Interior do Estado passa por epidemia da doença devido ao clima “agradável ao mosquito” e predominância do tipo de vírus diferente de surtos anteriores.
O Estado de São Paulo tem circulação da dengue tipo 2, a mais grave, em mais de 57 cidades, segundo a diretora do CVE (Centro de Vigilância Epidemiológica do Estado), Regiane de Paula. O vírus da dengue tem 4 tipos.
As regiões Norte, Oeste e Noroeste do Estado passam por epidemia da doença, com predominância do tipo 2. De acordo com a Secretaria Municipal de Saúde, o Estado registrou mais de 49 mil casos confirmados e 39 mortes até o último boletim, de 25 de março.
“Há alta infestação de Aedes Aegypti nessas regiões”, diz. “Vale ressaltar que 80% dos criadouros estão dentro das casas”, completa.
Dez cidades concentram 54% dos casos confirmados, o que equivale a 27 mil ocorrências. São Bauru, Araraquara, São José do Rio Preto, Andradina, Barretos, São Joaquim da Barra, Fernandópolis, São Paulo, Agudos e Ipuã.
A líder Bauru contabiliza 10.207 casos e 12 mortes confirmadas, segundo a Secretaria Municipal de Saúde de Bauru.
Clima no interior é “agradável” ao mosquito
“O interior de São Paulo é uma região climaticamente agradável para o mosquito, com calor e umidade. Além disso, há um predomínio do sorotipo 2, que não circulava em grandes proporções há um certo tempo. Por essas razões, há uma epidemia”, afirma o médico e doutor em microbiologia Maurício Nogueira, presidente da Sociedade Brasileira de Virologia (SBV).
A última epidemia de dengue ocorreu em 2015. Segundo Regiane, a cada três ou quatro anos há um aumento do número de casos. “O que agravou este ano a epidemia foi a circulação do tipo 2. Nos anos anteriores, houve a circulação predominante do tipo 1. Com isso, diminuiu-se o número de pessoas suscetíveis a esse vírus. No entanto, em relação ao tipo 2, as pessoas estão desprotegidas”, ressalta.
O médico explica que há uma maior frequência de casos graves na segunda vez que a doença é contraída. “Isso ocorre devido a um fenômeno imunológico complexo no qual os anticorpos da primeira infecção, em vez de protegerem da segunda, acabam facilitando a multiplicação do vírus”.
Segundo ele, a maioria das pessoas está tendo a segunda infecção por dengue, por essa razão, a maior incidência de casos graves. “Teoricamente, uma pessoa pode contrair dengue quatro vezes, já que há quatro sorotipos do vírus. Mas a terceira e a quatra infecção costumam ser assintomáticas”, afirma.
Só grande frente fria deverá barrar epidemia
Nogueira aponta que a epidemia continua crescendo. “Estamos vivendo seu auge”, diz. Ele destaca que o controle do problema depende de condições climáticas. “A epidemia que afeta o interior de São Paulo dura, e isso é histórico, até a primeira grande frente fria, o que normalmente acontece no final de maio”, completa.
Depois que ela passar, o presidente da Sociedade Brasileira de Virologia frisa que ela vai gerar imunidade na população. “Vamos viver nesse ciclo até que se consiga uma das coisas: controlar o mosquito, que já se sabe que não é possível, ou criar uma vacina que seja realmente eficaz”, conclui.
Já Regiane ressalta que, embora não seja possível eliminar o mosquito, algumas práticas podem ajudar a controlar a sua proliferação como lavar a caixa d´água a cada seis meses com água e sabão e mantê-la tampada, checar calhas e bandejas de geladeira. “É importante tirar 15 minutos na semana para olhar possíveis criadouros dentro de casa”, orienta.