A crise da Hapvida entrou em fase crítica. A maior operadora de saúde do país voltou a desabar no mercado financeiro e passou a ser cobrada formalmente pela Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) para explicar seus balanços, agora desde 2024.
A medida ocorre após sucessivas revisões negativas de analistas dos principais bancos do país e forte deterioração dos indicadores financeiros.
A convocação coincide com o pior momento da empresa desde a fusão com a NotreDame Intermédica.
O valor de mercado, que já ultrapassou R$ 110 bilhões, caiu para menos de R$ 7 bilhões.
Por que a ANS está preocupada
– A Hapvida foi convocada a explicar resultados desde 2024 após deterioração dos indicadores financeiros e sucessivas quedas em bolsa.
– A agência monitora risco de descontinuidade assistencial, agravado por sinistralidade alta e queima de caixa.
– A operadora tem mais de 16 milhões de beneficiários, o que a coloca na categoria de risco sistêmico.
– Há preocupação com contratos públicos de grande porte no Norte, especialmente no Amazonas.
– Medidas extraordinárias podem ser adotadas caso a empresa não comprove capacidade de continuidade operacional.
No trimestre mais recente, quase R$ 7 bilhões evaporaram em um único dia de pregão, desencadeando preocupação regulatória sobre a capacidade da empresa de honrar contratos e garantir atendimento.
Sinistralidade explode e balanço decepciona
O desempenho do terceiro trimestre de 2025 frustrou o mercado.
Mesmo com lucro ajustado, os indicadores operacionais vieram deteriorados. A sinistralidade atingiu 75,2%, nível considerado insustentável pelos analistas do BTG Pactual, Citi e Itaú BBA, que revisaram projeções e alertaram para risco crescente de insolvência.
A fusão com a NotreDame, anunciada como estratégia de eficiência, não reduziu custos.
A empresa segue queimando caixa, com despesas hospitalares mais altas e queda de margem. O Ebitda ajustado recuou quase 18% em relação ao mesmo período do ano anterior.
Para os bancos, a empresa só evita um colapso operacional se conseguir uma reestruturação profunda, com corte de gastos, renegociação de contratos e recuperação da confiança do mercado.
Crise ameaça no Amazonas
O impacto é especialmente sensível no Norte, onde a Hapvida concentra grandes contratos públicos, como os servidores do Governo do Amazonas e o Manausmed, da Prefeitura de Manaus.
A piora do quadro financeiro amplia o risco de atrasos, suspensão de serviços e redução da rede credenciada, afetando milhares de famílias que dependem da saúde suplementar para consultas, exames e internações.
A convocação da ANS é vista como alerta institucional.
O órgão quer comprovação de que a empresa tem condições de manter sua carteira ativa, sob pena de medidas extraordinárias para evitar desassistência.
Cenário pessimista, risco de colapso
No pior cenário projetado pelos bancos, a Hapvida não consegue recuperar caixa, nem reduzir sinistralidade ou conter a fuga de investidores.
A consequência seria uma reestruturação forçada, com cortes de unidades, devolução de carteiras, interrupção de serviços e pressão direta sobre o SUS.
Para beneficiários da região Norte, onde a dependência da operadora é elevada, o colapso significaria perda imediata de cobertura privada e sobrecarga das redes públicas estaduais e municipais.
A ANS monitora o caso como risco sistêmico.
As respostas da empresa e os próximos balanços definirão se a crise estabiliza ou evolui para medidas mais duras por parte da agência.
O que dizem os bancos sobre a crise
– BTG Pactual, Citi e Itaú BBA classificaram o último balanço como fraco e abaixo das expectativas.
– A sinistralidade acima de 75% torna a operação deficitária e reduz a capacidade de geração de caixa.
– Bancos revisaram preços-alvo das ações para níveis mais baixos, indicando deterioração estrutural.
– A fusão com a NotreDame aumentou o peso das despesas, em vez de produzir as sinergias prometidas.
– Sem reestruturação profunda, analistas veem risco de dificuldades para cumprir obrigações e estabilizar o negócio.