“Se quiser fazer saúde baseada em valor, você tem que acreditar no modelo”
27/02/2018

Este mês conversamos com Omar Ishrak, CEO global da Medtronic, sobre a estratégia da empresa, globalização e sobre saúde baseada em valor. Omar nasceu em Bangladesh, mas se formou engenheiro por King’s College em Londres. Além de presidente e CEO da Medtronic, ele também é co-presidente do World Economic Forum’s Health and Healthcare Community, membro do conselho de diretores da Intel e membro do Conselho de Administração da Sociedade da Ásia.

De início, ele nos contou que veio trabalhar na Medtronic porque, além de ser uma empresa de healthcare focada em tecnologia, ela tem um alinhamento muito forte em melhorar o resultado nos pacientes. Para ele, a empresa tem um leque de habilidades, sabe como criar e usar a tecnologia, possui infraestrutura e capacidade financeira para traduzir toda tecnologia em resultado para o usuário final.

Perguntamos sobre um dos pontos que o trouxe à empresa, a preocupação com a globalização, ele disse: “O cuidado em saúde deve ser acessível para todas as pessoas, em qualquer lugar. Há uma tremenda disparidade no mundo, e dentro de alguns países, em específico”. E completou, “esse é um problema sofisticado, que não se resume a diminuir preços. Existem outras questões envolvidas como infraestrutura, treinamento e, sem essa mentalidade o problema não é resolvido”.

Em sua experiência, as indústrias tendem a tratar a globalização de suas soluções, para países menos abastecidos, como prioridade secundária. Em geral, há um reconhecimento entre o setor de que existe uma oportunidade de negócio em saúde, mas está fora da zona de conforto da maioria. Especialmente tecnologias desenvolvidas na Europa e EUA, as empresas não estão acostumadas a ir para lugares diferentes, uma vez que o seu mercado doméstico é bastante atraente e receptivo. Apesar de que, se for relativamente fácil a exploração, e houver lucro sobre isso, definitivamente a maioria fará algo à respeito.

Considerando que um dos três pontos de estratégia da Medtronic é a globalização, sendo os outros dois inovação em terapias e valor econômico, ele ressalta que não devemos enxergá-los como totalmente distintos. Quando a empresa inova, ela globaliza, e um valor é criado sobre a inovação. Eles andam juntos, apesar de haver diferentes tipos de iniciativas que podem colocar o foco específico em direção a um ou outro. Por exemplo, no desenvolvimento de um novo equipamento, o foco é a inovação em terapias; já na expansão para algum país, o foco é a globalização.

Em todos os casos, o valor econômico é visto um acelerador para os outros dois pilares da estratégia. Como pensar e priorizar, o valor econômico é a tradução do valor clínico que a empresa cria no sistema. Ou porque há menos desperdício no fluxo de diagnóstico e tratamento, menos hospitalização, ou uma extensão da vida. Deixar isso formal, como parte do processo de desenvolvimento dos produtos da Medtronic, como gerenciar os recursos ao passo que expandem, é fundamental para o alcance do objetivo, que no final, é melhorar a vida das pessoas providenciando as terapias que eles dispõem às pessoas que precisam.

Segundo Omar, “No final somos uma empresa de tecnologia, e a globalização simplesmente significa que atingimos o nosso objetivo de capacidade total de tecnologia. Que todos que precisarem de tecnologia, tenham acesso. Isso é bom para a sociedade, bom para a missão e bom para o negócio. A globalização é uma extensão da tecnologia e do valor econômico”, ressaltando o posicionamento da empresa.

Já que o CEO estava de passagem pelo Brasil, ele comentou que “o Brasil é uma oportunidade na qual os pontos estão lá e só precisam ser conectados.”, ou seja, há uma gama de oportunidades que devem ser solucionadas e melhoradas.

Em particular, segundo Omar, a empresa está atuando nos centros de excelência, não só em tecnologia, mas também no entendimento de modelos baseado em valor para a saúde. A percepção é que essas instituições estão respondendo com muito entusiasmo e abertura à esse assunto. Estão entendendo a necessidade de trazer esse tópico para a grande discussão.

“Nós acreditamos que, se formos transparentes, e fizermos coisas com integridade, focando no nosso propósito, nós conseguiremos atingir os melhores resultados em relação à saúde das pessoas, no menor custo possível”, disse Omar com convicção na entrevista. A minha percepção vai de encontro aos princípios que ele aprendeu e resolveu dividir conosco: “Se você quiser fazer saúde baseada em valor, você realmente tem que acreditar no modelo. A maior jornada é o entendimento que a abordagem é granular. Uma abordagem genérica não funciona, é necessário realmente entender a situação médica”

Ele ainda completa dizendo que se quisermos criar modelos de negócio baseados em valor, a habilidade de mensurar e monitorar o resultado é crítica. É preciso definir os indicadores específicos, estipular quem será responsabilizado em cada caso e os termos de recebimento de pagamento, por exemplo. Caso a empresa não consiga fazer isso, que não se proponha a fazer saúde baseada em valor. Isso porque, sem um contrato bem estabelecido, não há negócio.

Omar chama a atenção para a responsabilidade no custo. Uma grande parcela dos gastos em saúde vem de sobretratamento e subtratamento. No primeiro, encaixam-se duplicidade de exames, procedimentos desnecessários, e retrabalhos. Quando se trata algo que não era preciso, não há melhoras no resultado, há um aumento no custo. No segundo, as pessoas que merecem tratamento não recebem, e, a longo prazo, os custos também aumentam. O segredo é otimizar o tratamento com a necessidade e mensurar o resultado. Essa é a essência do modelo baseado em valor. “Quando eu falo sobre negócios baseado em valor, não é sobre eles ou nós investirmos dinheiro, é sobre ambos economizarmos e trazermos valor para o sistema. E esse valor pode ser medido em elementos financeiros.”

Em geral, nós vemos muitas iniciativas em termos de resultados de procedimentos mais previsíveis. Porém, Omar acredita que as doenças complexas sejam mais fáceis em muitos casos, porque a métrica é a redução da escalabilidade da doença e taxas de readmissão hospitalar. O valor remetido aos pacientes complexos é maior do que em casos previsíveis, e a quantidade de dinheiro economizada é gigante, porque geralmente esses são os casos de custos escalares. E, se o gerenciamento for realizado de forma correta, o custo a longo prazo é diminuído. Além disso em casos previsíveis, os resultados estão sujeitos a um mix de variáveis, incluindo a mudança de estilo de vida dos pacientes, que podem não colaborar com a intervenção médica. Em casos mais complexos, essa variável fora do alcance clínico tem um peso menor, já os pacientes levam as recomendações mais a sério.

Em um sistema baseado em valor, todos os players devem agir de modo colaborativo, provedores de tecnologia, pacientes e profissionais de saúde. Todos alinhados em um mesmo objetivo. Segundo o CEO da Medtronic, a beleza está em que você não pode argumentar com o modelo. Quanto os resultados são claros, você não pode burlar o sistema em termos financeiros.

Ainda existem barreiras culturais, técnicas e de incentivos na transição, mas Omar acredita no potencial e nos benefícios que o modelo proporciona. “É por isso que eu encorajo o setor de saúde a adotar esse modelo e a manter a integridade. E principalmente a pensar em maneiras de operacionalizar e criar políticas em relação ao sistema baseado em valor”, finalizou a entrevista em tom otimista.





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