Máquina cada vez mais inteligente exige mais debate
23/10/2017 - por Gustavo Brigatto

O robô de cerca de um metro de altura e feições amigáveis se levanta. Seu operador faz algumas perguntas de introdução para mostrar como ele funciona até que o inevitável questionamento surge da plateia: você vai roubar nossos empregos? A pequena máquina responde imediatamente: "Não, obviamente que não. Os sistemas cognitivos vão trabalhar em conjunto com as pessoas para expandir suas possibilidades".

A ponderação fez sentido, mas pareceu não convencer totalmente os presentes, que continuaram a debater a questão. A robótica e a inteligência artificial foram um dos assuntos que estiveram na pauta do Festival de Cultura Empreendedora, realizado entre quinta e sábado em São Paulo pelas revistas "Época Negócios" e Pequenas Empresas & Grandes Negócios" e pelo jornal Valor.

A relação entre humanos e máquinas é alvo de discussões fervorosas desde a revolução industrial, no século XIX. A substituição de mão de obra por equipamentos aumentou a produtividade, mas também eliminou postos de trabalho. Nos últimos dois anos, com o avanço da inteligência artificial, o debate acirrou-se. O medo é que a ascensão de máquinas que tomam decisões e executam tarefas sem intervenção humana gere um cenário de desemprego mais grave do que o registrado nos últimos 200 anos.

Para André Marcon Zanatta, diretor de inovação no instituto Senai de Santa Catarina e vice-presidente da Associação Brasileira de Internet Industrial (Abii), e David Dias, líder de canais e ecossistemas para Watson da IBM, esse cenário apocalíptico é um tanto exagerado. "A robótica já é uma realidade, já existem fábricas que funcionam com poucas, ou quase sem gente. Alguns empregos foram eliminados, mas quantas empresas de robótica não foram criadas para prestar serviços", ponderou Zanatta. Para ele, é preciso debater a formação de pessoas com conhecimento e habilidades para atuar neste novo cenário.

Hoje, observou Dias, os sistemas de inteligência artificial "aprendem" por meio de duas técnicas: o aprendizado de máquina ("machine learning") e o aprendizado profundo ("deep learning"). No primeiro caso, a máquina é alimentada com informações específicas sobre um determinado assunto ou objeto. "Você mostra fotos do mar e diz que aquilo é o mar. Se você colocar uma foto de rio, a máquina vai dizer que é o mar. Então você precisa mostrar que existe o rio. Daí para frente, ela não erra mais". No "deep learning", o processo é mais complexo.

Independentemente da técnica utilizada, Dias destacou que a participação humana é necessária e que sempre haverá a necessidade de uma curadoria. "Se você procurar na internet, já vai encontrar vagas de treinador de inteligência artificial", disse.

Na avaliação do executivo, as discussões sobre limites e cenários de uso da inteligência artificial são importantes e devem se estender ainda por cinco a dez anos. "A própria internet tem 20 anos e só agora ganhou alguma regulamentação. Mas eu não vejo esse assunto em fóruns internacionais, como a ONU. É preciso ter alguma instituição que puxe isso", avaliou.

Hoje, as vozes mais ativas nesse debate, usando as redes sociais como palco, são Elon Musk, o presidente da montadora Tesla, que alerta para os riscos do uso indiscriminado da inteligência artificial e reforça a necessidade de se criar regras, e Mark Zuckerberg, fundador do Facebook, que traça um mundo maravilhoso de convivência entre homens e máquinas.

Se o horizonte do ambiente de trabalho é de grandes transformações, no comportamento do consumidor, o efeito da tecnologia não é menos impactante. Em outra apresentação, Jonathan Levav, professor de marketing e negócios da Stanford Business School, mostrou como o uso de telas sensíveis ao toque e o uso de ferramentas para comunicação à distância mudam as decisões das pessoas.

O toque, diz ele, está ligado a uma sensação de prazer que não existe quando se usa um mouse - o consumidor tende a gastar mais na compra de um produto ou serviço para atingir satisfação. A distância, por sua vez, reduz barreiras psicológicas. Na web, uma pessoa critica outra facilmente. Não o faria, talvez, se o contato fosse direto. Mas, "no saldo final, o uso da tecnologia acaba sendo mais positivo do que negativo", disse Levav.
Fonte: Valor




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