Medicina Diagnóstica: mercado e tendências
22/03/2019
Na semana passada fomos convidados a participar do 1?Bootcamp Abramed de Jornalismo em Saúde. A iniciativa teve como objetivo aproximar os veículos de comunicação dos principais executivos das marcas associadas. Na manhã de palestras, foram abordados temas de mercado, mitos e verdades sobre o setor, e a importância da Medicina Diagnóstica.

Lídia Abdalla, presidente executiva do Laboratório Sabin, contextualizou a amplitude da discussão. Passam pela responsabilidade da medicina diagnóstica os pontos de identificação de fatores de risco, através de exames laboratoriais ou de imagens, screening populacional com a medicina preventiva, o diagnóstico propriamente dito, suporte ao prognóstico e estabelecimento de tratamento. Além do monitoramento da condição após a sua identificação para verificar a evolução ou efetividade do tratamento escolhido. Hoje 95% das patologias podem ser identificadas precocemente, com altas chances de cura/controle para o paciente, impactando não somente a sua vida, mas também os custos do setor.

“Um grande exemplo é a diabetes, 50% dos pacientes diabéticos não têm o conhecimento que possuem a doença. Isso só é descoberto através da realização de exames. A diabetes é uma doença crônica, sem cura, mas com possibilidade de monitoramento. Se bem tratada a condição, o paciente pode viver com alta qualidade de vida, ao contrário, pode sofrer com complicações sérias, como a doença renal, e até risco de vida, em último caso.”, disse ela.

A medicina observada hoje, reativa, ainda é contrária ao que a Associação espera no futuro. Segundo Leandro Figueira, diretor de relacionamento da Alliar, a medicina preventiva ainda está caminhando. E é preciso começar a dimensionar o quanto a não-responsabilidade da sociedade com as questões de prevenção sensibiliza a sustentabilidade do sistema. Se olharmos uma determinada população, na mesma faixa etária, os pacientes “doentes” custam em média sete vezes mais caro do que os saudáveis. Então existe toda uma questão social do “parar de fumar” ou mesmo discussões de como distribuir essa “conta” na sociedade.

Entre 1950 e 2000, a ONU estima que houve um aumento de 20 anos na expectativa de vida. E pouco menos de vinte anos depois, Leandro diz que as repercussões deste fato ainda são desconhecidas para os custos a longo prazo do sistema. Em função do aumento da sobrevida, e consequente envelhecimento populacional, observou-se um aumento na incidência das doenças crônicas. Descobertas como a genômica estão levando a medicina para um novo caminho, e com auxílio de outras tecnologias, transformando todas as atividades do setor de saúde, de forma geral.

Outra consequência do aumento da expectativa, de acordo com Conrado Cavalcanti, coordenador médico do Hospital Sírio Libanês, é o crescimento no número de exames realizados. “Em 2015 a área suplementar de medicina diagnóstica fez 740 milhões de exames [7% menor do que 2016], isso vem crescendo e em 2017, o número chegou a quase 820 milhões [3% maior do que em 2016]. Note que existe um crescimento nos exame, mas uma tendência de desaceleração”. Outro dado interessante do Painel Abramed é que apesar deste crescimento, a proporção de gastos com exames diagnósticos na despesa assistencial caiu ligeiramente nos últimos anos: 21,46% em 2015, 21,37% em 2016 e 20,75% em 2017.

Ainda sobre dados, Wilson Shcolnik, gerente de relacionamento do Fleury, se posicionou sobre a importância de combater as fake news. Ele contou que muitos nomes importantes, da mídia, governo e setor ecoaram um dado falso sobre o desperdício em medicina diagnóstica, de que 30% dos exames realizados são são retirados. A Abramed então decidiu promover um estudo sobre o tema e concluiu que apenas 3,5% dos exames são de fato, desperdiçados.

Leandro retomou a discussão sobre a superutilização de exames vs desperdício e lembrou da importância primordial desse recurso para o sistema. Quando falamos de medicina preventiva, estamos nos referindo a exames, que realizamos, muitas vezes sem sintomas, mas com indicações fundamentadas, que possam detectar uma situação médica em um estágio inicial. 60% dos casos de câncer no Brasil são diagnosticados nos estágios 3 e 4, estágios já avançados. O custo dessas patologias é 80% mais caro para o sistema do que em estágios iniciais, e infere uma redução sensível nas chances de cura. Outro ponto é que 70% das decisões médicas são apoiadas por resultados de exames laboratoriais, e em ambientes cirúrgicos, 97% dos procedimentos necessitam de exames complementares, afim de serem realizados de forma responsável.

Ele defendeu que exames preventivos e monitoramento de doenças, que muitas vezes apresentam resultados normais, não podem ser considerados desperdício. “Hoje não existem dados que façam correlação entre o resultado do exame e o histórico clínico, no Brasil. Então de um exame normal, não se consegue saber se é uma pessoa que está sendo monitorada, realizando um exame preventivo, ou se é uma pessoa que não tem indicação. Qualquer afirmação sobre isso [desperdício] sem ter correlação clínica e laboratorial, é leviana”, disse o executivo.

Sobre o aspecto econômico, a Medicina Diagnóstica, na área suplementar, é um setor que gerou 45 bilhões de reais em 2017. Mas, de acordo com um estudo realizado em parceria com a FGV, conta Conrado, o setor tem um impacto de 0.6 para cada real sobre os setores fornecedores, então o PIB indireto chega a 55 bilhões. No ano passado, a despesa do setor, que é responsável por 20% dos custos da saúde privada, girou em torno de 30 bilhões.

Eliezer Silva, diretor de medicina diagnóstica do Hospital Albert Einstein, disse que tão importante quanto esses números, é o capital humano relacionado. “2 milhões de pessoas trabalham na área da saúde, 10% a 15% destas, no setor de medicina diagnóstica. Quando colocamos a importância da medicina diagnóstica no processo assistencial, vêmos o enorme impacto na capacidade produtiva do ser humano, que não passa só pela saúde, mas também pelo seu bem estar. Indivíduos saudáveis vivem melhor e são mais produtivos. É uma mensagem que não aparece muito, porque vêmos os números da medicina diagnóstica enquanto geradora de riqueza, mas o maior aspecto de contribuição deste setor para a saúde, é o bem estar do capital humano”

Ao entrar no ponto de apostas e inovações para o setor, e posicionamento Brasil no ambiente global, Emerson Gasparetto, vice-presidente da DASA, provoca dizendo que dentro da medicina diagnóstica, não existe praticamente nenhuma tecnologia avançada que já não exista dentro do Brasil. “Diferentemente de 20, 30 anos atrás, que buscávamos tecnologia nos EUA, hoje nós não precisamos mais, a tecnologia está no Brasil. O governo americano gasta 17% do PIB, são 3 trilhões de dólares, e tem uma das piores sobrevidas em termos de custo-benefício, ou seja, eles não estão gastando eficientemente.”, e continua, ”Nos últimos anos houve uma corrida muito pautada em novos equipamentos, novos exames, e começamos a mudar isso de uns tempos pra cá. Faço um paralelo com carros. Se antes desejávamos carros mais potentes, hoje prezamos pela economia e adaptados aos nossos desejos. Houve um shift na saúde para um foco mais centrado no paciente”, diz ele.

Em relação às tendências, Emerson observa que há três anos, a RNSA, maior congresso de radiologia do mundo, exibia inovações sobre equipamentos. Já na última edição, quase nada sobre lançamentos ou novidades de máquinas, mas sim analytics, AI e derivados. Gustavo Meirelles, gestor médico em radiologia com ênfase em estratégia e inovação do Fleury finalizou discutindo a transformação dos jargões envolvendo medicina e inovação: de “O médico o receberá agora”, para “O computador o receberá agora” e finalmente “O paciente o receberá agora”, ilustrando a nova relação entre médico, tecnologia e paciente. O consumerismo chegando a saúde.





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