Uma iniciativa que reúne mais de 50 especialistas em doenças do tórax vai somar a experiência de médicos à tecnologia para tentar identificar o câncer do pulmão, em seus estágios iniciais, mesmo em regiões que não disponham de centros de referência.
A plataforma Propulmão, lançada semana passada, foi idealizada por Ricardo Sales dos Santos, doutor em cirurgia torácica do Hospital Albert Einstein. Ele conta que o projeto teve início em 2013, quando profissionais do hospital avaliaram 790 pessoas consideradas do grupo de risco – entre 55 e 74 anos, que fumavam ou haviam fumado pelo menos um maço por dia por três décadas – por meio de tomografia de baixa dosagem. Esse já era um parâmetro de prevenção aprovado nos Estados Unidos e em alguns países europeus, capaz de detectar o câncer de pulmão antes de os sintomas se manifestarem.
Foi o ponto de partida para o doutor Ricardo Sales: “o Brasil tem muitas cidades sem um profissional da especialidade e os pacientes são atendidos por outros médicos que podem ter mais dificuldade no diagnóstico. Queríamos criar uma forma de reproduzir aquela ação em outros estados. Na plataforma não estarão apenas as informações sobre o paciente. Essa tecnologia, desenvolvida com o auxílio da inteligência artificial, permitirá que imagens de exames sejam baixadas e fiquem armazenadas. Assim, através da telemedicina, ou seja, da medicina à distância, será possível que especialistas, inclusive de diferentes cidades, ajudem no diagnóstico e na conduta médica. Na fase inicial do câncer de pulmão, o paciente é submetido apenas à cirurgia e tem entre 80% e 90% de chances de cura”.
Infelizmente, mesmo depois de apresentar os primeiros sintomas, é comum que o doente leve seis meses até chegar a um especialista. Os sintomas, como dor torácica, tosse com sangramento e emagrecimento, também podem estar relacionados a outras doenças pulmonares, o que complica o quadro. “Essa fase latente frequentemente é bastante prolongada e mais de 90% dos pacientes são diagnosticados na fase avançada da doença, quando a cura é menos provável. Por isso, apesar de melhores resultados com a imunoterapia e terapias-alvo, cerca de 65% das pessoas diagnosticadas morrem em menos de um ano”, explica o médico. Vale ressaltar que os novos tratamentos são muito caros.
Nessa primeira etapa, a Propulmão funcionará em seis estados (Bahia, Minas Gerais, Paraíba, Paraná, Pernambuco e São Paulo) e no Distrito Federal. Por enquanto, no âmbito da saúde privada, mas o cirurgião é otimista com o potencial da iniciativa. “A primeira ação, realizada em 2013, teve o apoio do Ministério da Saúde, através do Proadi, e todos os pacientes com a doença foram atendidos e tratados pelo SUS no Hospital Albert Einstein.
Se ampliarmos o cadastro de pessoas do grupo de risco e elas forem submetidas a exames periódicos, haverá uma grande economia de recursos. O Brasil ainda vive numa era de subnotificação, mas agora a notificação do câncer é obrigatória e a Propulmão está pronta para auxiliar todos os médicos nessa tarefa”, acrescentou. Para entender a gravidade da situação, nos EUA, com uma população de 250 milhões, são registrados 230 mil casos por ano de câncer de pulmão; aqui somos 200 milhões e apenas 30 mil casos são registrados anualmente. Os números também variam de acordo com a região: como se poderia imaginar, o maior número de notificações está no Rio Grande do Sul e os índices caem fortemente no Nordeste e no Norte.