Recentemente a operadora Humana entrou na corrida de aquisições de instituições de saúde, da qual já participavam a pioneira UnitedHealth Group, além da Centene Corp e Anthem. Esse já é um movimento esperado e conhecido como verticalização. Funciona como um esforço para se controlar os gastos dentro do sistema, afastar a consolidação das clínicas e gerenciar os cuidados com os pacientes visando melhorar a qualidade e os resultados.
Dito isso, a Humana escolheu como estratégia investir em hospices. Segundo o New York Times, o negócio de cuidar daqueles que estão em cuidados paliativos se tornou uma indústria multibilionária, e que está em expansão, atraindo inúmeras empresas com fins lucrativos, entre elas uma das maiores operadoras americanas, a Humana.
Isto está além das apostas comuns de se adquirir farmácias ou clínicas. Logo, a Humana se tornará a maior fornecedora de cuidados paliativos dos EUA. Ela já uniu forças com duas empresas de investimentos em private equity, a TPG Capital e a Welsh, Carson, Anderson & Stowe, para em Dezembro do ano passado, assumir a divisão de cuidados domiciliares da Kindred Healthcare. E agora ela planeja comprar duas cadeias de cuidados paliativos. Como core, a Humana fornece planos Medicare Advantage a cerca de 3 milhões e meio de pessoas. Mas quer também dominar o cuidado com os que estão nas fases finais da vida, seja prestando ajuda em um ambiente doméstico ou em uma instalação.
Seguindo um outro plano, a UnitedHealth Group está à frente do grupo de aquisições com sua subsidiária OptumCare, que realiza diversos atendimentos médicos à população anualmente. Geralmente os fornecedores estão em uma posição privilegiada. Para os pagadores, é definitivamente um mecanismo de defesa para se estreitar o relacionamento com o paciente e controlar o fluxo e custos médicos. Isso é um grande passo, visto que diferentemente do sistema de saúde brasileiro, somente 2% dos médicos são empregados diretamente por operadoras de saúde nos EUA.
A escolha controversa da Humana é um risco. Existem enxurradas de processos judiciais do governo, inclusive contra os dois hospices que a Humana deseja comprar, que cobram negligência e prevaricação contra alguns prestadores de cuidados paliativos, e ressalta os riscos de lucrar com as pessoas que estão morrendo: empresas foram acusadas de inscrever pessoas que não estão doentes terminais no programa, negar visitas médicas ou recusar idas ao hospital. Segundo especialistas, o perigo, quando uma empresa com fins lucrativos está prestando assistência, é o foco estar mais nos lucros do que na qualidade. É preciso ter certeza de que a qualidade está no centro do negócio.
Lembrando que a United também possui uma unidade de cuidados paliativos, a Evercare, e foi acusada de pagar bônus para funcionários caso atingissem a meta de inscrição de pacientes.
Grande parte do interesse em cuidados paliativos vem impulsionado pelo Medicare. Em números mais recentes, de 2016, o programa gastou cerca de US$ 17 BI com tais cuidados. Normalmente o serviço é destinado a pessoas com expectativa de vida de até 6 meses.
Os hospices recebem uma quantia fixa por dia e devem supervisionar os cuidados de doentes terminais, incluindo toda assistência necessária. Prestar cuidados paliativos pode ser um “negócio bastante lucrativo”, disse Emily Evans, diretora administrativa da Hedgeye Risk Management, uma empresa de pesquisa. Ela calcula que algumas empresas privadas obtêm uma margem de lucro extremamente alta de 40%.
Segundo analistas, qualquer operadora que ofereça um plano Medicare Advantage se beneficiaria em ver os pacientes optarem por cuidados paliativos, em vez de continuar com tratamentos muito mais caros no final da vida.