Pressionados pelo aumento dos custos e pela dificuldade de conter desperdícios, os planos de saúde brasileiros estão enfrentando o descontrole da sinistralidade, o que impacta diretamente em reajustes e em acessibilidade. A operadora Alice, no entanto, caminha na contramão do setor com um modelo de gestão de saúde proativa, baseado na atenção primária, coordenação de cuidado e em tecnologia proprietária.
Em 2024, a Alice ultrapassou a marca de 40 mil membros e teve aumento de quase 70% na receita, chegando a R$ 350 milhões. Além disso, reduziu a sinistralidade caixa em 9 pontos percentuais, atingindo cerca de 60% no segmento corporativo.
A sinistralidade se refere à relação entre as despesas e a receita das operadoras. “O reajuste é aplicado para compensar o uso do plano quando a utilização excede o esperado. “O problema é que o sistema é complexo, o que torna mais difícil para as pessoas cuidar da saúde. Isso gera uma experiência ruim e contribui para maiores custos, que voltam para as pessoas em forma de reajustes exorbitantes”, diz André Florence, cofundador e CEO da Alice.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima um desperdício de 20% a 40% no setor. Para Florence, é possível solucionar esse problema com ações de promoção e prevenção, além da ampliação do modelo desenvolvido pela operadora."Nossa abordagem entrega mais saúde enquanto reduz desperdícios. Um exemplo é a diminuição da frequência de uso do pronto-socorro, que na Alice é 30% inferior à média de mercado. Isso é possível, dentre outros motivos, porque nosso modelo viabiliza um pronto-atendimento digital que resolve 80% das demandas de saúde dos nossos membros, gerando também uma melhor experiência – nosso índice de satisfação dele é de 4.8 pontos numa escala de 5", afirma Florence.
Os resultados positivos culminaram na captação de US$ 22 milhões em uma extensão da rodada Série C, realizada em dezembro de 2021. O investimento será direcionado pela empresa para fortalecer sua posição de caixa e para escalar o crescimento de sua base de clientes corporativos para empresas de 500 a 1.000 vidas.
O capital chega em um momento de consolidação da Alice como solução de destaque no mercado corporativo: desde meados de 2023, a operadora saltou de 300 para mais de 12 mil empresas clientes; no ano passado, aumentou em 450% o número de membros B2B e conquistou renovação de 100% dos contratos com 30 ou mais vidas. Para 2025, a meta é alcançar 70 mil membros e R$ 600 milhões em receita.
Eficiência e confiança
O CEO explica que a atenção primária da operadora serve como porta de entrada para 70% dos membros, mesmo não sendo obrigatória. “A partir dela, conseguimos ajudar a pessoa a navegar pelo sistema de uma maneira mais fácil e assertiva. Assim, conseguimos entregar mais saúde aos nossos membros, ao mesmo tempo em que reduzimos custos; não por barrar procedimentos, mas, sim, por oferecer o cuidado correto".
Além do impacto na sinistralidade, os dados de desfecho de saúde demonstram os benefícios dessa abordagem. Segundo a empresa, 80% da população-alvo realizou o rastreamento de câncer do colo do útero, 91% dos bebês de até um ano fizeram pelo menos seis consultas pediátricas e 98% estão com a vacinação em dia. Além disso, 90% das gestantes realizaram pelo menos seis consultas de pré-natal, e 55% dos partos foram vaginais, muito acima da média nacional de 18%, segundo a Agência Nacional de Saúde Suplementar. Os números também são positivos em relação a doenças crônicas: 68% dos membros com diabetes mantêm a hemoglobina glicada controlada – um número superior ao de benchmarks internacionais como os EUA (51%).
"Acreditamos que ainda há muito a transformar na saúde suplementar no Brasil. Nosso objetivo é recriar o sistema e a forma como as pessoas acessam e vivenciam a saúde, inspirando uma mudança em todo o setor", reforça o executivo.