Em condição de anonimato, outros gestores apontam uma série de dificuldades para a Hapvida do ponto de vista dos fundamentos. Na visão deles, há desafios da empresa para crescer e ganhar participação de mercado, em meio a um negócio no qual a população já exibe dificuldades para arcar com os custos de ter um plano de saúde. “É um jogo de rouba monte. Para ganhar contratos corporativos de alguém, precisa acabar cedendo em alguns pontos que são cruciais. Parece uma estratégia perigosa”, aponta um deles.
Há também a dificuldade inerente no setor em lidar com tratamentos de alto custo para os pacientes, à medida que as operadoras vêm sofrendo derrotas na justiça. “Se você tem um ticket mais alto, há um pouco mais de margem de manobra para lidar com esses custos, já que o que você recebe é mais gordo. E a Hapvida tem um ticket mais baixo”, aponta outro.
Os fatores negativos citados acima apareceram no balanço, segundo um profissional de gestão, mas deveriam representar uma queda nas ações entre 15% e 20%, à medida que as dificuldades da companhia ficam cada vez mais claras para o mercado.
O restante do tombo, para ele, é fruto do esgotamento dos investidores com as promessas da companhia em entregar seus resultados e que nunca se concretizam. “É a zerada [encerramento de posições] da raiva. O cara pensa: eu quero deixar de ser sócio dessa empresa. E vou fazer isso a qualquer preço”, afirma.
Segundo este interlocutor, os outros 20% na queda das ações ocorrem pela maneira com que a empresa vêm tratando os minoritários nos últimos anos. “Eles pagaram um preço absurdo na Intermedica em 2022 e disseram que iam demorar 3 anos para colher bilhões em sinergia. Essa foi a orientação para o mercado. Não devem ter capturado algumas centenas de milhões de reais em sinergia ainda. Toda vez diziam uma coisa e acontecia outra”, afirma.
“Se essa empresa está sendo negociada a 8 vezes o lucro após o tombo, eu acho completamente justo. Está cheio de empresas boa na bolsa a 10 vezes o lucro, com perspectiva de crescimento e a casa organizada. Pelo risco de governança e o histórico de péssima comunicação com o mercado, o preço novo é totalmente justo. Tanto que a ação não subiu no dia seguinte e caiu de novo. Vai demorar muito tempo para a companhia recuperar a credibilidade com o mercado”, afirma o profissional, que não tinha exposição no papel.
Na quinta-feira, um dia após a divulgação do balanço da companhia, as ações fecharam em queda de 42,21%, negociadas a R$ 18,89. Na sexta-feira, os preços continuaram recuando e o papel caiu mais 5,82%, fechando o dia a R$ 17,79.
Profissionais apontam que, em meados de outubro, a Hapvida havia captado R$ 3,65 bilhões em debêntures, o que reforçou o caixa. Isso explica, em grande medida, o motivo de os títulos de dívida da empresa terem exibido um estresse muito menos relevante. A taxa indicativa da Anbima subiu de CDI+1,46% de antes da divulgação do balanço para algo perto de CDI+1,86% no fechamento desta sexta-feira.