Acidentes com escorpiões estão crescendo no país. Mais de 140 mil pessoas foram picadas no ano passado, o que representa 16 mil a mais que no ano anterior, segundo último boletim divulgado pelo Ministério da Saúde na sexta-feira (11).
“Os acidentes com escorpião estão em franco crescimento, principalmente no interior de São Paulo, onde ocorre a maioria dos acidentes graves”, afirma o biólogo Claudio Maurício Vieira, do Instituto Vital Brazil, órgão vinculado à Secretaria Estadual de Saúde do Rio de Janeiro, referência na área de soros antipeçonhentos.
De acordo com o Ministério, o maior número de acidentes ocorre na região Sudeste, com 65 mil notificações. Em 2018, foram registrados 39 mil casos e 20 mortes no Estado de São Paulo.
A espécie predominante no Sudeste é a Tityus stigmurus, também chamada de escorpião-amarelo, considerada uma das mais perigosas devido a alta toxidade de seu veneno, segundo o biólogo.
Onde tem barata, tem escorpião
A principal forma de prevenção de acidentes com o animal é manter os ambientes limpos e organizados, não só dentro da casa, mas também nos arredores, segundo o biólogo Leonardo Carvalho, especialista em aracnídeo e professor da Universidade Federal do Piauí.
“Ambientes propícios para escorpiões são aqueles com abundância de alimento, as baratas. Medidas devem ser adotadas para eliminar alimentos para esses insetos, como não deixar lixo ou entulho acumulados e madeira velha. Escorpiões aparecem porque estão atrás de comida”, afirma.
O escorpião é um animal de hábitos noturnos que se movimenta durante a noite, em busca de alimento, e sem esconde durante o dia. “Eles não têm um local fixo, não fazem toca. Eles se escondem no primeiro local que encontram”, explica.
A preferência é por locais escuros, úmidos e com pouco movimento, tanto na área externa como interna da casa, segundo o Manual de Controle de Escorpiões do Ministério da Saúde. Entre eles estão sapatos, roupas, ralos, batentes de portas e janelas, assoalhos soltos, frestas na parede, caixas de energia, armário sob a pia, panos de chão e toalhas penduradas.
São ainda focos de ocorrência do animal construções, lixos, troncos e folhas caídas, viveiros de plantas, margens de córregos, galerias de esgoto e bocas de lobo. Em prédios, merece atenção o fosso do elevador, caixas de passagem e de gordura, caixas e pontos de energia e lixeiras.
‘Achei que era um gafanhoto’
A auxiliar de produção, Alexsandra Santos, 39, foi picada por um escorpião enquanto trabalhava em uma fábrica na zona norte de São Paulo. “Senti uma picada na mão enquanto manuseava uma caixa de madeira. Achei que era um gafanhoto, mas quando olhei, era um escorpião”, conta.
Ela sentiu ardência e dormência no ferimento, que se estendeu por todo o braço. No hospital, recebeu tratamento para os sintomas e foi liberada para ir para casa.
Já o pintor John Muniz, 30, sofreu o acidente com o animal na rua, na região central de São Paulo. “Durante meu horário de almoço, deitei na calçada, onde havia madeiras, e levei uma picada nas costas. Era um escorpião-amarelo”.
Muniz afirma que teve dor local e febre. “Recebi soro no hospital”. Hoje, diz evitar locais com entulhos, que poderiam atrair escorpiões.
O biólogo explica que o escorpião se reproduz sozinho – não há a necessidade de um casal de animais –, de uma a três vezes por ano desde que esteja bem alimentado. “Como é um animal que se adaptou ao ambiente urbano, pode se reproduzir em qualquer lugar, não apenas em galerias de esgoto”, explica.
O Ministério ressalta que o escorpião não ataca o homem, só pica para se defender. “O veneno é uma estratégia para se defender e caçar alimento. Se ele conseguir comer a presa sem gastar veneno, ele fará isso. Mesmo porque o veneno é uma proteína que tem um gasto enorme para o animal e ele não sai gastando à toa”, afirma Carvalho.
O biólogo do Instituto Vital Brazil frisa a importância de se manter os predadores naturais do escorpião, que são sapo, lagarto e galinhas – não apenas a galinha d’angola.
Outras recomendações apresentadas pelo Ministério são evitar a formação de ambientes favoráveis ao abrigo de escorpiões como rebocar paredes externas para que não apresentem frestas, vedar soleiras de portas com rolos de areia e evitar queimadas em terrenos baldios, pois desalojam os escorpiões.
Dedetização ajuda escorpião a morrer de fome
A dedetização pode ser útil para eliminar baratas e outros insetos que servem de alimento para o escorpião, mas não para matar o animal. “Tirar o alimento do escorpião pode ser a principal medida para eliminação do animal do ambiente a médio a longo prazo”, diz Carvalho.
O biólogo explica que a dedetização contra escorpiões não é eficiente porque os produtos se degradam no ambiente antes que entrem em contato com os animais. “São animais muito resistentes, que ficam escondidos no ambiente”, afirma.
Vieira ressalta que inseticidas contra escorpiões podem ser ferramentas úteis, mas ainda são necessários testes de campo. “O Brasil ainda não tem um ensaio que permita saber quais são os aspectos positivos e negativos da aplicação desses produtos”, diz.
Soro antiescorpiônico não está disponível em todas as cidades
São considerados mais vulneráveis às picadas trabalhadores da construção civil, crianças e pessoas que permanecem longos períodos em casa. Cerca de 87% dos acidentes com os escorpiões são leves, de acordo com o Ministério. Nesses casos, os sintomas são dor imediata, vermelhidão e inchaço leve. São tratados, apenas os sintomas, sem a necessidade de uso de soro antiescorpiônico.
Segundo o Ministério, crianças até 7 anos têm maior risco de desenvolver quadros moderados e graves, que podem levar à morte. Os principais sintomas são, além da dor da picada, vômito e diarreia.
Em caso de acidente com escorpião, o Ministério orienta a ir imediatamente ao hospital mais próximo. O soro antiescorpiônico, necessário em casos moderados e graves, é disponibilizado apenas em hospitais de referência do SUS (Sistema Único de Saúde) e não pode ser encontrado em clínicas particulares, segundo a pasta.
O Ministério distribui as ampolas de soro antiescorpiônico aos Estados, que determinam quais municípios irão receber a substância, de acordo com a situação epidemiológica de cada região, segundo a pasta.