A despeito de o CFM (Conselho Federal de Medicina) ter revogado a resolução que definia e disciplinava o uso da telemedicina no Brasil, 82,65% dos médicos paulistas afirmam que já usam tecnologias no dia a dia para a assistência aos pacientes.
Os dados são de uma pesquisa inédita da APM (Associação Paulista de Medicina) e do Global Summit Telemedicine & Digital Health, que será divulgada nesta quarta (3) em evento internacional sobre telemedicina que ocorre em São Paulo.
Foram ouvidos 1.614 profissionais, por meio de questionário online, entre 15 e 25 de março de 2019. A amostra é representativa de 96,8% do estado de São Paulo (55% da capital paulista e 45% do interior).
A maioria (78,69%) é favorável à utilização do WhatsApp e ferramentas semelhantes na relação com os pacientes. Pesquisa anterior apontava uma aprovação de 67% ao uso dessas tecnologias.
“Como não tem uma resolução que regule isso, os profissionais se apoiam em qualquer coisa que facilite essa relação. O uso desprotegido expõe médicos e pacientes a situações de risco, desde de ter a intimidade vazada nas mídias sociais até de erros de interpretação da conduta médica sugerida”, diz Antonio Carlos Endrigo, diretor de tecnologia da informação da APM.
Para ele, é urgente a normatizar a telemedicina no Brasil, que ainda conta com regras de 2002. Publicada em 7 de fevereiro, a nova resolução do CFM foi revogada 15 dias depois, no dia 22 do mesmo mês, após críticas de entidades médicas.
A pesquisa também captou a insatisfação da classe médica paulista sobre esse tema. Para 76,52%, os médicos não foram devidamente consultados pelo CFM na elaboração da medida. Ao mesmo tempo, 98,7% concordam que as soluções digitais trazem avanços para o atendimento aos pacientes.
“Fomos surpreendidos com a notícia num programa de TV. Até quem estava a favor [da resolução] rejeitou. Mas não precisava ter revogado, bastava ter colhido novas contribuições e feito os ajustes necessários”, diz Endrigo.
O levantamento aponta que os médicos estão divididos sobre teleconsultas e teleprescrições. Um pouco mais da metade (55%) não concorda com consultas a distância, após uma presencial. E 49,26% são contra a prescrição eletrônica.
“Foi uma surpresa. Médico nunca deveria fazer prescrição manuscrita. São comuns as queixas de o paciente de não entender a letra o médico e de balconista da farmácia interpretar erroneamente a prescrição. É um risco e pode piorar a doença”, diz.
Segundo a pesquisa, 84,57% dos entrevistados são favoráveis que as informações de saúde dos pacientes sejam disponibilizadas em nuvem digital, com proteção de dados, mas acessíveis aos médicos.
E quase a totalidade (93,68%) entende que o compartilhamento de informações pode ser benéfico aos profissionais, aos pacientes e ao sistema de saúde.
“Acima de um código de ética, tem uma Constituição Federal que diz que o cidadão tem livre arbítrio em suas escolhas. O CFM não pode criar empecilhos. O cidadão decide sobre qual médico escolher e, este, sobre quais ferramentas que vai utilizar nessa relação.”
Os médicos paulistas também são críticos em relação ao tratamento que o Mistério da Saúde dá ao tema: 93% dizem que a pasta não dissemina as novas tecnologias com a agilidade que deveria.