Inovações como a terapia imunológica são ‘emprestadas’ de um tipo para outro de tumor, beneficiando mais pessoas
Assim como ocorreu com as doenças infecciosas e posteriormente com as cardíacas, vivemos nos últimos anos os avanços no tratamento do câncer. Câncer não é uma entidade única e varia com o local de origem, dentro de um mesmo órgão e de acordo com a sua extensão.
Ao longo das ultimas décadas, grandes conquistas foram realizadas, desde cirurgias mais limitadas até melhores cuidados com sintomas como dor e náuseas. O câncer de mama, o mais comum entre as mulheres, pode servir como exemplo das inovações. A caracterização de receptores hormonais (estrogênio e progesterona) nos anos 1970 foi um importante passo na separação de tipos diferentes de câncer de mama e um dos grandes marcos da terapia direcionada. Assim, somente quem tem essa marcação no tumor (a presença dos receptores acima citados) pode se beneficiar de tratamentos que interferem co messas vias hormonais. Nos anos 1990, um outro marcador, que pode estar presente em excesso na superfície nas células tumorais (chamado de HER2), iniciou uma nova era no entendimento e na abordagem do câncer de mama através da utilização de um anticorpo. Tanto o “bloqueio hormonal” quanto o “tratamento anti-HER2” aumentam a chance de cura do câncer de mama inicial e prolongam a vida quando a doença está mais espalhada. A promessa bastante recente (já empregada em câncer de pulmão e melanoma) é a chegada da terapia imunológica ao câncer de mama. O conceito fundamental consiste na liberação do sistema imunológico do indivíduo para combater o tumor. Estratégias ainda mais inovadoras (com utilidade em leucemia) programam o sistema imunológico da paciente no laboratório para atacar “alvos” existentes nas células do seu tumor.
A trajetória não é curta: caracterizar as armadilhas do câncer, identificar “antídotos”, avaliar no laboratório para então testar em pessoas acometidas são algumas das estratégias no desenvolvimento de novas terapias. Alguns tratamentos ficam pelo caminho, seja por falta de eficácia ou por excesso de toxicidade que impedem seu uso. A pesquisa clínica, que corresponde à etapa mais tardia de testagem de novos remédios, vem crescendo no país com um grande número de pesquisadores e centros capacitados com padrões rígidos de qualidade e de ética. A fase derradeira e essencial corresponde ao acesso aos novos tratamentos, e as barreiras financeiras precisam ser transpostas.
Vivemos momentos animadores no tratamento do câncer. Somos cada vez mais capazes de diferenciar e compreender seu comportamento para então lidar com o câncer de formas distintas, mais eficazes e possivelmente menos tóxicas. Continuar a avançar e distribuir essas conquistas é a nossa tarefa.