Sistema de saúde do país pode ter salto de qualidade com IA, mas há obstáculos a superar
28/11/2025

O uso da inteligência artificial em escala promete um salto de qualidade no sistema de saúde brasileiro. Aplicações dessa tecnologia já estão ajudando os profissionais a prever riscos ao paciente, fazer detecção precoce de doenças, aumentar a acurácia dos diagnósticos e personalizar tratamentos. Também contribuem para reduzir o tempo de realização de exames e melhorar a gestão. No entanto, sua disseminação ainda enfrenta obstáculos como a escassez de profissionais qualificados, a baixa maturidade da governança regulatória e a pouca integração de dados. 

Em articulação com o Plano Brasileiro de Inteligência Artificial (PBIA), o Ministério da Saúde (MS) tem fomentado o uso de IA via programa SUS Digital. Entre as ações previstas estão o prontuário falado, que automatiza a transcrição de teleconsultas, aplicações na saúde bucal, no cuidado com idosos e na medicina de precisão. “A arquitetura de interoperabilidade dada pela Rede Nacional de Dados em Saúde (RNDS) está permitindo que o Ministério da Saúde desenvolva um modelo maduro de governança de dados, preparando o SUS para o uso seguro, ético e com qualidade da IA”, afirma a secretária de Informação e Saúde Digital do ministério, Ana Estela Haddad. 

Outra frente de atuação é a Rede Nacional de Hospitais e Serviços Inteligentes, que prevê o investimento de R$ 1,7 bilhão na criação de 14 UTIs digitalizadas e do primeiro hospital inteligente do SUS. Ele funcionará em um novo prédio construído onde hoje é a sede da Secretaria Estadual de Saúde do Estado de São Paulo, integrado ao complexo do Hospital das Clínicas da USP. O tratamento poderá começar ainda na ambulância, com os sinais vitais e o histórico do paciente sendo monitorados e consultados remotamente. A rapidez nos primeiros momentos reduz complicações e mortes. 

Há ainda um longo caminho a percorrer, como sugere um estudo divulgado em 2024 pelo Centro Regional de Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade da Informação (Cetic.br): dos 2 mil estabelecimentos de saúde consultados no Brasil, apenas 4% fizeram uso institucional de IA no ano anterior. Em uma amostra de 2 mil entrevistas com profissionais da área, essas ferramentas digitais foram empregadas no trabalho por 17% dos médicos e 16% dos enfermeiros. 

A tecnologia nos devolve tempo clínico ao antecipar problemas” 

— Leonardo Vedolin 

No setor privado, grandes redes de saúde aceleram a mudança de um modelo reativo para a medicina de precisão. “A radiologia foi a pioneira, mas hoje a IA permeia todo o nosso fluxo de trabalho, da triagem inteligente no agendamento à priorização de laudos graves”, conta o diretor de medicina diagnóstica do Hospital Israelita Albert Einstein, Marcos Queiroz. Na instituição, o uso de algoritmos reduziu o tempo de uma ressonância magnética de 40 minutos para apenas 7 e personalizou a dose de radiação em tomografias. 

 

“A tecnologia nos devolve tempo clínico quando permite antecipar problemas”, resume o vice-presidente médico da Dasa, Leonardo Vedolin. Cerca de 450 milhões de exames são processados anualmente pelos modelos da empresa, que emitem alertas preditivos se algum resultado demandar atenção imediata. “Essa inovação está salvando vidas”, diz. Na avaliação do executivo, o principal desafio é equilibrar velocidade da inovação com governança. 

A Rede Mater Dei de Saúde aposta na parceria com startups como a NeuralMed e a A3Data, comprada em 2021, para aprimorar seus serviços. Sua diretora de inovação e experiência do paciente, Lara Salvador Geo, destaca que a IA funciona como aliada sob supervisão humana. O grupo faz monitoramento ativo de câncer de pulmão e de mama com sistemas que apoiam a avaliação de imagens, rastreiam pacientes e emitem alertas personalizados para o agendamento de exames. Por meio de uma solução de inteligência de voz, as conversas clínicas são transcritas em tempo real para o prontuário. 

Outro impacto da IA na saúde acontece na gestão de risco corporativo. A multinacional britânica Aon desenvolveu ferramenta pre que identifica riscos financeiros futuros a partir da premissa de que 1% dos colaboradores podem representar até 40% do gasto médico de uma organização. Segundo a empresa, mais da metade dos casos de alto custo podem ser identificados antes que ocorram, de modo a permitir intervenções preventivas de forma anonimizada. 





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