Rota de fuga
Valor Econômico
03/06/2013

Rota de fuga

Por Jacilio Saraiva | Para o Valor, de São Paulo
 

 

A indústria brasileira, independentemente do porte de suas chaminés, atravessa um momento delicado. O cenário indica perda da competitividade em relação ao produto importado, alta carga tributária e câmbio valorizado. Mas, mesmo nesse ambiente de negócios hostil, alguns segmentos apresentam crescimento, apoiados pelo vigor do mercado interno. Para sobreviver à baixa do setor, especialistas aconselham que o industrial de menor porte volte o foco para a inovação, observe o comportamento do consumo e invista em melhorias de gestão. Reduzir despesas e desenvolver novas mercadorias também estão na ordem do dia.

A produção brasileira avançou 0,7% em março em relação a fevereiro, segundo os dados mais recentes do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Mas, em relação a março de 2012, houve uma queda de 3,3%. No acumulado dos últimos 12 meses, encerrados em março, a indústria recuou 2%, taxa próxima das registradas em janeiro (-2,0%) e fevereiro (-1,9%).

"No último ano, houve evolução nos negócios ligados a madeira e mobiliário, perfumaria e produtos de limpeza", diz Milton Bogus, diretor do Departamento da Micro, Pequena e Média Indústria da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp). Por outro lado, nichos como material eletrônico, equipamentos de informática, vestuário e acessórios testemunharam perdas de até 11%. "Alguns fabricantes de cosméticos e móveis conseguiram se valer do forte crescimento da renda nos últimos anos, enquanto os setores expostos à concorrência estrangeira sofreram mais."

No Brasil, 99% das indústrias são micro, pequenas e médias organizações. Ocupam 53% da mão de obra e respondem por 23% do faturamento do setor, segundo a Confederação Nacional das Indústrias (CNI) e o IBGE. "Para ganhar competitividade, é fundamental manter a capacidade de inovar, aumentar a produtividade e ampliar mercados", afirma Carlos Eduardo Abijaodi, diretor de desenvolvimento da CNI. "Isso inclui atender as necessidades dos clientes e criar novos modelos de negócios." O plano de fuga da crise também inclui obter capital de giro a custos menores, melhorar os conhecimentos gerenciais, cortar despesas e desenvolver novos produtos, informa.

Essa estratégia é seguida à risca por Daniel Daud, diretor de operações da Azzedine, fábrica de roupas femininas com 50 funcionários, em São Paulo. Com uma produção de 120 mil peças ao ano, o industrial espera crescer 15% em faturamento em 2013, ante 2012. No ano passado, conseguiu um aumento de 20% nos negócios, em relação a 2011.

"Por conta da dinâmica do setor, temos de planejar a produção com uma antecedência de até oito meses", diz Daud, que desenvolve itens de alfaiataria para grandes marcas, com a etiqueta do cliente. O empresário afirma que a fábrica deve crescer este ano não porque o mercado de confecções está em alta, mas por conta da desidratação da concorrência. "Os compradores estão consolidando os pedidos com os melhores fornecedores para ganhar preço e qualidade." Para permanecer nesse grupo, Daud tem de entregar as peças em perfeitas condições e no prazo estabelecido pelos parceiros.

Segundo ele, um dos maiores inimigos da indústria é a concorrência externa, que sai na frente da produção nacional com a ajuda de impostos mais leves e custos menores. "O consumidor faz compras no exterior, onde os preços são baixos, devido a um sistema tributário justo." Este ano, o empresário afirma que vai investir menos do que em 2012. Deve fazer apenas aportes pontuais em maquinário, para ganhar escala e cortar gastos. "A ideia é trabalhar com ganho de produtividade, utilizando a mesma capacidade instalada."

Para Rogério Grof, diretor de relações institucionais do Sindicato da Micro e Pequena Indústria do Estado de São Paulo (Simpi), buscar novos mercados de consumo e melhorar a gestão da empresa podem ajudar o pequeno industrial a driblar períodos de recessão. "As organizações devem tentar manter as margens de lucro, com um controle de custos rigoroso", diz.

Na fábrica do Empório do Mel, de produtos naturais e orgânicos, o contra-ataque toma forma com a criação de novos itens, treinamento dos representantes de vendas, além da abertura de lojas. "Até 2014, vamos inaugurar três unidades, lançar 14 produtos e incorporar três marcas parceiras na linha de distribuição', diz o diretor comercial Rodrigo Balioti, que administra três pontos comerciais.

Com fábrica em Mairinque (SP) e produção anual superior a um milhão de itens, entre derivados de mel, geleia e chás, a empresa de 26 funcionários faturou R$ 3,7 milhões em 2012 e estima ultrapassar R$ 4,5 milhões em 2013. Para crescer, segundo Balioti, ele observa tendências e tecnologias de alimentação, nuances do consumo e a expansão geográfica da distribuição. "Temos de lançar produtos que atendam à procura do mercado e ainda se diferenciem na qualidade e produção." Entre as novidades para manter as vendas, estão balas de algas marinhas e cerejas orgânicas em calda.

Wilbert Sanchez, "managing partner" da Thoreau Capital, especializada em reestruturar organizações de médio porte, diz que os empresários devem estar de olhos abertos para novas brechas de faturamento. "O mercado está sempre mudando. É preciso analisar riscos e alternativas, mas sem se engessar", afirma. "Muitas vezes, os fornecedores estão absorvidos pelo dia a dia do trabalho, não se atualizam e os concorrentes acabam chegando."

Na Ecoplaca, em Sorocaba (SP), oportunidades de mercado fizeram a indústria ficar longe do vermelho no ano passado. A empresa compra chapas de PET e plásticos reciclados para transformá-los em pastas escolares, capas de caderno, réguas, esquadros e placas de sinalização. Com 28 funcionários, viu o faturamento sair de R$ 2,1 milhões, em 2011, para R$ 3,5 milhões, no ano passado. "O consumo consciente é o impulsionador das vendas", diz Ferdinando Roberto Carvalho, diretor da Ecoplaca.

 

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