Saúde Pública da Inglaterra testa triagem de pacientes por aplicativo
23/10/2018

Todo mundo já passou pela situação de perceber alguns sintomas incômodos e buscar a esmo, no Google, se são alarmantes ao ponto de exigir uma ida ao médico. A inteligência artificial (IA) já pode ajudar a resolver essa dúvida. Após ouvir as queixas do paciente, um sistema treinado é capaz de sugerir possíveis diagnósticos e indicar se é ou não necessário buscar uma opinião (humana) especializada. Tudo isso pelo próprio smartphone.

Essa é a proposta de aplicativos como Babylon Health, segundo destaca uma reportagem do site MIT Technology Review. Desenvolvido no Reino Unido, ele atua como uma espécie de “triagem” entre pacientes e médicos e chegou a ser adotado pelo sistema de saúde pública do país. Seu sistema se baseia em recursos como processamento de linguagem e machine learning para ouvir, entender e “classificar” os sintomas relatados pelos usuários com base em extensos bancos de dados médicos.

Dependendo do diagnóstico preliminar, o aplicativo pode tanto recomendar repouso ou a ingestão de medicamentos quanto indicar que a pessoa procure um médico. Uma opinião humana especializada também é indicada para os casos em que o algoritmo não é capaz de identificar a possível causa dos sintomas.

A principal missão do aplicativo, segundo o texto, é oferecer um serviço de saúde acessível a “todas as pessoas do mundo”. Além disso, o sistema também oferece eficiência ao evitar que os pacientes recorram a médicos sem necessidade – o que gera filas nos hospitais e consultórios e também leva as pessoas a perder tempo.

Segundo o texto, testes realizados no serviço de saúde britânico no ano passado deram uma dimensão dos resultados. Ao ligar para o serviço de atendimento não emergencial, os pacientes podiam escolher entre ser atendidos por um humano ou fazer o download de um aplicativo baseado no sistema do Babylon. Das 40 mil pessoas que testaram o serviço, 40% foram direcionadas a tratamentos auto-aplicados. O percentual é cerca de três vezes maior do que entre os pacientes atendidos por uma pessoa – embora o percentual de pacientes aconselhados a procurar ajuda médica tenha sido o mesmo (21%) nos dois tipos de atendimento.

Após se fortalecer no Reino Unido, o aplicativo chegou a Ruanda e tem planos para chegar a países como Estados Unidos, Canadá e China. Ele também tem investido em uma modalidade de “médicos digitais”, pela qual o paciente poderia conversar com um médico real por meio de vídeo. O contato, contudo, ainda seria o “último recurso”, utilizado apenas quando necessário.

Substituição controversa

Assim como outros diversos recursos de IA direcionados à saude, esse tipo de plataforma também gerou preocupação por suas possíveis implicações. Uma das principais críticas, como já se pode imaginar, diz respeito aos riscos envolvidos em confiar tal responsabilidade a um algoritmo.

Em resposta aos céticos sobre a capacidade de acerto, o aplicativo foi submetido ao exame final do The Royal College of General Practitioners (RCGP), no qual os clínicos gerais do Reino Unido precisam ser aprovados para exercer a profissão. Segundo a reportagem, o sistema de IA por trás do Babylon fez uma pontuação de 81%, 9 pontos acima da nota média obtida pelos estudantes de medicina.

Mas ainda há outras questões envolvidas na discussão. Em meio a escândalos envolvendo empresas de tecnologia, como o Facebook, o uso que aplicativo faz dos dados dos pacientes é uma delas. Também se discute as consequências de desestimular o contato real entre pacientes e médicos – algo considerado crucial no sistema de saúde como um todo.

Quanto a isso, nem mesmo a equipe por trás do aplicativo se atreve a discordar. “O cuidado [de saúde] não é apenas diagnosticar ou prescrever medicamentos”, diz Mobasher Butt, médico e membro da equipe fundadora da Babylon, em entrevista à reportagem. “É sobre saber que seu paciente será capaz de lidar com a quimioterapia que você está propondo para eles, sabendo que sua família poderá oferecer-lhes o apoio de que precisarão pelos próximos meses. Atualmente, não há software que possa substituir isso”.





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