Com a morte do fundador da Amil, Edson Bueno, em fevereiro do ano passado, a relação entre a nova administração e os antigos gestores ficou estremecida. A maior operadora de planos de saúde do país está enfrentando processos trabalhistas movidos por ex-executivos que trabalharam na empresa por cerca de 30 anos.
Um desses casos é do ex-diretor Paulo Bragança Rangel, que ocupou um posto do alto escalão na Amil até 2017. Rangel entrou com uma ação trabalhista com várias reclamações como falta de pagamento de "stock option" (opções de ações) e indenização por danos morais. Rangel ganhou o processo que prevê uma indenização de R$ 13 milhões. Essa quantia pode aumentar porque uma parte da indenização foi fixada em dólar. A vitória foi na primeira instância e a Amil pode recorrer.
Segundo fontes, pelo menos outros três ex-diretores têm ações trabalhistas em andamento na Justiça do Rio de Janeiro e São Paulo. "Com a vitória do Rangel, vários estão pensando em entrar com ações", diz uma fonte que preferiu não se identificar. Esses diretores, conhecidos internamente como "velha guarda", formam um grupo de cerca de dez pessoas.
De acordo com o balanço do ano passado, a operadora de planos de saúde provisionou R$ 153 milhões para cobrir ações trabalhistas consideradas com "provável risco de perda."
Segundo fontes, Bueno estava negociando um pacote de benefícios para os gestores antigos. No entanto, com a morte repentina do empresário, as conversas foram interrompidas e os executivos dispensados sem os benefícios.
A Amil informou que "como política não comenta processos judiciais em que cabe recurso ou revisão da decisão." O ex-diretor Paulo Bragança Rangel não retornou ao pedido de entrevista do Valor.
Das reclamações feitas por Rangel a que gerou maior indenização até o momento neste processo, que é público, foi a falta de pagamento de stock option entre 2012 e 2013, período em que a empresa começou a ofertar o benefício para um grupo de diretores considerados estratégicos. "Como já mencionado, não existe motivo relevante e válido para justificar a exclusão do autor na política estabelecida ao longo dos anos de 2012/2013, condeno a reclamada a indenizar o autor no valor postulado nesta ação no importe de US$ 2,3 milhões", segundo processo assinado pela juíza Sandra dos Santos Brasil, da 1ª Vara do Trabalho de Zona Sul, de São Paulo.
No processo, Rangel também reclama que parte do seu salário era paga "por fora", ou seja, por meio de nota fiscal. A Amil justifica que a parte do salário paga via nota fiscal refere-se aos serviços de consultoria médica prestados por Rangel. O argumento foi negado pela juíza após testemunhos de dois diretores da operadora.
A Amil foi vendida à americana UnitedHealth em 2010 por R$ 10 bilhões. Bueno continuou como presidente até janeiro de 2017, quando foi substituído por Claudio Lottenberg, ex-presidente do Hospital Albert Einstein. No mês seguinte, Bueno foi vítima de um infarto fulminante.
Nos primeiros cinco anos à frente da Amil, a UnitedHealth se debruçou sobre questões como mudanças contábeis para os padrões americanos e provisões exigidas pela Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS). Devido a essas exigências, a Amil apurou prejuízos até 2016, quando o resultado ficou negativo em R$ 323 milhões. Em 2017, a operadora reverteu o resultado final e apurou um lucro de R$ 54 milhões. A receita líquida subiu 15,5%, para R$ 19,3 bilhões.
A partir de 2016, a UnitedHealth começou a implementar mudanças mais visíveis como a divisão da empresa em três áreas: planos de saúde e dental, hospitais e tecnologia aplicada à saúde. Além disso, intensificou-se a troca de executivos e Lottenberg foi nomeado, numa escolha feita pelo próprio Bueno, que levou mais de um ano para encontrar um substituto.