Inteligência Artificial na saúde: promessa ou transformação estratégica real?
02/12/2025

No dia 27 de novembro, a Anahp encerrou a Jornada Digital de novembro – realizada em parceria com a Invisual com o tema “inovação e tecnologia” – discutindo como a inteligência artificial está redesenhando a gestão, os processos e a cultura do setor de saúde. Líderes que vivem a IA no cotidiano dos hospitais trouxeram uma avaliação concreta sobre maturidade digital, desafios organizacionais e o impacto real dessa tecnologia.

Participaram do encontro:

  • Gustavo Meirelles, vice-presidente médico da Afya, fundador da Comunidade Inovação em Saúde e copresidente do Instituto Afya
  • Rubens Barreto, CTO da Invisual e CIO do Grupo Santa
  • Victor Gadelha, Head de Educação, Pesquisa e Inovação da Dasa
  • Alex Vieira, CIO do Hcor e coordenador do GT de Tecnologia e Inovação da Anahp (moderação)

O debate mostrou que a IA já não é mais um experimento isolado, mas o setor ainda convive com baixa interoperabilidade, dificuldade de comprovar ROI e estruturas organizacionais que seguram o avanço tecnológico.

Principais pontos:

A IA já é operação, e a estratégia precisa alcançá-la

A IA deixou a fase de protótipo e hoje atua diretamente em frentes clínicas e administrativas. Na Dasa, houve inclusive reorganização de cadeiras corporativas para dar governança formal à IA. No Grupo Santa, projetos já operam de forma contínua há anos.

“A IA está deixando o nível tático e indo para a estratégia e, quando isso acontece, a organização precisa se redesenhar para colher resultado real.” – Victor Gadelha

IA não tem dono sem multidisciplinaridade, o projeto morre

Os participantes reforçaram que não existe transformação baseada em IA com soluções empurradas por uma única área. Projetos isolados não ganham adesão, não escalam e não geram valor.

“IA precisa de corresponsabilidade, precisa que cada área enxergue valor e assuma parte da construção.”— Gustavo Meirelles

Shadow AI: controlar sem sufocar

O uso de IA sem autorização formal – o shadow AI – é um sintoma de equipes que querem agilidade, mas encontram barreiras para inovar. Em vez de proibir, a resposta adequada é criar caminhos seguros.

“Shadow AI não é rebeldia, é sinal de que as pessoas querem trabalhar melhor, mas ainda não encontramos uma forma institucional de fazer isso com segurança.” — Rubens Barreto

Governança boa não é a que impede, é a que cria caminhos seguros para usar tecnologia com maturidade.” — Alex Vieira

O estigma do “feito por IA”: eficiência não é demérito

Ainda há resistência a conteúdos produzidos com IA, mas o problema real não está na ferramenta — está na falta de revisão, supervisão e critério.

“O cuidado não está em evitar a IA, mas em garantir que ela seja parte do processo, não a decisão final.” — Victor Gadelha

“O problema não é usar IA; o problema é usar sem revisar — quando falta supervisão humana, é a credibilidade do profissional, não da ferramenta, que entra em risco.” — Rubens Barreto

A habilidade decisiva não é técnica, é pensar melhor

A IA exige mais raciocínio crítico. O diferencial está na formulação de boas perguntas e na capacidade de interpretar respostas, não apenas dominar ferramentas.

“A pergunta certa vale mais do que a ferramenta certa — porque ela direciona a IA para onde está o problema real.” — Victor Gadelha

“A IA tira o pedreiro e transforma todos em arquitetos — mas o arquiteto precisa saber o que está desenhando, ou a construção não se sustenta.” — Gustavo Meirelles

Sem dados, não há IA: o setor ainda não tem o básico

A maior parte dos hospitais brasileiros ainda está distante do nível mínimo de interoperabilidade e integração de dados necessário para viabilizar IA de forma robusta.

Principais gargalos:

  • pouca integração entre sistemas assistenciais
  • prontuários fragmentados
  • dados despadronizados e pouco confiáveis
  • infraestrutura legada e frágeis mecanismos de interoperabilidade

“A maior barreira não é tecnológica — é estrutural. Sem dados unificados, qualquer projeto de IA vira esforço artesanal.” — Rubens Barreto

Provar ROI ainda é difícil e isso trava decisões

Mesmo com ganhos evidentes em eficiência operacional, muitos hospitais não possuem metodologia sólida para medir impacto financeiro da tecnologia, o que dificulta apresentar resultados ao board.

Entre os entraves citados:

  • ausência de métricas comparativas
  • pressão por resultados imediatos
  • pouca revisão pós-implementação
  • variáveis operacionais que distorcem análises

“A gente cobra margens altas, mas mantém mentalidade dos anos 90 — sem visão de valor acumulado, nenhum projeto prospera.” — Alex Vieira

Quando tecnologia vira estratégia, tudo muda — inclusive a cobrança

Instituições mais maduras já tratam tecnologia como parte essencial do negócio. Isso traz protagonismo, mas também aumenta a responsabilidade e o nível de entendimento que TI precisa ter da operação.

“Quando tecnologia vira estratégica, ela deixa de ‘servir’ o negócio e passa a compor o negócio.” — Victor Gadelha

Quando TI não entende o fluxo clínico, o hospital paralisa; ser estratégico exige conhecer a operação por dentro.” — Rubens Barreto

Cultura, autonomia e coragem: os fatores que realmente movem o ponteiro

Tecnologia só vira transformação se vier acompanhada de mudança cultural, espaço para testar e segurança psicológica para errar e ajustar. Sem isso, IA vira piloto eterno.

Requisitos destacados pelo painel:

  • lideranças que enxergam tecnologia como parte do negócio
  • autonomia para testar e iterar
  • governança que equilibra risco e velocidade

“Tecnologia precisa estar no board — sem isso, ela vira custo, não estratégia.” — Alex Vieira

“Cultura não muda com decreto — muda quando tecnologia faz parte do dia a dia e deixa de ser exceção.” — Rubens Barreto

Conclusão

A última edição da Jornada Digital de novembro mostrou que a inteligência artificial já opera em áreas críticas das instituições mais maduras — mas o salto para uma transformação estratégica só acontecerá com:

  • cultura multidisciplinar,
  • maturidade de dados e processos,
  • e lideranças capazes de integrar tecnologia à estratégia.

A IA não substituirá profissionais, mas pode substituir instituições que não souberem incorporá-la com visão, método e propósito.

Fonte: Anahp




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