O vírus da febre chikungunya chegou ao Brasil pelo menos um ano antes do que apontam os sistemas de vigilância em saúde pública. A descoberta é de pesquisadores da Escola de Saúde Pública Mailman da Universidade de Columbia e da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), em artigo publicado pelo periódico acadêmico Scientific Reports, do Grupo Nature. Amostras de sangue estudadas pelos cientistas revelam que o vírus já estava circulando no país em 2013, mas passou despercebido das autoridades sanitárias.
O resultado do trabalho demonstra que muitos pacientes foram diagnosticados erroneamente no país por conta da não identificação correta do vírus. O objetivo do estudo é alertar as autoridades sanitárias para o problema. Ou seja, pessoas que apresentavam sinais e sintomas de uma arbovirose mas testaram negativo para dengue (a única febre conhecida por aqui na época), não foram estudadas.
“Se temos a evidência de que um vírus circulou por mais ou menos um ano sem ser detectado significa que a vigilância precisa se preocupar muito mais com os casos negativos para vírus conhecidos e começar a pesquisar outros possíveis agentes”, afirmou um dos coordenadores do estudo, o pesquisador Thiago Moreno, do Centro de Desenvolvimento Tecnológico em Saúde da Fiocruz. “Desta forma é possível reconhecer esse vírus antes que ele se torne um problema de saúde pública, evitando assim, uma possível epidemia.”.
Amostras de sangue coletadas no Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas (INI/Fiocruz), no Rio de Janeiro, entre março de 2016 e junho de 2017 foram analisadas usando teste genético para rastrear a entrada do vírus chicungunya no Brasil. Das amostras analisadas, mais de 60% tiveram resultado positivo.
Existem dois genótipos do vírus circulando no Brasil. Um deles proveniente da Ásia e, outro, da África Central. A análise genética feita pelos pesquisadores revelam que ambos entraram no Brasil em 2013, cerca de um ano antes do registro oficial.
“Trata-se de um problema sobre o qual a saúde pública deve se debruçar, não só para a próxima temporada, mas para as próximas décadas”, alertou Moreno. “É uma doença muito debilitante, cujos sintomas podem perdurar por meses e, em alguns casos, por muitos anos.”