A seguradora americana de saúde Cigna anunciou a compra da Express Scripts, maior negociadora independente de programas de descontos farmacêuticos dos Estados Unidos, por US$ 67 bilhões incluindo dívidas, em mais um negócio na onda frenética de consolidação pela qual passa o setor de saúde do país.
A fusão vai combinar a quinta maior seguradora de saúde dos EUA com uma administradora de Programas de Benefícios em Medicamentos (PBMs), que atua como intermediária nas negociações entre os laboratórios farmacêuticos e os compradores de remédios, como seguradoras e funcionários de empresas que recebem o benefício. O executivo-chefe da Cigna, David Cordani, disse que a aquisição vai criar uma empresa "bem posicionada para proporcionar maior qualidade e acessibilidade [financeira] aos clientes".
A notícia do acordo fez as ações da Express Scripts subirem 18,2% nas operações antes do horário regular do mercado em Nova York. Os papéis da Cigna recuaram 5%.
A transação chega em meio ao movimento efervescente de fusões e aquisições no setor de saúde dos EUA, onde antigos rivais vêm se combinando para ter melhor condições de lidar com o custo dos remédios e procedimentos médicos, cada vez mais nas alturas, e com a sombra representada pela possível entrada da Amazon no mercado.
A CVS Health, maior rede de farmácias dos EUA, recentemente adquiriu a seguradora de saúde Aetna, por US$ 69 bilhões, enquanto a Walgreens Boots Alliance, outra cadeia farmacêutica, está em negociações com a AmerisourceBergen, uma importante distribuidora de medicamentos.
Analistas e investidores acreditam que muitos desses negócios são uma forma preventiva de reagir ao temor de que a Amazon possa entrar no mercado de saúde. O grupo varejista on-line divulgou recentemente planos para criar uma empresa com o JPMorgan e a Berkshire Hathaway, cuja missão será reduzir os custos da saúde, embora não tenha divulgado mais detalhes do projeto.
Os PBMs são relativamente desconhecidos fora do sistema de saúde dos EUA, baseado no mercado privado. Atuam como intermediários nas negociações entre os fabricantes de remédios e os "pagadores", um termo abrangente que engloba seguradoras, funcionários de empresas e entidades financiadas pelos contribuintes que compram medicamentos.
O modelo de negócio dessas empresas consiste em arregimentar grandes números de pacientes entre os diversos pagadores e usar esse peso para conseguir descontos dos laboratórios farmacêuticos. Os fabricantes de remédios, normalmente, se mostram dispostos a oferecer grandes reduções de preço para garantir que seus produtos sejam incluídos na lista de medicamentos que os PBMs vão comprar.
Juntos, os maiores PBMs dos EUA - Caremark, Express Scripts e Optum - negociam em nome de cerca de 250 milhões de pessoas ou, como se denomina no setor, "vidas cobertas".
A Express Scripts era a última grande PBM independente restante depois que a CVS comprou a Caremark, em 2006. A Optum é uma unidade da UnitedHealth, maior empresa de seguros de saúde dos Estados Unidos.
Nos últimos meses, o modelo de negócio da Express Scripts ficou sob fogo cerrado de políticos e empresas rivais diante das acusações de que teria sido incentivada a negociar com os laboratórios farmacêuticos de forma aumentar seus lucros, mas elevando o custos para os pacientes e seus clientes. A empresa nega com veemência as acusações.
A Cigna informou que vai pagar US$ 48,75 em dinheiro e 0,2434 ação própria em troca de cada ação da Express Scripts, o que confere à companhia comprada um valor patrimonial em torno a US$ 54 bilhões. O valor é cerca de 31% maior do que a cotação dos papéis quando ainda estavam estáveis.
A Cigna também vai assumir dívidas líquidas de US$ 13 bilhões da Express Scripts.
Uma que vez que a transação seja concretizada, os acionistas da Cigna vão ser donos de 64% da nova empresa combinada, enquanto os da Express Scripts vão ter os restantes 36%.