Aberto em março de 2016, o Centro Sebrae de Referência do Artesanato Brasileiro (Crab) foi criado para operar em nível nacional como uma plataforma mercadológica de reposicionamento e requalificação do artesanato nacional. Desde então, já foram realizadas sete exposições e beneficiados mais de 500 artesãos e designers de todo o país. A ideia é transformar o artesanato brasileiro em objeto de desejo e consumo e, consequentemente, aumentar seu valor de mercado.
O Crab também permitirá um mapeamento melhor da produção artesanal brasileira. Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) revelam que o Brasil tem mais de 8,5 milhões de artesãos e estima-se que sua produção chegue a representar entre 7% e 8% do Produto Interno Bruto (PIB).
"São dados sem precisão metodológica e fruto de pesquisas muito aleatórias. O que vamos ter, a partir do trabalho no Crab, são prospecções sobre o que o artesanato significa para o país", diz Heliana Marinho, coordenadora da área de economia criativa do Sebrae e responsável pelo Crab.
Ela explica que o objetivo do centro é atuar como um local que facilite a comercialização do artesanato. O preço é definido pelo próprio artesão em suas oficinas, e a esse valor são acrescidos os custos logísticos e tributários. A valorização é muito mais simbólica pelo conceito de estar exposto num centro de referência.
"São três linhas básicas de ação: dar visibilidade ao artesanato, trabalhar a questão da comercialização e promover a geração de conhecimento. O objetivo principal é requalificar o artesanato, mostrando para o Brasil e o mundo o valor agregado, não apenas financeiro, mas de qualidade de uma produção que assume a fronteira entre a arte popular e o design", diz Heliana.
O centro ocupa três prédios - um deles tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) - na Praça Tiradentes, centro do Rio de Janeiro. Heliana explica que, como o Crab se propõe a atuar como centro de referência, o artesanato ali exposto se distancia um pouco das peças do dia a dia que são comercializadas com muito sucesso nas feiras e nas pequenas cidades do país.
Ela esclarece que Crab também não é um centro de capacitação e técnica de artesanato. O artesão pode participar do centro de forma indireta ao expor seu trabalho por meio de exposições. No momento, está em cartaz a sétima mostra denominada Territórios, com tipografia de Bia Lessa.
"Trata-se de uma exposição que traz o Nordeste para o Rio de Janeiro de maneira bastante inusitada. Foram utilizados 2,5 milhões de pregos em paredes que foram bordadas, para que se aprofundasse a visão dos artesãos. Essa instalação contou com o trabalho de 150 artesãos de Sergipe e de Alagoas", conta.
A exposição é resultado do trabalho de aproximação entre artesãos e designers realizado, durante três anos, pelo Sebrae Nacional em parceria com o Instituto de Pesquisas em Tecnologia e Inovação. Durante esse período, foram feitos levantamentos da situação desses artistas e do processo de melhoria do produto, desde a concepção do protótipo até a produção final. "Essa exposição traz o pano de fundo de tudo isso e de como esses levantamentos foram feitos, transformando tudo em uma grande instalação", explica Heliana.
O Crab também pretende abrir uma linha de exportação vinculada à Agência Brasileira de Promoção de Exportações (Apex) Brasil por meio do Programa Craft Expand. O centro já tem convites para participar de feiras internacionais tanto de comercialização quanto de encontros de arte. Uma das ideias é levar a exposição Territórios para a Bienal de Veneza.
Heliana destaca ainda outra exposição, realizada em 2016, denominada Origem Vegetal, que trouxe trabalhos de 60 cooperativas, 50 artesãos individuais e 19 etnias indígenas. Entre os expositores da mostra estava a artista plástica e artesã Monica Carvalho, que, desde 1998, faz pesquisa e arte com material orgânico incluindo sementes e fibras. Ela diz que a maior dificuldade é manter uma rede de coletores num modelo sustentável em locais como a Amazônia, o Cerrado e o Pampa. Sua produção é de objetos de casa e decoração - almofadas, luminárias, esculturas - e acessórios de moda.
Na mostra, Monica ocupou a última sala da exposição com 50 tiras de diferentes sementes para mostrar de onde vem o artesanato brasileiro. Ela já exporta para os EUA, onde tem um agente, e para a Inglaterra, fornecendo adereços para ateliês de costura.
"A mostra me deu uma visibilidade absurda, pois foi uma exposição de nível internacional. O Crab funciona como uma chancela, de que não é só um artesanato corriqueiro, mas um trabalho forte de afirmação que gera renda para vários trabalhadores", diz Mônica.