Nove em cada dez médicos que trabalham em território paulista declararam que há algum tipo de interferência dos planos de saúde no exercício da profissão. É o que revela uma pesquisa do Instituto Datafolha divulgada ontem (19).
Encomendada pela Associação Paulista de Medicina (APM), a análise mostrou que a principal intervenção das operadoras se dá com a glosa (censura) de procedimentos ou medidas terapêuticas. Essa ação foi citada por 64% dos 615 médicos consultados entre os dias 12 de junho e 2 de julho deste ano.
Os profissionais também indicaram que existem interferências relacionadas a restrições no tratamento de doenças pré-existentes (60%), a solicitações de exames para o diagnóstico e alternativas de tratamento (59%) e ao número de exames ou procedimentos (54%).
Ainda foram mencionadas influências dos planos no caso de prescrição de medicamentos de alto custo (50%), sobre o período de internação pré-operatório (50%) e o tempo da internação dos pacientes (47%).
Segundo especialista consultado pelo DCI, muitas intervenções das operadoras prejudicam o tratamento de pacientes.
“Pode acontecer de um médico indicar um tratamento e a operadora impor obstáculos para a sua realização. Em outros casos, há uma pressão para dar alta a pacientes que ainda não têm condição para isso”, afirma Mauro Aranha, coordenador do departamento jurídico do Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo (Cremesp).
O especialista também criticou a atuação da Agência Nacional de Saúde (ANS), responsável pela fiscalização dos planos. “A agência tem mostrado uma leniência grande com alguns abusos cometidos pelos planos de saúde.”
Já a Associação Brasileira de Planos de Saúde (Abramge) defendeu, em nota divulgada ontem, que as operadoras são “sempre bem avaliadas, com média entre 70% e 80% de satisfação”, em pesquisas de opinião.
Em seguida, afirmou que “se mantém à disposição para manter um diálogo aberto” com os profissionais da categoria.
Clientes insatisfeitos
O levantamento também mostrou uma grande insatisfação dos clientes com os planos de saúde. Neste ano, 96% dos consumidores (cerca de 10,8 milhões de pessoas) relataram ter enfrentado problemas com as operadoras no Estado de São Paulo. No levantamento anterior, feito em 2012, 77% dos paulistas fizeram o mesmo tipo de reclamação.
Foram encontradas mais dificuldades no pronto atendimento e nas consultas. Nestas áreas, 82% e 76% dos indivíduos que usaram os serviços relataram problemas, respectivamente.
Também foram mencionadas complicações com exames diagnósticos (72%), internações hospitalares (53%) e procedimentos cirúrgicos (24%).
A pesquisa indicou, ainda, que 31% dos consumidores que não encontraram opções em seus planos de saúde tiveram que recorrer ao Sistema Único de Saúde (SUS) para resolver seus problemas. A parcela é superior à registrada em 2012, quando 20% das pessoas tiveram que apelar ao atendimento público.
Ainda assim, apenas 4% dos paulistas consultados disseram, neste ano, ter recorrido à Justiça contra alguma operadora de saúde. Para a realização dessa parte do levantamento, foram entrevistados 836 indivíduos entre os dias 25 de abril e 2 de maio.