Apesar do desconforto com as declarações polêmicas do ministro da Saúde, Marcelo Castro, em meio a uma das piores crises já enfrentadas no setor, o Palácio do Planalto não pretende tirá-lo do cargo a curto prazo.
A orientação, agora, é que ele reformule as frases recentes –como a de que o Brasil perde "feio" a batalha contra o Aedes aegypti – e reforce o discurso de que todos devem se unir para eliminar o mosquito, que transmite dengue, zika e chikungunya.
Enquanto isso, o Ministério da Saúde também pretende reforçar o combate ao vetor em 115 cidades consideradas mais vulneráveis a novas epidemias, por meio de visitas de agentes de saúde e do Exército às residências.
O alívio temporário ao ministro tem motivação política: apesar da falta de experiência técnica, Castro é considerado um bom articulador no Congresso a favor da presidente Dilma Rousseff.
A ideia inicial é mantê-lo no comando da pasta ao menos até o fim de fevereiro, quando será eleito o novo líder do PMDB na Câmara. Mas há, entre os auxiliares da presidente, quem diga que uma substituição na pasta só ocorrerá se algum erro grave for cometido.
A decisão por esperar até a eleição interna do PMDB ocorre em sinal de apoio ao atual líder, o deputado Leonardo Picciani (RJ), preferido do Planalto e responsável pela indicação de Castro para a pasta.
Questionado nesta terça-feira (26) se acha que Castro deve continuar no cargo, o vice-presidente, Michel Temer, respondeu: "Eu acho que ele merece".
Na área técnica, algumas autoridades afirmam que a gafe do atual ministro ao dizer que o Brasil está perdendo "feio" na guerra contra o Aedes colocou no colo do Ministério da Saúde a responsabilidade total pelo combate ao mosquito, questão que também compete aos Estados e municípios.
Dessa forma, defendem, Castro se tornou um "bode expiatório" para a epidemia de zika no país.
Aliados do ministro, por sua vez, atacaram o Planalto e saíram em defesa de Castro. "Estão com picuinha por frases do ministro. E o que querem com isso? Esconder incompetência", diz o deputado Darcísio Perondi (PMDB-RS).
"A ação global do governo está embrionária e estão vendo o peso político [da epidemia] e indo atrás de um bode expiatório", afirma o deputado Osmar Terra (PMDB-RS), presidente da Frente Parlamentar da Saúde na Câmara.
O incômodo com o ministro, porém, não vem apenas das frases polêmicas. Os constantes recuos em algumas medidas para proteção contra o zika e o fato de ter deixado alguns projetos engavetados, como o Mais Especialidades, também colaboram para acentuar o desgaste.