Em uma iniciativa ainda pouco comum para a indústria farmacêutica de capital nacional, a Eurofarma se prepara para investir em startups na área de saúde. O plano faz parte de um amplo projeto de apoio à inovação desenhado pela empresa, o Centro Latino-americano de Inovação Contínua (Clic), que no médio prazo receberá 5% de seu lucro líquido anual, ou o equivalente hoje a R$ 20 milhões.
"A grande ambição do Clic é colocar a Eurofarma como protagonista de inovação aberta no setor farmacêutico", afirma a vice-presidente de Sustentabilidade e Novos Negócios, Maria del Pilar Muñoz. Considerando-se seu negócio principal, que são os medicamentos, a empresa já investe 5,5% da receita líquida anual em pesquisa e desenvolvimento - no ano passado, as vendas totalizaram R$ 3,3 bilhões.
Ao avançar no projeto, explica Pilar, a Eurofarma tanto aprimora seu conhecimento na área de inovação aberta quanto amplia o leque de áreas que são objeto de inovação. "Já temos uma área robusta de P&D para o nosso negócio principal e já temos a busca de parceiros externos. Agora, queremos levar isso para as outras áreas da empresa", afirma.
A primeira fase do Clic, considerada o pontapé da Eurofarma na área de inovação aberta e sob a liderança da área de fusões e aquisições (M&A) da farmacêutica, consiste em uma parceria de aceleração com a Endeavor, batizada Synapsis. Num segundo momento, o foco estará em estimular as startups para que se tornem empresas operacionais.
A constituição de um fundo de venture capital, para efetivo aporte financeiro em iniciativas empreendedoras, corresponde à terceira etapa do projeto. Ainda não há data definida para a constituição do fundo de venture capital (capital de risco).
A primeira fase, que está sendo lançada neste momento, beneficiará 12 startups já operacionais. A captação dos candidatos será feita pela Endeavor e a escolha efetiva, por uma equipe multidisciplinar da Eurofarma. A expectativa é a de que até meados de março os nomes escolhidos já sejam conhecidos. "Esperamos encontrar soluções e empresas que possam vir a ser nossos fornecedores", afirma Pilar.
O trabalho com essas startups, cujo produto ou solução deve contemplar uma ou mais áreas em foco (relacionamento com grupos de interesse, ganho de eficiência, sustentabilidade, inteligência de mercado ou gestão de pessoas), deve se estender ao longo de 2018. A farmacêutica colocará sua estrutura, conhecimento e rede de relacionamento à disposição dessas empresas.
Com essa plataforma de busca de inovações para a saúde, a multinacional brasileira pretende antecipar tendências assim como as grandes farmacêuticas estrangeiras têm feito lá fora. A percepção é que, depois do setor financeiro, a área de saúde será o grande campo de lançamento de novas tecnologias, em um movimento similar ao que culminou no surgimento das "fintechs". "Acreditamos que o setor farmacêutico será um alvo importante", ressalta.
No Brasil, o número de startups de saúde cresceu cinco vezes desde 2015. No mundo, nove das dez empresas que mais gastam com inovação já estão trabalhando com startups. "Queremos sair à frente da concorrência. O momento de lançamento é bem adequado e o processo é robusto", ressalta Pilar.