exemplo foi a simulação de treinamento de múltiplas vítimas, que proporcionou a melhoria dos nossos protocolos. Assim, conseguimos ‘abraçar’ os profissionais que estão chegando”, sublinha Redondano.
Esse investimento na cultura de segurança centrada no paciente levou a protocolos de cuidados diversos, inclusive para pacientes vulneráveis que necessitam de atendimento diferenciado. De acordo com Gabriel Redondano, todos os pacientes são acolhidos com os melhores cuidados no Vera Cruz Hospital. “Desde a entrada, esse paciente tem uma identificação diferenciada na pulseira. Todo o hospital é treinado para reconhecer que o paciente necessita de cuidados especiais. Temos vários protocolos personalizados, com horário de visita diferenciado, cuidados humanizados, acompanhamento multidisciplinar, internação que identifique as necessidades especiais (física, psíquica, religiosa). A conscientização de todos é fundamental”.
Heleno Costa Júnior, superintendente do CBA, disse que o Hospital se destacou na conquista da acreditação JCI. “Fizemos visitas educativas em que aplicamos rastreadores que confirmam que as melhorias foram realizadas ‘na ponta’, ou seja, pelos profissionais que cuidam diretamente do paciente e o retorno foi bastante positivo. O que mostra que o sistema foi bem implantado no hospital”.
O diretor técnico médico assegura que a cocriação de protocolos de segurança e qualidade com a equipe do CBA ajudou o hospital a dar um salto na qualidade. “O comprometimento do CBA com a cultura da qualidade do nosso hospital foi tão grande que não parecia estarmos lidando com uma organização externa e sim com um outro departamento do hospital”, diz ele. Gabriel Redondano resumiu sua visão atual da instituição: “O Vera Cruz é um hospital que sempre sonhamos trabalhar e que iríamos optar, como paciente”.