Hapvida perde quase R$ 7 bilhões em valor de mercado após resultados fracos no 3º trimestre
17/11/2025
Hapvida, maior operadora com 16 milhões de usuários de planos de saúde e dental, perdeu quase R$ 7 bilhões em valor de mercado após seus papéis derreterem no pregão de ontem. Durante o dia, a queda chegou próximo de 50% e acabou fechando em 42%, depois que, segundo fontes, a família Pinheiro, fundadora da empresa, comprar um volume relevante de ações. 

Também chamou atenção o volume financeiro negociado no pregão, de R$ 2,3 bilhões, contra uma média de R$ 198 milhões (neste ano), e acima dos valores movimentados por grupos como Banco do BrasilBradesco e Vale.

Essa foi a maior queda da Hapvida desde sua abertura de capital, em 2018. Considerando todas as empresas do Ibovespa (carteira atual do índice), nesses últimos sete anos, a maior perda num único dia foi amargada pelo Pão de Açúcar, no dia 1º de março de 2021, quando caiu 65,84%, segundo levantamento do Valor Data. 


 

O tombo da Hapvida na bolsa veio após o resultado do terceiro trimestre vir muito abaixo do esperado pelo mercado em vários indicadores, provocando uma queima de caixa de R$ 52 milhões, no período. Houve uma quebra de confiança de investidores que achavam que a fase mais dura já teria passado. 

Um exemplo é a Squadra, que aumentou sua participação na Hapvida há menos de três meses. Na época, a gestora escreveu “olhando para frente, a boa notícia é que, aos preços atuais, acreditamos que o ativo oferece relação risco-retorno bastante atraente. Entendemos que a fase mais dolorosa da integração [com NotreDame Intermédica ] ficou para trás. Por isso, estamos aumentando nossa exposição.” 

A decepção foi rapidamente replicada pelos bancos. Ontem mesmo, J.P. Morgan, Citi e BTG reduziram o preço-alvo das ações do grupo e alguns deles baixaram também a recomendação do papel de compra para neutro. Os analistas dos bancos destacaram que indicadores como lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda), taxa de sinistralidade, inclusão de novos usuários e tíquete médio vieram abaixo das projeções que já não eram otimistas. 

“Números ainda bastante poluídos, com múltiplos efeitos positivos e negativos não recorrentes que continuam sinalizando tempos voláteis”, destaca Samuel Alves, do BTG. 

Segundo Jorge Pinheiro, CEO da Hapvida, a queima de caixa não voltará a se repetir no próximo trimestre. “Foi pontual. Tivemos impacto dos investimentos que estamos fazendo na nossa rede. Essa expansão vai trazer resultados positivos. Estamos olhando o longo prazo”, disse. 

A taxa de sinistralidade ficou em 75,6%, entre julho e setembro, o que representa um alta de 1,4 ponto percentual sobre um ano antes. Vinicius Figueiredo, do Itaú BBA, destaca que o desempenho do indicador não foi motivado apenas pelo uso maior do plano de saúde, mas também por fatores que não são necessariamente temporários como a expansão da rede própria. A companhia tem em andamento um investimento de R$ 2 bilhões em ampliação de hospitais. 

A operadora vive uma fase de ampliação dos serviços médicos, em especial em São Paulo, o que pode ser percebido em melhora de indicadores de reclamações, mas com um preço baixo e concorrência com operadoras como Amil que está com uma política agressiva de preços. “É um cenário desafiador, que manterá os resultados pressionados em 2026”, diz Joseph Giordano, analista do J.P. Morgan. 

Números ainda bastante poluídos continuam sinalizando tempos voláteis” 

— Samuel Alves 

 

Há uma preocupação que o aumento do custo médico, por usuário, por tempo prolongado pode, eventualmente, exigir uma nova aceleração do tíquete médio para que a empresa atinja metas de rentabilidade. 

Durante teleconferência realizada ontem, para analistas e investidores, Jorge Pinheiro, presidente da Hapvida, também informou que o reajuste médio em 2026 deve ser de 10%, mesmo patamar aplicado neste ano. 

Ao mesmo tempo que o tíquete médio está estabilizado, a base de usuários teve um incremento de apenas 12 mil vidas. O Itaú BBA destacou que sua projeção era de que esse número chegasse a 30 mil. Pinheiro disse que não está satisfeito com esses números e que a companhia trabalha para voltar a crescer com novos produtos e ajuda da tecnologia nos processos comerciais. 

O Ebitda ajustado ficou 30% abaixo das estimativas do J.P. Morgan. A margem do respectivo indicador também caiu 0,8 ponto percentual para 9,6%, no trimestre. E, as expectativas não são otimistas no curto prazo. A companhia informou que a margem Ebitda projetada não será alcançada dentro do prazo inicialmente planejado. 

Outro ponto negativo foi a linha de ressarcimento SUS cobrada pela Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS). Quando uma pessoa com plano de saúde usa a rede pública, a operadora precisa ressarcir o SUS. O impacto dessa conta na queima de caixa foi de R$ 74 milhões. Havia uma visibilidade dos analistas que essa conta estava melhor controlada, mas a Hapvida explicou, ontem, que o órgão regulador acelerou essa cobrança e que esse movimento continuará por pelo menos um ano. 

Ontem, a Hapvida informou ao mercado que ampliou seu programa de recompra de ações de 20 milhões para 70 milhões. 

Questionada pela reportagem sobre a compra de papéis pela família Pinheiro, a Hapvida não comentou. (Colaboraram Felipe Laurance e Vinícius Lucena) 

 





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