Enquanto os medicamentos químicos costumam atuar no controle dos sintomas, a biotecnologia permite definir o tratamento a partir do perfil genético do paciente, atuando na causa da doença. Entre os campos com maior potencial, Frabetti cita a oncologia, as doenças autoimunes e as neurodegenerativas, como o Alzheimer. “Vamos lançar um novo medicamento no próximo ano que reduz de forma expressiva a evolução da doença. Acredito que, nos próximos dez anos, poderemos enxergar o Alzheimer como uma condição controlável, desde que haja diagnóstico precoce”, diz.
A biotecnologia também avança na nutrição infantil. A Harmony Baby Nutrition, startup fundada por um brasileiro com sede em Boston, deve lançar no mercado americano, em 2026, uma fórmula voltada a bebês com alergia à proteína do leite de vaca que se assemelha mais ao leite materno. O farmacêutico Del Afonso, CEO e fundador da empresa, conta que a ideia surgiu durante seu MBA no Massachusetts Institute of Technology (MIT), quando enfrentava o problema com uma das filhas. Usando tecnologia de DNA recombinante, a empresa desenvolveu uma fórmula com maior proximidade ao leite humano. “As fórmulas convencionais têm cerca de 3% de semelhança com o leite materno; a nossa chega a 50%”, afirma.
Segundo o empresário, a alergia à proteína do leite de vaca afeta cerca de 17% dos bebês que usam fórmulas infantis no mundo. A tecnologia atraiu investimentos, e a Harmony foi selecionada pela Finep e pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) para receber R$ 31 milhões em financiamento. O recurso será usado no laboratório de Belo Horizonte, com a contratação prevista de 25 profissionais. Enquanto a primeira geração do produto deve chegar ao mercado em breve, a empresa já desenvolve a terceira, com 88% de semelhança com o leite materno. “Não é melhor apenas para o bebê alérgico, mas para todos que precisam de fórmula”, diz.
Esse avanço tecnológico também exige médicos com novas competências. A Afya, empresa de educação e soluções tecnológicas para a área médica, vai implementar, a partir de 2026, uma graduação com dupla titulação em medicina e ciência de dados. “Mais do que ter um médico afeito a novas tecnologias, é preciso ensiná-lo a usá-las da melhor forma possível”, afirma Gustavo Meirelles, vice-presidente médico da companhia.
A Afya desenvolveu ainda uma ferramenta de inteligência artificial que apoia o diagnóstico e a definição da conduta clínica, com conteúdo validado por cerca de 200 especialistas. A tecnologia permite confirmar condutas, escolher antibióticos, calcular doses pediátricas e revisar diagnósticos diferenciais com mais rapidez e segurança. A ferramenta reúne também o histórico do prontuário eletrônico do paciente, ajudando a evitar erros. “Se consta na plataforma que o paciente tem alergia a dipirona, ela não permite a prescrição”, explica Meirelles. Segundo ele, o crescimento acelerado do conhecimento médico exige reconhecer limites: “O profissional precisa entender que não decide tudo sozinho e que pode contar com um copiloto para ajudá-lo”.