Exames detectam lesões causadas pelo HPV com eficácia de 90%
15/02/2019

Uma pesquisa divulgada pela Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (SBOC) mostrou que, apesar de saberem os riscos que doenças ginecológicas podem acarretar à saúde, 52% das mulheres brasileiras não realizam exames preventivos, capazes de detectar doenças como o câncer de colo de útero. Segundo dados do Instituto Nacional de Câncer (INCA), esse tipo de câncer é o terceiro que mais atinge a população feminina no Brasil e quarta maior causa de morte por câncer.

Enquanto alguns subtipos de HPV predispõem ao desenvolvimento de tumores malignos, sendo o contato sexual sem proteção a principal fonte de infecção, outros estão relacionados à ocorrência de verrugas em diferentes partes do corpo. O exame mais comum para identificar a presença do HPV é o exame de Papanicolau, que conforme recomendações do Ministério da Saúde, deve ter seu início aos 25 anos. Após dois exames anuais consecutivos com resultados negativos, a periodicidade muda para três anos, até os 64 anos completos. Mas, sozinho, o exame apresenta eficácia suficiente?

Apesar de, até o momento, não se observar diferença na mortalidade, este rastreamento poderia ser melhorado: o fato de consistir em um esfregaço, ou seja, coletar apenas uma parte de material do colo uterino, o exame de Papanicolau muitas vezes é visto como questionável. Segundo o ginecologista e obstetra Jan Pawel Andrade Pachnicki, professor do curso de Medicina da Universidade Positivo, podem haver lesões cancerosas presentes em regiões que não são coletadas durante o exame: “células do canal do colo uterino, por exemplo, podem ter seu diagnóstico retardado”. Para melhor detecção e precisão, especialistas desenvolveram um teste molecular que é capaz de identificar o DNA de diferentes tipos de HPV. Homens e mulheres podem desenvolver doenças relacionadas ao vírus, que já somam mais de 200 tipos, sendo que aproximadamente 40 podem desencadear infecções no epitélio do trato anogenital masculino e feminino. “O HPV é mais comum do que se pensa. De 75 a 80% das mulheres entram em contato com o vírus em algum momento da vida. Como ele pode ficar latente por mais de 15 anos, a detecção precoce pode evitar complicações e o acompanhamento ginecológico e exames são necessários”, alerta o médico.

O Papanicolau detecta alterações citopatológicas a partir do raspado celular, não identificando o vírus em si (o que poderia ser feito pelo exame molecular), mas as alterações morfológicas celulares a ele relacionadas. Além de apresentar resultados mais completos, mais sensíveis e reduzir o erro humano, uma vez que o diagnóstico é automatizado, Pachnicki diz que com um resultado negativo no teste molecular, a mulher pode ficar de três a cinco anos isenta de repetir o procedimento. “A coleta é semelhante à do exame de Papanicolau, feita com uma escovinha inserida pela vagina da paciente. A diferença é que no exame molecular a análise é feita por um equipamento, enquanto no Papanicolau a amostra é analisada diretamente na lâmina”, explica o ginecologista.

Uma grande vantagem do exame molecular é a possibilidade de identificar o causador da doença antes de se observar danos nas células. Mesmo na ausência de qualquer sinais e sintomas, o indivíduo é um potencial transmissor do vírus, e, sabendo que a paciente é portadora de determinado subtipo viral, é possível seguir com um acompanhamento mais frequente e alertá-la sobre essa capacidade de transmissão.

Apesar de estar cada vez mais conhecido do meio médico e integrar o rol de procedimentos obrigatórios da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), o exame molecular ainda não é aplicado como rastreamento de rotina no Sistema Único de Saúde (SUS), ou seja, somente portadores de planos de saúde podem usufruir do exame sem ter que investir a mais. “Acredito que a utilização do método poderia reduzir custos com exames anuais e apresentaria resultados precisos, permitindo que os médicos pudessem iniciar o tratamento adequado de forma correta”, conclui o médico.

Fonte: G1




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