A resistência antimicrobiana (RAM) é um dos maiores desafios da saúde moderna e também um dos mais silenciosos. De forma simples, ocorre quando microrganismos como bactérias, fungos e vírus passam a resistir aos medicamentos que antes eram eficazes. O resultado disso é alarmante: infecções mais difíceis de tratar, maior tempo de internação e aumento do risco de complicações graves.
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), 1 em cada 6 infecções bacterianas no mundo já não responde adequadamente aos tratamentos disponíveis. Porém, mais do que um problema clínico, a resistência antimicrobiana é um problema de gestão e segurança do paciente.
Durante muito tempo, acreditou-se que o controle da resistência era responsabilidade exclusiva do médico prescritor. Hoje sabemos que a questão é mais ampla: envolve processos institucionais, cultura organizacional, governança clínica e educação contínua.
O uso inadequado de antibióticos, seja por automedicação ou prescrição excessiva, cria um ambiente favorável para o surgimento e disseminação de microrganismos multirresistentes. Por isso, enfrentar a resistência antimicrobiana exige integração entre assistência, gestão e qualidade.
Cada dose de antibiótico administrada é uma decisão que carrega impacto clínico e estratégico. Implementar programas institucionais de uso racional de antimicrobianos é uma medida essencial para equilibrar eficácia terapêutica, segurança e sustentabilidade do cuidado.
Além disso, a resistência antimicrobiana afeta diretamente indicadores sensíveis de gestão:
Promover o uso responsável de antimicrobianos é uma forma de fortalecer a cultura de segurança do paciente e otimizar recursos dentro das instituições de saúde.
A partir disso, é possível entender que os protocolos estabelecidos nas instituições não são eficazes se não houver engajamento das equipes assistenciais e da liderança institucional. O combate à resistência depende de corresponsabilidade: médicos, enfermeiros, farmacêuticos, gestores e pacientes precisam compreender seu papel nesse processo.
É fato que educar profissionais, monitorar resultados e manter a vigilância ativa são estratégias que salvam vidas e garantem a sustentabilidade dos sistemas de saúde.
E falar sobre resistência antimicrobiana é falar sobre o futuro da medicina. Pois sem ação coordenada voltamos a um cenário em que infecções simples se tornam ameaças graves. E com gestão eficiente, cultura de segurança e uso racional, podemos preservar a eficácia dos tratamentos e garantir um cuidado mais seguro para todos.
Portanto, a conscientização em relação à resistência aos antimicrobianos nos convida a uma reflexão prática: como cada decisão clínica pode se tornar uma escolha de valor para o paciente e para o sistema de saúde?
*José Branco é Presidente na Sociedade Médica de Oxigenoterapia Hiperbárica (OHB), faz parte da Direção Executiva do Instituto Brasileiro para Segurança do Paciente (IBSP), atua como Diretor Técnico do Instituto Nacional de Desenvolvimento Social e é Diretor Médico da CLOUDSAÚDE.