Programa focado em triagem de asma agiliza atendimento e apressa consultas em casos graves
20/05/2019

Um novo modelo de atendimento em duas cidades brasileiras conseguiu apressar o encaminhamento de pacientes com asma grave a atendimento adequado e reduziu de mais de um mês para duas semanas o tempo para marcar consulta com um pneumologista no sistema público de saúde. Nesta entrevista, o pneumologista Rafael Stelmach, do Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo e presidente da Fundação ProAr, fala sobre o funcionamento deste novo protocolo e como ele poderia ser replicado para outras partes do País.

1. O programa de capacitação de profissionais da Atenção Básica é um exemplo de sucesso em algumas cidades do estado de São Paulo. Quais resultados ele já alcançou?

Nossa equipe é formada por poucos especialistas para atender um número muito grande de pessoas com asma, algo em torno de 6 mil pneumologistas para 20 milhões de doentes. Por isso, como antigamente todos os asmáticos eram encaminhados para nós, o atendimento demorava muito. Com o apoio de uma organização internacional britânica chamada International

Primary Care Respiratory Group, a partir de 2013 propusemos um novo modelo de atendimento. A princípio, ele foi implementado na Cidade de São Bernardo, onde a demanda era muito grande e, em seguida, Pindamonhangaba. Dividimos os casos de asma em leves, moderados e graves e treinamos os profissionais das Unidades Básicas de Saúde (UBSs) para que os dois primeiros grupos pudessem ser atendidos nas próprias UBSs, com o nosso apoio à distância. Orientamos a equipe a encaminhar os quadros mais complicados para os nossos ambulatórios especializados. Quando esses casos graves estão controlados, são enviados novamente para as UBSs para acompanhamento. Com isso, conseguimos atender os pacientes com mais eficácia e diminuir muito o tempo de espera das consultas com os pneumologistas, que antes demorava meses e agora foi reduzido para duas ou três semanas.

 

2. Como replicar o programa em outras regiões do Brasil?

É exatamente para isso que venho trabalhando. Pretendemos levar o projeto para municípios que tenham muitos asmáticos não atendidos e poucos especialistas na área. Para isso, precisamos da colaboração dos gestores e dos profissionais de saúde da localidade, pois é preciso mudar a forma de atender o paciente, introduzindo, por exemplo, a triagem de acordo com a gravidade do caso e seguindo o modelo que implantamos em São Paulo.

3. É possível melhorar o controle da asma no Brasil? Quais os desafios para isso?

Eu acredito que ainda há muito espaço para isso. Tanto é que, desde 2015, sou embaixador e coordenador da Iniciativa Global para Asma (GINA) no Brasil. É preciso quebrar os tabus e desinformações em relação à doença, como o de que não é preciso tratá-la quando o paciente não está em crise. Entendemos que ela é bastante heterogênea e, por isso, é necessário que cada indivíduo seja bem avaliado e receba o tratamento mais adequado ao seu caso. Além disso, o ideal é que o diagnóstico seja feito bem cedo, ainda na infância. Isso porque muitas pessoas convivem com essa doença a vida toda sem se cuidar corretamente. Além de sofrerem com os sintomas e a diminuição da qualidade de vida, elas chegam à idade adulta com complicações provocadas por ela, como a diminuição da capacidade pulmonar. Também é importante que os médicos entendam que se trata de um mal crônico, que precisa ser tratado continuamente e não apenas quando acontece uma exacerbação ou quadro agudo.





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