Depois de décadas nas quais a batalha contra a poliomielite parecia ganha, o número de casos da doença ameaça crescer no Brasil. Mais de 300 municípios, a maior parte na Bahia, estão em risco de surto, segundo levantamento do Ministério da Saúde divulgado pela Agência Brasil. Nesses lugares, a cobertura está abaixo de 95%, o que abre brecha para a disseminação do vírus.
Pode parecer um exemplo de descaso das autoridades na área da saúde. Mas aparentemente é algo mais singelo e talvez mais difícil de resolver. O motivo seria a omissão dos pais, aparentemente não preocupados em vacinar seus filhos.
O relato dessa suposta resistência lembra um pouco o cenário que se seguiu aos alertas sobre o retorno dos casos de febre amarela ao Brasil. Depois de uma corrida inicial a postos de saúde e até a clínicas particulares, a procura diminuiu e acabou sobrando vacina.
É certo que, no caso da febre amarela, o desinteresse que substituiu o pânico inicial foi alimentado por uma desconfiança sobre a eficácia da dose fracionada. Sem entrar no mérito da questão, não é o caso da pólio. A eficácia da vacina é comprovada, tanto que o Brasil é considerado livre da doença pela Organização Mundial da Saúde (OMS) desde 1990.
O desinteresse pela vacinação e outras formas de prevenção de doenças é um mal difícil de combater. Embora as providências possam parecer simples, como campanhas de esclarecimento, o engajamento efetivo da população não depende só de publicidade.
Ainda assim, há medidas práticas para reverter a situação. O próprio Ministério recomenda aos gestores locais ações que fazem pensar que a baixa cobertura não reflete apenas o alegado desinteresse dos pais.
A pasta sugere readequar horários de atendimento nos postos e promover parcerias com creches e escolas, de forma a encaixar a vacinação como uma opção viável na rotina dos pais. A orientação é alinhada com a percepção de que o sucesso de políticas públicas, especialmente na área da saúde, depende tanto das autoridades quanto da população.