Cerca de 22 milhões de idosos dependem com o Sistema Único de Saúde (SUS)
04/10/2018
Mais de 22 milhões de pessoas acima dos 50 anos dependem exclusivamente do Sistema Único de Saúde (SUS). Esse número corresponde a 75,3% dos idosos no Brasil. Os dados constam do Estudo Longitudinal da Saúde dos Idosos Brasileiros (Elsi), divulgado pelo Ministério da Saúde, que mostra o perfil de envelhecimento no país.

Para a coordenadora-geral do estudo e pesquisadora titular da Fiocruz em Minas Gerais, Maria Fernanda Lima-Costa, o ponto que precisa de maior atenção é a forma de atendimento ao idoso. “Essa grande dependência do SUS demonstra a importância da ‘Saúde da Família’ no atendimento ao idoso. Com esse tipo de estratégia é possível prevenir e detectar doenças precocemente.”

Os dados também mostram a maior presença da terceira idade no uso dos sistemas de saúde. “Existem programas voltados à maternidade e à infância, que são muito importantes. Mas também é preciso perceber a mudança demográfica e criar políticas de saúde que incluam o idoso”, emenda a médica e coordenadora.

A pesquisa ainda aponta que 83,1% dos idosos fizeram pelo menos uma consulta médica nos últimos 12 meses e 10,2% foram hospitalizados uma ou mais vezes no mesmo período, considerando atendimentos tanto na rede pública quanto na privada.

Nicodemos Querino, de 64 anos, trabalha há 34 no serviço de saúde pública e, por isso, conhece bem a realidade dos hospitais. “Eles têm de dar recursos para que os leitos parados voltem a funcionar. Não só isso, mas que também tenham os remédios e exames que o povo precisa”, explicou.

Odete de Araújo Lima, 70, é vítima da burocracia do SUS. A maranhense passou três meses esperando o tratamento para um tumor na cabeça em sua cidade natal, Barra da Corda, mas não conseguiu. Ela, então, teve de vir a Brasília para ter acesso ao cuidado de que precisava. “Eu sentia fortes dores de cabeça e as minhas febres eram muito altas”, contou.

Para o pesquisador e médico do Centro de Medicina do Idoso do Hospital Universitário de Brasília Einstein de Camargos, o grande número de idosos buscando ajuda médica exige do sistema um atendimento diferenciado. “A primeira coisa é capacitar os profissionais do SUS, principalmente os médicos, para atender de forma correta essas pessoas”, afirma. “E depois, criar locais de atendimento melhores, mais silenciosos, com cadeiras mais confortáveis, com macas mais baixas, pisos não escorregadios. Enfermarias específicas também são importantes, porque, muitas vezes, as doenças dos idosos são diferentes, e essa estratégia pode melhorar a qualidade no atendimento.”

O estudo entrevistou, entre 2015 e 2016, 10 mil pessoas com 50 anos ou mais em 70 municípios das cinco regiões brasileiras.

Temor

O estudo, divulgado no Dia Internacional do Idoso, mostra que o principal temor dessa faixa etária é de queda. Cerca de 43% dos entrevistados afirmaram ter medo de cair na rua. Para o médico Einstein de Camargos, tanto quedas na rua quanto em casa devem-se, além da falta de acessibilidade, à fraqueza muscular, falta de exercícios, obesidade e desnutrição. “A forma de prevenção desse problema é fazer atividades físicas, treinos para o equilíbrio, seguir as recomendações médicas e evitar tomar medicamentos que dão sono durante o dia”, explica.

O motorista Benedito do Amaral, 65, morador de Luziânia, paga R$ 1.800 por mês de plano de saúde, mas não está satisfeito com o uso. De acordo com ele, os médicos da rede particular não conseguiram controlar sua taxa do diabetes e foi preciso recorrer ao SUS. “Só uma médica do SUS conseguiu conter. Agora, até os remédios para o problema eu pego no posto de saúde”, contou.

Mas, mesmo com a boa experiência com a saúde pública, ele teme não poder pagar mais o convênio em breve, quando se aposentar. “Eu sei que dei sorte. Tenho medo de não pagar o benefício e ficar à mercê de hospital público”, contou.
 
Fonte: Anahp




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