Hospitais criam programas para captar doações
30/07/2018
Hospitais de excelência que atendem pelo SUS em São Paulo estão investindo na profissionalização da captação de recursos. O movimento começa a tomar corpo no HC, Incor e A. C. Camargo, instituições nas quais as doações têm forte impacto.

Em comparação com os Estados Unidos, é normal se ouvir que o Brasil tem pouca ou quase nenhuma cultura em doações. Mas esse pouco – que em alguns casos chegam a ser doações milionárias – tem feito a diferença para o funcionamento de hospitais de excelência de São Paulo que atendem pelo SUS, como Hospital das Clínicas, Incor e A.C. Camargo. Começa a ganhar força um movimento em várias dessas instituições para profissionalizar seus mecanismos de captação de doações.

O Incor, por exemplo, planeja lançar até o final do ano o programa Incor+100 que tem a expectativa de alcançar, em algum momento no futuro próximo, um volume de R$ 100 milhões em doações por ano.

O Hospital das Clínicas, depois de receber algumas doações que permitiram reformas de alas inteiras (leia mais nesta página), desenvolveu uma metodologia de elaboração de projetos para captar de modo mais consistente em várias áreas.

E o A.C. Camargo Cancer Center – que vinha contando só com doações de empresas por meio de projetos de incentivos fiscais – também está abrindo um escritório especificamente para fazer a busca ativa por doadores.

Até não muito tempo atrás, essas instituições se valiam, por um lado, dos bons contatos de médicos de ponta que também atendem nos principais hospitais privados da capital, e por outro de filantropos que se dispunham a doar por conta própria. É o que agora se busca mudar.

“Doações são sempre bemvindas, mas o que recebemos hoje ainda é muito pouco, principalmente porque não temos uma estrutura de captação própria”, afirma Roberto Kalil Filho, presidente do conselho diretor do Incor. Entre 2010 e 2017, doações de pessoas físicas e jurídicas somaram cerca de R$ 10 milhões. “Queremos quintuplicar já no próximo ano”, diz.

O trabalho de profissionalização das captações foi iniciado há dois anos. No começo de 2018, foi criado um Comitê Comunitário, coordenado pelas organizadores de eventos Bia Aydar e Fabiola Lutfalla, que passou a liderar o esforço de arrecadação para projetos prioritários. Um deles é a reforma da cozinha, estimada em R$ 20 milhões. Outro é a criação de um centro de cardio-oncologia, para estudar os efeitos colaterais de químio e radioterapia no coração.

Além da busca ativa por doadores, outras estratégias de arrecadação são o lançamento de uma campanha publicitária para tornar o Incor mais conhecido – doada pela agência África – e um serviço “tipo Teleton” para o recebimento de doações por um telefone 0500, em análise no Ministério das Comunicações.

Metodologia. A necessidade dessa profissionalização é algo foi percebido já há algum tempo pelo urologista Miguel Srougi, professor da Faculdade de Medicina da USP. Ele era professor da Escola Paulista de Medicina quando conseguiu sua primeira grande doação – R$ 13 milhões, em 1998, para uma reforma no Hospital São Paulo.

“Resolvi me envolver. Estudei bastante porque há muito espaço para isso, mas ainda não temos a cultura. Fui entender os princípios de fundraising, de como é preciso ter experiência e tocar fundo os doadores”, diz.

Srougi desenvolveu uma metodologia para elaborar projetos e levou a experiência para o HC. Uma das doações conseguidas, de R$ 5,3 milhões, permitiu reformar a pediatria da Urologia. É um projeto que melhorou a qualidade de vida de crianças como Davi Lukas, de 4 anos, que nasceu com síndrome de Prune Belly, sem testículos nem pênis.

“Foram duas cirurgias logo que nasceu (no interior de Minas, onde vivem), e aguardamos a terceira aqui”, conta a mãe, Luciene Maria dos Santos. No hospital, ela só conseguia descontraílo na brinquedoteca. Sua diversão era desenhar peixinhos.




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