Relatório aponta que Brasil está estacionado no acesso aos cuidados médicos
30/05/2018
A oferta e a qualidade dos serviços de saúde aumentaram globalmente nos últimos 16 anos, principalmente devido a melhorias em países de rendas baixa e média da África e do Sudeste Asiático. Contudo, em outros lugares, como o Brasil, o progresso estacionou, segundo dados do estudo Carga Global de Doenças (GBD, sigla em inglês), divulgado na revista The Lancet. 

O trabalho, realizado pelo Instituto de Métricas e Avaliações em Saúde da Universidade de Washington com a colaboração de mais de 3 mil pesquisadores, incluindo brasileiros, avalia o desempenho de 195 nações em relação ao acesso da população a cuidados médicos, considerando também se o serviço é bem prestado. No cenário nacional, o Distrito Federal tem os melhores resultados.

O Brasil aparece na 96ª posição no ranking. É o terceiro pior colocado da América do Sul, à frente apenas de Paraguai e Bolívia. Quando comparado aos demais, o país caiu na classificação, praticamente retrocedendo para o lugar em que se encontrava em 1990, quando ocupava o 98º. Em 2000, subiu para a colocação 91ª e, em 2016, voltou a cair. 

Pela primeira vez, o estudo traz subanálises de sete países, incluindo o Brasil. O Distrito Federal aparece no topo das 27 unidades da Federação, em contraste com o Maranhão, que está em último lugar. Em 16 anos, a qualidade e o acesso à saúde no DF aumentaram 20,2%. Enquanto isso, Sergipe, 20º da lista, foi o estado com progresso mais lento no período: 0,853%.

Por reunir milhares de dados de 195 países, com estimativas de mortalidade, morbidade, expectativa de vida, carga de doenças em geral, anos vividos com incapacidade e fatores de risco para o adoecimento, o GBD é um dos principais termômetros da saúde global. A pesquisa, coordenada em Washington, avalia os cuidados com a população levando em consideração o índice de Qualidade e Acesso a Serviços de Saúde (HAQ, sigla em inglês), que se baseia no total de mortes por 32 causas que poderiam ser evitadas. Ao lado do índice de cobertura, essa é a referência para se medir acesso e qualidade na saúde pública.

Avanços na África

O HAQ vai de 0 a 100, do pior ao melhor. Em 2016, a média global foi 54,5, contra 42,4 em 2000. Embora o desempenho de países subsaarianos e do sudeste asiático continuem baixos, eles foram os que mais registraram melhoras, puxando para cima a pontuação mundial. A Etiópia, por exemplo, está na 184ª posição, com HAQ de 28,1. É pouco, mas, em 1990, o país ocupava o último lugar do ranking e, em 2000, o penúltimo. Em 16 anos, o índice subiu 14,1%. 

Segundo os autores da pesquisa, os ganhos recentes podem ser um reflexo dos efeitos dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODMs), uma série de compromissos assumidos pelos membros da Nações Unidas com objetivo de, até 2015, melhorar indicadores como mortalidade materno-infantil e infecção por HIV. Por outro lado, Coreia do Norte, Cazaquistão, Quênia, Lesoto, Zimbábue, Zâmbia, Afeganistão e Chade tiveram variação negativa.

Apesar da evolução geral, o estudo explicita o tamanho da desigualdade no direito a um atendimento de qualidade. A Islândia mantém-se no primeiro lugar do ranking desde 1990, com índice de 97,1 — são 78,5 pontos a mais que o último da lista, a República Centro-Africana (18,1). Em 2000, a disparidade foi similar: a distância entre a Islândia e a Somália, então em 195º lugar, foi de 79,3. “Esses resultados enfatizam a necessidade urgente de melhorar tanto o acesso quanto a qualidade dos serviços de saúde, sob pena de os sistemas de saúde enfrentarem lacunas ainda maiores entre o que oferecem e as reais necessidades da população”, observa o coordenador do estudo, Rafael Lozano.

Destaques europeus

Depois da Islândia, os mais bem colocados estão na Europa, à exceção de Austrália: Noruega (96,6), Holanda (96,1), Luxemburgo (96), Austrália (95,9), Finlândia (95,9), Suíça (95,6), Suécia (95,5) e Itália (94,9). Das Américas, o primeiro a aparecer na lista são os Estados Unidos, que ocupam a 29ª posição, com HAQ de 88,7. O estudo chama atenção para fato de o país ter feito pouco progresso desde 2000, quando pontuou 86,8, e de também haver disparidades entre os estados americanos.

“As bases necessárias para alcançar uma cobertura universal das metas de saúde incluem diversos arranjos dos sistemas de saúde de cada nação, priorização da saúde nas políticas públicas e capacidade de países de renda baixa a pobre de executar funções essenciais do sistema de saúde apropriadamente”, avaliou, em um comentário publicado na The Lancet, Svetlana V. Doubova, do Instituto Mexicano de Seguridade Social.




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Erro!
Adriano em 31/05/2018, às 07h09
Muito bom 
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