Para bancar plano de saúde, mais dividendo
07/03/2018
A Fundação Antônio e Helena Zerrenner - Instituição Nacional Beneficência (FAHZ), que administra o patrimônio da família fundadora da Antarctica e é uma das maiores acionistas da Ambev, trabalha para diversificar seu portfólio de investimentos. O objetivo é garantir ganhos crescentes, para conseguir pagar os gastos da fundação com saúde.

A fundação presta assistência médica hospitalar e educacional para os 80 mil funcionários da Ambev e seus dependentes no Brasil. Também atende 5 mil estudantes em duas escolas profissionalizantes. Além disso, fornece cerca de 2 mil bolsas de estudos a funcionários da Ambev e da fundação. Também banca material escolar, cestas e brinquedos de Natal, e vacinas.

Os gastos giram em torno de R$ 400 milhões por ano, e tem crescido de forma acelerada, sobretudo por causa dos custos com saúde. "Enquanto as ações da Ambev geram um rendimento entre 8% e 10% ao ano, o custo do serviço médico cresce de 17% a 20% ao ano. A fundação precisa aumentar as reservas para sustentar a parte de assistência médica, que tem custos altos e cresce bem acima da inflação", diz Victorio de Marchi, diretor-executivo e vice-presidente da Fundação Zerrenner, em entrevista ao Valor.

A participação, de 10,2% no capital da Ambev, é a principal fonte de recursos da Fundação Zerrenner. Isso corresponde a um valor de mercado de R$ 34 bilhões.

Em 2017, os ganhos com dividendos e juros sobre capital próprio da Ambev que foram para a fundação somaram R$ 868,4 milhões. Esse valor foi 14,9% menor que os R$ 1,02 bilhão recebidos em 2016, que também foi 17,7% inferior aos R$ 1,24 bilhão de 2015. A rentabilidade da ação da Ambev ficou em 9,05% em 2017, ante 15,6% em 2016 e 14,28% em 2015.

"A Ambev está muito bem conduzida, adota os melhores processos e melhores pessoas. Temos absoluta confiança na companhia. A diversificação de investimento não altera a participação da fundação na Ambev, apenas amplia as reservas da fundação, permitindo que ela possa perenizar suas atividades", diz De Marchi.

O investimento mais recente, em dezembro, foi a compra de 15,31% das ações da Itaúsa, por R$ 4,5 bilhões. A Itaúsa proporcionou rentabilidade de 12,99% no ano passado. O Itaú Unibanco representa 90% dos ativos da Itaúsa. Esta também controla a Duratex e a Elekeiroz e tem participações na Alpargatas, na Itautec e na Nova Transportadora do Sudeste (NTS), gasoduto da Petrobras.

"A fundação resolveu partir para um investimento seguro. A Itaúsa é boa pagadora de dividendos. Esse é o principal interesse, empresas com bom fluxo de dividendos, para suportar as atividades", afirmou De Marchi. Ele ocupa uma cadeira no conselho de administração da Itaúsa, tendo como suplente Silvio José de Morais, diretor de controladoria da Ambev.

A fundação também possui investimentos menores em imóveis e ações de companhias, como o Itaú.

A Fundação Zerrenner foi criada em 1936. O casal fundador da Antarctica, Antonio e Helene Zerrenner, não teve filhos, nem sucessores, e deixou em testamento a ideia de criar a fundação. A instituição foi constituída por Walter Belian, que presidiu a Antarctica dos anos 30 até 1975.

Após a união da Antarctica com a Brahma, em 1999, que deu origem à Ambev, a Fundação Zerrenner incorporou a Fundação Brahma. A fundação é comandada por um conselho de dez membros. E presta contas para a Curadoria das Fundações de São Paulo.

Na Ambev, a instituição indica metade dos membros do conselho de administração (atualmente, quatro membros). A outra metade do conselho é indicada pela Anheuser-Busch InBev.

Em 30 de junho, antes da fusão que deu origem à Ambev, a fundação tinha 88% de participação na Antarctica. Após a união da cervejaria com a Brahma, a fundação ficou com 24,04% das ações da Ambev. Isso aconteceu porque a Brahma tinha valor de mercado maior que a Antarctica.

Em 2004, a Braco (do trio Jorge Paulo Lemann, Marcel Telles e Beto Sicupira), acionista da Ambev, quis fazer uma fusão com a Interbrew, que deu origem à InterbrewAmbev, ou InBev. A fundação foi convidada a participar da compra, mas preferiu ficar de fora. "A fundação poderia perder a imunidade tributária que possui se fizesse a troca de ações com a Interbrew", afirmou De Marchi. Pela legislação vigente, a fundação só pode investir recursos no Brasil.

A partir da fusão da Ambev com a Interbrew, em 2004, a parcela da fundação caiu para 17%. Em 2013, a Ambev também trocou todas as ações por ordinárias, o que levou a participação da fundação para 10,2% do total. Ainda assim, os ganhos foram consideráveis: de 1999 a 2017, o valor das ações em mãos da fundação saltou de R$ 400 milhões para R$ 37 bilhões.
Fonte: Valor




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