Os hospitais especializados nas doenças que mais matam no Brasil - cardíacas, respiratórias e câncer - conseguiram avanços importantes no tratamento e cura com investimentos em pesquisa, inovação, tecnologia e capacitação profissional. Robôs Da Vinci, que dão maior precisão às cirurgias de câncer, aceleradores de radioterapia, que reduzem o impacto das radiações nos órgãos saudáveis próximos a tumores, novas técnicas de tratamento de doenças respiratórias e uma nova classe de inibidores, que reduzem os eventos cardiovasculares, já foram adotados para melhorar a qualidade de vida e em alguns casos dar sobrevida aos doentes.
Em algumas especialidades médicas já não há mais diferença entre os hospitais brasileiros e os dos centros mais avançados do mundo. No tratamento de doenças cardiovasculares, vai longe o tempo em que quem podia pagar vivia na ponte aérea Rio ou São Paulo e Houston, nos Estados Unidos. "A diferença está apenas no número de instituições capacitadas a dar o mesmo atendimento", diz Carlos Alberto Buchipiguel, superintendente-médico do HCor. O hospital paulista, com seis unidades que somam quase 300 leitos e um corpo clínico de 1.713 médicos, realizou no ano passado 6.364 procedimentos cirúrgicos e 11.428 internações, além de 171.604 consultas ambulatoriais e 46.987 atendimentos na emergência.
Um dos trunfos da instituição é a aposta em pesquisa. Mais de 55 mil pacientes foram incluídos em estudos do Instituto de Pesquisa do HCor, que completou dez anos. Nos últimos dois anos, os investimentos somam R$ 40 milhões de recursos privados e R$ 21 milhões em parcerias com o Ministério da Saúde. Os projetos avaliam a eficácia e a segurança de novos tratamentos e medicamentos não só para doenças cardiológicas, como também neurológicas, como o AVC, melhorias em protocolos de atendimento, além de estudos inovadores para a evolução da prática médica nas mais variadas especialidades. Um dos trabalhos, realizado com 100 pacientes, foi apresentado no começo do mês no Congresso Americano de Cardiologia com resultados que apontam os efeitos das cirurgias bariátricas no tratamento de hipertensão. Pode ser uma alternativa para quem não consegue respostas com medicamentos. "Metade dos pacientes que fizeram a cirurgia bariátrica conseguiu ficar sem medicação", diz Otávio Berwanger, diretor do Instituto de Pesquisa do HCor.
Mais de duzentos pacientes ganharam qualidade de vida com uma técnica inovadora no tratamento do enfisema no núcleo de tratamento do enfisema do serviço de pneumologia e cirurgia torácica do Hospital Moinhos de Vento, em Porto Alegre. A unidade, que completou 90 anos em outubro, tem mais 3 mil profissionais no corpo clínico. Acaba de investir R$ 2,2 milhões no novo centro de cardiologia e R$ 30 milhões na reestruturação da unidade oncológica agora equipada com aceleradores lineares de radiação TrueBeam. No núcleo de tratamento do enfisema, pioneiro na América Latina, o procedimento endoscópico criado há cinco anos insere válvulas em brônquios do pulmão que murcham as bolhas criadas pela doença crônica. "O funcionamento mecânico do pulmão melhora e alivia o sofrimento do paciente", diz Marcelo Gazzana, chefe do serviço de pneumologia e cirurgia torácica do Moinhos de Vento, fundado há 90 anos na capital gaúcha.
O Hospital Alemão Oswaldo Cruz, em São Paulo, um dos mais importantes centros hospitalares da América Latina com 120 anos de existência, é referência em atendimentos de alta complexidade nas áreas de oncologia e doenças digestivas. O reconhecimento é resultado de uma política de investimento em infraestrutura, tecnologia e equipamentos que somou R$ 491 milhões entre 2010 e 2016. Um dos trunfos da instituição é o centro de cirurgia robótica. O custo da operação - cerca de R$ 7 mil, quando o paciente tem convênio, ou R$ 22 mil a R$ 24 mil em uma vasectomia particular - ainda restringe o uso do robô Da Vinci de segunda geração, mas ainda assim são cerca de 400 procedimentos por ano. A vantagem é o menor sangramento, recuperação mais rápida, internação de dois dias contra cinco da cirurgia aberta e menos sequelas. "A tecnologia facilita a cirurgia e permite movimentos que a cirurgia laparoscópica não faz", diz Carlo Passerotti, coordenador do centro de cirurgia robótica do Hospital Alemão Oswaldo Cruz.