Cibersegurança na saúde: o maior risco é humano – e nenhum hospital está totalmente preparado
17/11/2025

No dia 13 de novembro, a Anahp realizou mais uma edição da Jornada Digital “Inovação e Tecnologia”, que acontece durante o mês em parceria com a Invisual, e abordou um dos temas mais sensíveis e estratégicos da transformação digital: a segurança cibernética em hospitais.

Em um cenário de ameaças crescentes, ataques sofisticados e impacto direto na assistência, o debate reuniu lideranças com experiência prática em proteger ambientes digitais críticos.

Participaram do encontro:

  • Leandro Ribeiro, gerente de Segurança da Informação do Hospital Sírio-Libanês
  • Vitor Ferreira, CIO do Sabará Hospital Infantil
  • Wellington Pimentel, diretor de Infraestrutura e Segurança da Informação da Hospital Care
  • Thiago Abreu, gerente de Tecnologia da Informação do Hospital Moinhos de Vento (moderação)

O debate mostrou que nenhuma instituição está totalmente preparada, que o fator humano é o ponto mais vulnerável e que a cibersegurança tronou-se uma questão de continuidade assistencial, reputação e sobrevivência do negócio.

Confira os principais pontos do debate:

O cenário atual: ameaças crescentes e impacto direto na assistência

As equipes de TI e segurança convivem com uma pressão que exige atenção permanente, decisões rápidas e responsabilidade assistencial direta.

A cada dia surge uma nova ameaça, e a operação não tem margem nenhuma.” — Thiago Abreu

As ameaças são cada vez mais sofisticadas, o volume de tentativas aumentou, ataques ficam mais silenciosos e incidentes podem paralisar unidades inteiras.

O criminoso trabalha muito mais rápido do que quem está tentando proteger.” — Leandro Ribeiro

O consenso é de que nenhum hospital brasileiro está totalmente preparado. As ameaças evoluem constantemente e a saúde opera com restrições de investimento e altíssima complexidade.

Cibersegurança não é tecnologia: é continuidade assistencial

A segurança cibernética deixou de ser um projeto técnico e é preciso uma mudança de mentalidade para isso.

Cibersegurança é continuidade assistencial; envolve todas as áreas do hospital.” — Vitor Ferreira

Com hospitais hiperconectados, interrupções prolongadas geram perdas financeiras e riscos assistenciais reais. Paralisam setores essenciais, comprometem prontuários, impactam condutas e afetam diretamente desfechos clínicos.

Três perguntas que definem o grau de prontidão

Antes de falar em tecnologia, um hospital precisa responder a três perguntas estruturantes:

  1. Existe um processo estruturado de gestão de riscos cibernéticos?
  2. O BIA (Business Impact Analysis) foi realizado no último ano e apresentado ao conselho?
  3. A instituição possui estudo atuarial que quantifica o impacto financeiro de um incidente?

Se uma dessas respostas for ‘não’, a instituição não está preparada.” — Wellington Pimentel

Essas perguntas mostram que segurança não se resolve comprando ferramentas; ela se constrói com governança, priorização e responsabilidade compartilhada.

O maior risco está no comportamento das pessoas

O maior vetor de risco é humano. Mesmo com treinamentos, políticas e alertas, comportamentos inseguros persistem: cliques impulsivos, compartilhamento de credenciais, senhas expostas, anexos suspeitos.

Não adianta ter o melhor antivírus se o colaborador clica em qualquer link.” — Wellington Pimentel

O painel também discutiu a origem desses comportamentos e apontou o excesso de pressão assistencial, poucos equipamentos por turno, processos mal estruturados e sistemas que não acompanham o ritmo da operação.

O skill gap: maturidade exige especialistas, e eles são raros

Outro ponto decisivo é a falta de profissionais especializados em segurança da informação com experiência em saúde.

Sem especialistas, podemos comprar todas as ferramentas e, mesmo assim, não proteger o hospital.” — Leandro Ribeiro

A competição com o setor financeiro agrava o problema, pois os bancos atraem os melhores perfis, pagam mais e têm estruturas muito mais maduras. Isso estende a jornada de maturidade e, para construir governança, processos, incident response e monitoramento, são necessários anos de trabalho e pessoas dedicadas.

Legado tecnológico e baixa interoperabilidade interna

Mesmo instituições grandes convivem com infraestrutura legada e processos que não acompanharam o avanço digital:

  • sistemas antigos sem atualização
  • dispositivos médicos vulneráveis
  • integrações frágeis
  • silos de informação
  • falta de inventário completo de ativos
  • dificuldade de padronizar acessos e identidades

Enquanto tecnologia for vista como custo, a segurança não avança.” — Vitor Ferreira

Os especialistas reforçaram que a insuficiência de investimento cria um círculo vicioso: ambientes frágeis estimulam atalhos; atalhos geram brechas; brechas viram incidentes.

Como medir maturidade e comunicar ao board

Para transformar segurança em prioridade estratégica, o hospital precisa medir, comparar e traduzir riscos. Entre os indicadores destacados:

  • percentual de colaboradores treinados
  • taxa de cliques nas campanhas de phishing
  • tentativas de invasão bloqueadas
  • incidentes registrados
  • e-mails maliciosos filtrados
  • vulnerabilidades críticas abertas
  • dependência de sistemas legados

O board precisa ver números reais, não percepções.” — Leandro Ribeiro

Modelos como NIST, ISO 27001 e níveis de maturidade (CMM) foram citados como referências viáveis e de fácil adoção. Eles permitem que os gestores entendam o impacto de cada decisão e priorizem investimentos financeiro, humano e tecnológico.

Cibersegurança não pode ser “a área do não”

Um ponto sensível é a relação com o usuário final. A segurança precisa ser percebida como viabilizadora, e não como obstáculo.

O ‘não’ só aparece quando não existe alternativa segura e deve ser uma decisão institucional, não da TI.” — Wellington Pimentel

Explicar o porquê, trazer exemplos reais, propor caminhos alternativos e estar presente nos setores faz diferença. O usuário só adere se compreende o impacto assistencial, não apenas o técnico.

Conclusão

A Jornada Digital mostrou que cibersegurança não é projeto, ferramenta ou modismo, mas estratégia institucional, continuidade assistencial e cultura. E, como reforçaram os líderes, trata-se de uma jornada longa, que exige:

  • governança forte
  • investimento consistente
  • equipes capacitadas
  • processos maduros
  • comunicação clara
  • gestão de riscos
  • colaboração entre instituições

Estamos todos debaixo da mesma tempestade e precisamos nos ajudar.” — Vitor Ferreira

 

Fonte: Anahp




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