Em um feito que combina tecnologia, ciência e propósito social, a Unimed realizou a primeira telecirurgia robótica da América Latina utilizando rede pública de internet, conectando médicos e pacientes separados por mais de 3 mil quilômetros. O projeto, apresentado por Gualter Ramalho, diretor de Mercado e Marketing da Unimed do Brasil, representa um marco na história da medicina brasileira — e inaugura uma nova etapa de inclusão cirúrgica mediada por tecnologia.
O experimento foi resultado de três meses de trabalho e planejamento. Entre agosto e outubro de 2025, a equipe realizou três cirurgias progressivas, com distâncias e complexidades crescentes. A primeira, entre dois pontos separados por 500 quilômetros, obteve latência de apenas 0,01 segundo — um desempenho superior aos padrões globais.
Em setembro, a segunda etapa conectou o cirurgião em João Pessoa a um paciente em Curitiba, separados fisicamente por mais de 12 mil quilômetros (ou 31 mil quilômetros de cabeamento óptico), com resposta de 0,02 segundo. O terceiro ato, em outubro, foi transmitido ao vivo, unindo as duas cidades a uma distância de 3.200 quilômetros e consolidando a primeira telecirurgia robótica da América Latina feita com internet convencional.
Diferentemente dos protocolos internacionais, que normalmente exigem redes privadas e conexões dedicadas, a experiência da Unimed utilizou internet pública — ou “não dedicada”, ou seja, a mesma rede comercial disponível a qualquer usuário. A opção por essa estrutura teve caráter estratégico: testar a viabilidade de uma cirurgia robótica remota segura e de alta precisão com infraestrutura acessível, condição essencial para expandir o modelo a diferentes regiões do país.
O projeto marca o início de uma era em que a cirurgia se torna inclusiva e acessível, rompendo barreiras geográficas e sociais, segundo Ramalho. Em palestra no RD Summit, o executivo destacou como a tecnologia robótica vem evoluindo rapidamente — de procedimentos abertos para cirurgias endoscópicas e, agora, para o controle remoto via robô.
A inovação amplia a precisão cirúrgica, reduz o desgaste físico do cirurgião e permite que especialistas experientes atuem mesmo à distância, estendendo o alcance do conhecimento médico.
Mais do que um marco técnico, o projeto foi concebido com viés humanitário e educacional. “Estamos falando de uma solução social mediada por tecnologia”, afirmou o executivo. “Nosso objetivo é levar esse modelo de excelência para qualquer cidadão brasileiro, incluindo populações ribeirinhas e comunidades do interior, que hoje não têm acesso a esse tipo de assistência”, ressaltou.
Para sustentar o avanço, a Unimed criou um comitê científico e técnico (CET) voltado à pesquisa clínica aplicada, certificação profissional e controle de qualidade. Esse grupo é responsável por supervisionar os protocolos de segurança, garantir a regularização junto às autoridades sanitárias e disseminar boas práticas.
“A capacitação é a principal barreira para disseminar a tecnologia”, ressaltou Ramalho, lembrando que a educação médica continuada é parte da essência cooperativista da Unimed.
Em paralelo, um comitê de negócios foi formado para estruturar um modelo sustentável e multimarcas, permitindo parcerias com empresas privadas sem vínculo exclusivo com fornecedores de tecnologia. O propósito, segundo Ramalho, é assegurar que o projeto permaneça acessível e replicável, com base em um modelo de cooperação e adesão espontânea.
O alcance do sistema Unimed confere musculatura ao projeto. São 340 cooperativas, 170 hospitais e 116 movimentos em atividade, além de uma base que realiza 665 milhões de procedimentos por ano, presente em 39% dos municípios brasileiros. Essa estrutura é vista como diferencial para escalar a cirurgia robótica e transformá-la em um serviço acessível e de impacto nacional.
Durante os testes, o desempenho técnico foi considerado excepcional: largura de banda superior a 100 megabytes, perda de imagem e áudio zero e latência mínima entre o comando do console e a resposta do robô. Ramalho afirmou que não houve delay perceptível.
“O cirurgião estava no quarto, o paciente em outra cidade, e a resposta era imediata. É uma demonstração concreta de que a excelência científica pode ser democratizada com recursos existentes”, explicou.
O projeto envolveu 42 profissionais, entre médicos, engenheiros, técnicos e especialistas em conectividade, e contou com quatro empresas parceiras, responsáveis pela infraestrutura e validação técnica. Cada etapa foi documentada e publicada para fins de transparência e validação científica.
A experiência também inaugura uma nova fase no posicionamento do país no campo da inovação em saúde. “O Brasil deixa de ser apenas consumidor e passa a ser exportador de tecnologia médica”, afirmou Ramalho. A iniciativa da Unimed pode abrir caminho para cooperações internacionais, com médicos de diferentes países atuando juntos em tempo real — um modelo de cuidado transnacional e colaborativo.
No centro dessa transformação, Ramalho reforçou que a humanização segue sendo o valor norteador da medicina, mesmo em meio ao avanço tecnológico. “O olhar, a escolha e o contato humano são insubstituíveis. Mas a tecnologia pode ampliar esse olhar, levar cuidado e acolhimento — o nosso ‘colo humanitário’ — a quem antes estava distante de qualquer possibilidade de acesso”, pontuou.
O programa de cirurgia robótica remota da Unimed se consolida, assim, como uma das iniciativas mais ousadas de inclusão tecnológica na saúde brasileira. Não voltado apenas ao setor suplementar, o projeto pretende beneficiar todo o sistema, público e privado, levando excelência cirúrgica e conhecimento médico especializado a localidades onde a distância costumava ser uma sentença de desassistência.
Para Ramalho, trata-se do início de uma revolução silenciosa.
“Estamos inaugurando uma era de telecirurgia inclusiva, em que a tecnologia serve como ponte entre o saber médico e o cidadão. É a prova de que inovação e humanização não são opostos — são complementares”, finalizou.