Droga da Merck & Co deve mudar combate ao câncer de pulmão
17/04/2018
A imunoterapia deverá tornar-se o tratamento padrão para a grande maioria dos pacientes com câncer de pulmão, depois de um teste clínico do laboratório farmacêutico Merck & Co., que se chama MSD no Brasil, ter mostrado que um de seus novos medicamentos adicionado à quimioterapia aumenta as chances de sobrevivência.

Diferentemente dos remédios tradicionais contra o câncer, a imunoterapia trabalha encorajando o sistema imunológico do corpo a atacar os tumores. É amplamente celebrada por oncologistas como um dos maiores avanços em décadas.

Alguns pacientes recém-diagnosticados com câncer de pulmão já recebem um novo tipo de tratamento imunológico conhecido como "inibidor de checkpoint" quando seus tumores têm altos níveis de uma proteína conhecida como PDL1. O tratamento padrão para a maioria, no entanto, ainda é a quimioterapia.

Isso parece destinado a mudar depois da publicação de um grande teste clínico, já em sua última fase, divulgado ontem em Chicago, no encontro anual da Associação Americana de Pesquisa do Câncer.

O estudo mostrou que a combinação de quimioterapia com o inibidor de checkpoint da Merck aumentou de forma significativa o índice de sobrevivência dos pacientes com o tipo mais comum da doença, conhecido como câncer de células de pulmão não pequenas e não escamosas (NSCLC, na sigla em inglês).

Pacientes que receberam o inibidor de checkpoint Keytruda e também foram tratados com quimioterapia tiveram chance 51% menor de morrer durante o período do teste em comparação aos que fizeram apenas quimioterapia, segundo o estudo, feito com 616 participantes.

"Esses dados clínicos agora sugerem essa combinação como o novo padrão de assistência médica para o tratamento de primeira linha para esses [...] pacientes", disse a doutora Leena Gandhi, oncologista no NYU Langone Medical Center, que comandou o estudo.

O doutor Roger Perlmutter, cientista-chefe da Merck, disse que os resultados "inequívocos" excederam a expectativa da empresa. "Como tratamento de primeira linha, este é melhor do que qualquer outro que conheçamos", acrescentou.

A combinação de tratamentos, contudo, ainda sujeitou os pacientes aos efeitos colaterais debilitantes e, algumas vezes, potencialmente letais, associados à quimioterapia.
As conclusões significam que, a partir de agora, a maioria dos pacientes com câncer de pulmão por tratar vai receber imunoterapia como tratamento padrão. A dúvida, então, seria decidir se também vão receber quimioterapia como segundo tratamento - ou se podem ser poupados totalmente de seu desgaste.

Os pacientes com níveis maiores de proteína PDL1 - que tendem a responder muito bem à imunoterapia - poderiam ser capazes de evitar a quimioterapia, especialmente quando são mais idosos ou estão fragilizados, segundo o doutor Perlmutter.

"Muito disso tem a ver com o estado de saúde do indivíduo", acrescentou. "É uma decisão muito personalizada, mas o fato de que se veja uma diferença tão dramática quando há a combinação [de tratamentos] acho que vai fazer com que as pessoas fiquem ansiosas por usá-la."

O recente teste consolida a posição da Merck como líder na corrida por lançar tratamentos imunológicos para pacientes com câncer de pulmão, cujo mercado é visto como sendo o mais lucrativo, em vista do grande número de afetados: 1,8 milhão de pessoas são diagnosticadas com NSCLC por ano no mundo, sendo mais de 200 mil nos Estados Unidos.

Os inibidores de checkpoint, que removem freios do sistema imunológico para que este possa combater o câncer, foram criados pela Bristol-Myers Squibb, AstraZeneca e vários outros laboratórios farmacêuticos.

Já foram aprovados para tratar vários tipos de câncer, incluindo os de pele, bexiga e rim. Analistas preveem que esse tipo de medicamento vai gerar vendas superiores a US$ 34 bilhões em seu pico, em 2022.

O teste da Merck com o medicamento também serve de incentivo à teoria de que a combinação entre imunoterapia e outros tratamentos pode aumentar o número de pacientes que reagem positivamente.

Um dado importante é que mesmo pacientes com baixos níveis de proteína PDL1 - que normalmente não reagem à imunoterapia - se beneficiaram da combinação de drogas. Entre esses pacientes, a chance de morte diminuiu 41% em comparação ao que haviam sido tratados apenas com quimioterapia.

A teoria da combinação de tratamentos havia sofrido um grande golpe nas últimas semanas, depois de um grande teste de um medicamento da Merck combinado a outro do grupo de biotecnologia Incyte não ter exibido bons resultados.

A Bristol-Myers Squibb também havia publicado um estudo mostrando que a combinação de duas de suas imunoterapias ampliou o tempo em que um subgrupo de pacientes com câncer de pulmão ficou sem pioras em sua doença.

Os pacientes cujo câncer teve muitas mutações genéticas e que tomaram os dois remédios da Bristol-Myers Squibb ficaram 7,2 meses sem que o câncer crescesse. Os que apenas foram tratados com quimioterapia ficaram 5,5 meses.

Não está claro, no entanto, se os oncologistas e os pacientes vão escolher a combinação da Bristol-Myers Squibb agora que a Merck conseguiu um impacto tão grande nos índices gerais de sobrevivência, ao combinar a imunoterapia e a quimioterapia.

Uma análise inicial do estudo da Bristol-Myers Squibb, ainda não concluído, indicou que o subgrupo de pacientes com um alto grau de mutação nos tumores teve chance 21% menor de morrer durante o teste do que os tratados apenas quimioterapia.

No teste da Merck, a redução das chances de morte, de 51%, levou em conta todos os pacientes com câncer de pulmão.
Fonte: Valor




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