Profissionais da saúde revelam efeitos práticos da arte nos hospitais
14/01/2019

Tarefas triviais dentro de um hospital como tirar sangue e fazer punções são facilitadas quando a música e a narração de histórias estão presentes.

A constatação é dos próprios profissionais da saúde que acompanham o Projeto Promovendo Cultura nos Hospitais, realizado pela Arte Despertar em sete hospitais da capital paulista.

“Esse trabalho com certeza tem impacto no tratamento dos pacientes. Quando a equipe precisa pegar a veia das crianças, elas choram, ficam muito nervosas, irritadas, e os arte-educadores conseguem acalmá-las. Isso é uma grande ajuda, modifica tudo”, aponta Marisa Cavalcanti, voluntária no GRAACC (Grupo de Apoio ao Adolescente e à Criança com Câncer).

O objetivo das intervenções realizadas pela Arte Despertar é justamente minimizar o estado de preocupação que surge com a doença e a hospitalização, estimular a criatividade e a autoestima, amenizar a tensão, diminuir o estresse provocado pelo ambiente hospitalar e incentivar o diálogo, contribuindo para a melhora do acolhimento e o relacionamento.

Os principais resultados são o fortalecimento dos vínculos e uma comunicação mais efetiva entre profissionais da saúde, pacientes e acompanhantes, o que favorece a empatia em suas relações.

Para a enfermeira Juliana Bernardo, do ICESP (Instituto do Câncer de São Paulo), estes efeitos se refletem em todo o ambiente hospitalar, à medida que os arte-educadores vão visitando as diferentes alas da instituição especializada em tratamentos oncológicos.

“O fato de os pacientes se sentirem mais tranquilos com a música e as histórias facilita o nosso trabalho, porque eles se tornam mais receptivos. Então, muitas vezes a pessoa chega um pouco mais fechada, mais reclusa, mais triste e depois que os arte-educadores passam, você sente que o clima ficou mais leve para todo mundo”, relata.

A também enfermeira Carina Hamburg, do Incor (Instituto do Coração), faz constatação semelhante. Para ela, a arte é capaz de transportar os pacientes para fora daquele momento difícil vivido no hospital, ao possibilitar que revisitem aspectos positivos de suas vidas.

Os profissionais da saúde, segundo a enfermeira, também têm os seus dias impactados positivamente pelas intervenções, ao aliviarem as tensões comuns ao ambiente hospitalar.

“É um momento do dia que a gente consegue relaxar, só pelo fato de ver como os pacientes gostam de receber a visita deles, como se alegram, cantam junto. Acho que qualquer momento que tire a gente da realidade do dia a dia no hospital, já tem um valor enorme”, afirma ela.

Como funciona o Projeto

Quando decidiu entrar num hospital pela primeira vez, em 1997, para levar arte a crianças hospitalizadas, Regina Vidigal Guarita não imaginava o quanto aquela iniciativa seria capaz de se propagar para muito além do bem-estar dos pacientes.

“Naquela época ainda não havia essa cultura de realizar intervenções artísticas nos hospitais, e lembro de os profissionais da saúde olharem para nós como se fôssemos extraterrestres. Com o decorrer do tempo, porém, eles próprios passaram a se envolver e, inclusive, a solicitar a nossa presença em diferentes alas”, conta Regina, diretora-presidente da Arte Despertar.

A partir da necessidade dos pacientes e profissionais conviverem num ambiente mais leve e propício ao restabelecimento de suas saúdes física, mental, emocional, o projeto cresceu e passou a levar narração de histórias e música para sete instituições de saúde da capital paulista. Em 21 anos, mais de 385 mil pessoas foram impactadas.

Duas vezes por semana, em dois períodos diferentes, os arte-educadores percorrem as alas dos hospitais com um vasto repertório de histórias e músicas que se conectam diretamente com o momento vivido pelos pacientes.

“Enquanto os profissionais da saúde cuidam da doença, nós potencializamos o lado saudável, que são as memórias e as histórias de vida de cada um. E isso, claro, acaba impactando também a saúde emocional do profissional da saúde, que lida com rotinas altamente estressantes nos hospitais”, conclui Regina.





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