Diante de um cenário de margens apertadas, aumento de custos e perda no número de beneficiários, o mercado hospitalar vislumbra outras oportunidades de redução de custo e novos negócios. No Hospital Sírio-Libanês, por exemplo, a tendência é que o novo braço de negócio de saúde corporativa ganhe cada vez mais espaço em seus serviços.
O primeiro parceiro do programa Saúde Corporativa do Sírio-Libanês foi o Banco Votorantim, que recebeu uma unidade do hospital dentro da empresa, mas a meta é chegar a 20 operações em 2018. “Neste momento temos 15 potenciais unidades para implantação. Este é um projeto estratégico do hospital”, afirmou o superintendente de saúde corporativa do Hospital Sírio-Libanês, Gentil Jorge Alves Junior.
Segundo ele, a ideia de desenvolver uma unidade de atendimento primário em empresas partiu de um projeto interno de gestão de saúde para colaboradores, chamado ‘Cuidando de quem Cuida’. “Hoje toda empresa tem saúde ocupacional, mas descasada das necessidades assistenciais, por isso concedemos acesso ao Sírio-Libanês via médico de referência e atenção primária e além disso começamos a internalizar tudo que fosse alta complexidade”, comenta.
Com o programa, o hospital conseguiu uma redução de custo de cerca de R$ 16 milhões do total gasto com a saúde de seus funcionários. Entre as ações que chegaram a atingir o montante esteve o controle dos serviços de alta complexidade. Só nas cirurgias de coluna, houve diminuição de 40%. “Vimos que a cada 10 funcionários que chegavam para uma segunda opinião, apenas seis tinham indicação para o procedimento”, destaca.
De acordo com ele, a compra de serviços hospitalares – sobretudo os que são realizados no local – é uma tendência mundial que ajuda a reduzir o gasto com saúde e diminui a sinistralidade. “Tivemos uma redução de cerca de R$ 100 do sinistro per capita em dois anos”, comenta.
Isso entra em linha com a tendência de crescimento da demanda por planos de pós-pagamento, quando a empresa realiza o desembolso apenas pelos procedimentos realizados, além de uma pequena taxa mensal.
Além de ser uma nova fonte de receita, o executivo conta que o projeto deve ajudar na melhoria das margens, já que a estrutura hospitalar passará a ser mais utilizada para procedimentos de alta complexidade – para o qual foi criado–, e menos para atendimento primário que contará com uma estrutura mais enxuta do que um Pronto Socorro, muito utilizado pelos brasileiros.
A princípio, o hospital focará na região metropolitana de São Paulo e Brasília, onde inaugurará um hospital em novembro. “As demais regiões de saúde deverão ser atendidos via telessaúde, uma solução mais digital que estamos desenvolvendo e lançaremos em breve”, finaliza. No total, o Sírio deve investir R$ 300 milhões neste ano na nova unidade com 144 leitos e outras obras internas.
Mercado está atento
Depois de um período com margens apertadas, o mercado hospitalar enxerga 2018 com maior otimismo. Entre os motivos, o ex-presidente da Associação Nacional de Hospitais Privados (Anahp) e presidente da International Hospital Federation (IHF), Francisco Balestrin, cita o estancamento da perda de beneficiários de planos de saúde, a diminuição do índice de glosas [não pagamento por parte da operadora] e a melhora nas negociações com operadoras de saúde.
“Este ano, acredito que o desempenho das despesas e da receita ficarão mais equilibradas. As receitas devem ter alta próxima ao desempenho de 2017 [7,3%] e as despesas em linha”, diz Balestrin. No ano passado, as despesas tiveram crescimento mais acelerado que as receitas, atingindo alta de 8,1% (R$ 18,72 mil).
De acordo com ele, a tendência de mudança dos modelos de remuneração [como pacotes e diárias globais] tem sido uma oportunidade para melhorar a relação com operadoras de saúde. “Existem detalhes no contrato que não ficavam claros. Hoje a relação contratual tende a ser melhor.”
O diretor-executivo do Sírio-Libanês, Fernando Torelly, descreve esta melhora como agendas mais sinérgicas entre operadoras e hospitais. “As operadoras estão buscando alternativas para a sustentabilidade e nós para o financiamento do serviço. A crise fez com que os players se aproximassem para discutir alternativas efetivas para a melhoria do atual sistema”, diz.
Mesmo com perspectivas melhores para a economia, ele destaca que o grande desafio dos hospitais é conseguir manter as margens em meio a um cenário de estagnação da saúde suplementar.
“Paramos de perder, mas não começamos a recuperar. As empresas aprenderam a ter ganho de produtividade e agora o aumento de emprego é menor. Vemos indicadores melhores, mas o emprego não está melhorando na mesma proporção”, coloca. As operadoras encerraram fevereiro com 47,4 milhões de beneficiários. No último trimestre de 2014, eram 50,4 milhões.
Para ele, a tendência é que o setor busque um ganho de margem com a estabilização os custos e ganho de eficiência. “Vejo também um movimento maior entre operadoras, empresas e hospitais para trabalhar a promoção e a prevenção da saúde. Gastar onde é necessário”, explica Torelly.
Segundo dados da Anahp, em 2017 o setor hospitalar contratou um terço do volume observado em 2014, mesmo sendo o segundo maior empregador do País, ficando atrás somente do segmento de educação infantil e ensino fundamental. No total, as atividades de atendimento hospitalar geraram 18.612 vagas, resultado de 250.924 admissões e 232.312 desligamentos.
A volta do emprego no setor, para Balestrin, dependerá da retomada econômica. Diferente de outros segmentos, que no ganho de produtividade aprenderam a ser mais enxutos em mão de obra, ele destaca que o setor exige muitos profissionais e deverá voltar aos níveis de contratação históricos aos poucos.