No dia 27 de novembro, a Anahp encerrou a Jornada Digital de novembro – realizada em parceria com a Invisual com o tema “inovação e tecnologia” – discutindo como a inteligência artificial está redesenhando a gestão, os processos e a cultura do setor de saúde. Líderes que vivem a IA no cotidiano dos hospitais trouxeram uma avaliação concreta sobre maturidade digital, desafios organizacionais e o impacto real dessa tecnologia.
Participaram do encontro:
O debate mostrou que a IA já não é mais um experimento isolado, mas o setor ainda convive com baixa interoperabilidade, dificuldade de comprovar ROI e estruturas organizacionais que seguram o avanço tecnológico.
Principais pontos:
A IA deixou a fase de protótipo e hoje atua diretamente em frentes clínicas e administrativas. Na Dasa, houve inclusive reorganização de cadeiras corporativas para dar governança formal à IA. No Grupo Santa, projetos já operam de forma contínua há anos.
“A IA está deixando o nível tático e indo para a estratégia e, quando isso acontece, a organização precisa se redesenhar para colher resultado real.” – Victor Gadelha
Os participantes reforçaram que não existe transformação baseada em IA com soluções empurradas por uma única área. Projetos isolados não ganham adesão, não escalam e não geram valor.
“IA precisa de corresponsabilidade, precisa que cada área enxergue valor e assuma parte da construção.”— Gustavo Meirelles
O uso de IA sem autorização formal – o shadow AI – é um sintoma de equipes que querem agilidade, mas encontram barreiras para inovar. Em vez de proibir, a resposta adequada é criar caminhos seguros.
“Shadow AI não é rebeldia, é sinal de que as pessoas querem trabalhar melhor, mas ainda não encontramos uma forma institucional de fazer isso com segurança.” — Rubens Barreto
“Governança boa não é a que impede, é a que cria caminhos seguros para usar tecnologia com maturidade.” — Alex Vieira
Ainda há resistência a conteúdos produzidos com IA, mas o problema real não está na ferramenta — está na falta de revisão, supervisão e critério.
“O cuidado não está em evitar a IA, mas em garantir que ela seja parte do processo, não a decisão final.” — Victor Gadelha
“O problema não é usar IA; o problema é usar sem revisar — quando falta supervisão humana, é a credibilidade do profissional, não da ferramenta, que entra em risco.” — Rubens Barreto
A IA exige mais raciocínio crítico. O diferencial está na formulação de boas perguntas e na capacidade de interpretar respostas, não apenas dominar ferramentas.
“A pergunta certa vale mais do que a ferramenta certa — porque ela direciona a IA para onde está o problema real.” — Victor Gadelha
“A IA tira o pedreiro e transforma todos em arquitetos — mas o arquiteto precisa saber o que está desenhando, ou a construção não se sustenta.” — Gustavo Meirelles
A maior parte dos hospitais brasileiros ainda está distante do nível mínimo de interoperabilidade e integração de dados necessário para viabilizar IA de forma robusta.
Principais gargalos:
“A maior barreira não é tecnológica — é estrutural. Sem dados unificados, qualquer projeto de IA vira esforço artesanal.” — Rubens Barreto
Mesmo com ganhos evidentes em eficiência operacional, muitos hospitais não possuem metodologia sólida para medir impacto financeiro da tecnologia, o que dificulta apresentar resultados ao board.
Entre os entraves citados:
“A gente cobra margens altas, mas mantém mentalidade dos anos 90 — sem visão de valor acumulado, nenhum projeto prospera.” — Alex Vieira
Instituições mais maduras já tratam tecnologia como parte essencial do negócio. Isso traz protagonismo, mas também aumenta a responsabilidade e o nível de entendimento que TI precisa ter da operação.
“Quando tecnologia vira estratégica, ela deixa de ‘servir’ o negócio e passa a compor o negócio.” — Victor Gadelha
“Quando TI não entende o fluxo clínico, o hospital paralisa; ser estratégico exige conhecer a operação por dentro.” — Rubens Barreto
Tecnologia só vira transformação se vier acompanhada de mudança cultural, espaço para testar e segurança psicológica para errar e ajustar. Sem isso, IA vira piloto eterno.
Requisitos destacados pelo painel:
“Tecnologia precisa estar no board — sem isso, ela vira custo, não estratégia.” — Alex Vieira
“Cultura não muda com decreto — muda quando tecnologia faz parte do dia a dia e deixa de ser exceção.” — Rubens Barreto
A última edição da Jornada Digital de novembro mostrou que a inteligência artificial já opera em áreas críticas das instituições mais maduras — mas o salto para uma transformação estratégica só acontecerá com:
A IA não substituirá profissionais, mas pode substituir instituições que não souberem incorporá-la com visão, método e propósito.