Os Medicamentos Isentos de Prescrição Médica (MPIs) vêm ganhando maior participação nas vendas totais das redes farmacêuticas. O movimento, que poupa anualmente R$ 364 milhões do sistema público de saúde em atendimentos, é sustentado em parte pelo hábito do brasileiro de se automedicar e pelos altos custos das consultas particulares.
"Grande parte das famílias brasileiras têm uma 'mini farmácia' dentro de casa, com medicamentos para primeiros socorros e também antigripais. Nos últimos três anos, temos percebido um aumento de 20% dessa categoria de remédios no nosso negócio", destacou o proprietário da rede farmacêutica Farmaluz, José Lúcio Alves.
Para o executivo, a importância do comércio desse tipo de produto vem crescendo muito em função das ações de divulgações em veículos como o rádio, TV e, sobretudo, nas redes sociais. "Atualmente, essa categoria de remédios representa em torno de 8% do nosso faturamento. Para o próximo ano, esperamos atingir até 15% dessa parcela", disse.
Ele menciona ainda o fato de que foi realizado - juntamente com a Federação Brasileira de Redes Associativistas e Independentes de Farmácias (Febrapar) - um trabalho de reformulação da disposição dos MIPs dentro das redes do negócio. "Passamos a colocar estrategicamente esses produtos no caixa a fim de induzir a compra e facilitar a visualização dos medicamentos", explicou.
Alinhado à perspectiva de que o brasileiro tem o hábito de "estocar" remédios, o diretor da rede farmacêutica Sou Mais Farmácia, Giovani Bondança, lembra que a demanda por essa classe de fármaco deve apresentar alta em virtude da falta de acesso de uma parcela da população aos médicos particulares. A título de informação, segundo os dados da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), nos últimos três anos, 3,1 milhões de usuários deixaram de pegar planos de saúde particulares.
"Vejo esse segmento de produto crescendo muito. Hoje as pessoas buscam informações médicas pela internet e acabam se automedicando, além disso, é uma facilidade para o paciente que não tem acesso imediato ao médico, suprindo uma necessidade pontual", observou Bondança.
Ainda de acordo com ele, anualmente a demanda pelos MIPs nas unidades da rede tem crescido de 9 a 11%. Hoje, a participação desses produtos é de 39% sobre as vendas totais do negócio - com maior procura pelos relaxantes musculares e antitérmicos.
Questionado sobre a venda online dos MIPs, o executivo afirmou que, no momento, o negócio não atua no ambiente virtual. "Até o final de 2019, vamos começar a operar tanto com um site próprio como também em marketplaces", disse ele, destacando que esse processo requer planejamento logístico para suprir as demandas de encomendas.
Ainda sobre esse tipo de comércio virtual, o sócio-diretor da consultoria GS&Consult, Alexandre Machado, pondera que enxerga a venda online dessa categoria de medicamentos "engatinhar" fora dos grandes centros urbanos, com logística mais complicada. "Mesmo cobrando um pouco mais caro, é uma questão de conveniência pois a população do interior geralmente não gasta tempo com deslocamento dentro das cidades", disse.
Segundo Machado, no geral, as redes de farmácia ganham maior margem de lucro sobre o volume comercializado do que propriamente sobre o valor de cada MIP.
Futuro promissor
No caso de uma das maiores redes farmacêuticas da América do Sul, a RD, a ampliação do percentual de participação desses produtos sobre as vendas totais pode ser observado nos balanços dos últimos anos. Em nota enviada ao DCI, a controladora da Drogasil e Droga Raia afirmou que, no comércio dos MIPs "a empresa teve um crescimento de 18,8% no segundo trimestre de 2018 e com isso, ganho de 1,4 ponto percentual de participação no mix de vendas ante o segundo trimestre de 2017."
Em relação à pretensão de aumento gradual desse percentual nas vendas brutas, a controladora disse apenas que pretende abrir, em 2019, novas 240 unidades no território nacional - sem abrir mais informações futuras.
Por fim, o comunicado da RD ressaltou que em todas as suas unidades da Droga Raia e Drogasil há um atendimento qualificado e que "conta com o apoio do farmacêutico para dar suporte ao cliente quanto às dúvidas e orientações sobre o uso destes medicamentos."