O laboratório americano AbbVie acertou a compra da irlandesa Allergan, fabricante do Botox, em um negócio de US$ 63 bilhões, a mais nova megatransação motivada pela necessidade geral do setor de reforçar o desenvolvimento de novos medicamentos.
Com a aquisição, a AbbVie está apostando que vai poder incrementar sua linha de produtos e ajudar a compensar o impacto previsto do Humira, produto da empresa usado no tratamento de doenças inflamatórias que é o mais vendido no mundo, mas vai perder a patente nos Estados Unidos e passar a enfrentar a concorrência de versões genéricas.
A linha de produtos da Allergan é mais conhecida pelo Botox, um tratamento cosmético não cirúrgico altamente popular, mas a empresa também produz medicamentos para as áreas de oftalmologia e gastroenterologia, além de tratamentos para o sistema nervoso central.
Pelos termos do acordo, a AbbVie vai pagar US$ 188,24 por ação da Allergan, sendo US$ 120,30 em dinheiro e o restante em ações, segundo anunciaram as empresas nesta terça-feira. A oferta avalia as ações da Allergan com ágio de 45% em relação ao preço de fechamento do dia anterior. Incluindo cerca de US$ 20 bilhões em dívidas da Allergan, o valor de empresa da transação é de US$ 83 bilhões.
Após o anúncio do negócio, as ações da AbbVie, que tem sede em Chicago, caíram 7,4% nos negócios antes do horário regular - fecharam em baixa de 16,37%. Já os papéis da Allergan subiam 31%, para US$ 169,89. [Encerrou com alta de 25,40%].
A compra da Celgene pela Bristol-Myers Squibb por US$ 90 bilhões, acertada nos primeiros dias de janeiro, ajudou a desencadear uma onda de fusões farmacêuticas neste ano. Em seguida, vieram a compra da Array BioPharma, especializada em oncologia, pela Pfizer, por US$ 11,4 bilhões, e a da Loxo Oncology pela Eli Lilly, por US$ 8 bilhões.
"Com nossa plataforma de crescimento reforçada para alimentar uma expansão que seja líder no setor, essa estratégia nos permite diversificar os negócios e ao mesmo tempo sustentar um longo futuro para nosso foco em ciências inovadoras e no avanço de nossa área de criação de drogas, líder no mercado", disse Richard Gonzalez, presidente do conselho de administração e executivo-chefe da AbbVie.
Antes de acertar a compra da Allergan, a AbbVie gastou US$ 21 bilhões no laboratório biofarmacêutico Pharmacyclics, em 2015, para reforçar sua área de desenvolvimento de drogas. Um ano depois, comprou a Stemcentrx por pouco mais de US$ 10 bilhões.
A AbbVie e a Allergan vão ter vendas combinadas de mais de US$ 48 bilhões e gerar um fluxo de caixa operacional de mais de US$ 19 bilhões, que segundo a AbbVie vai ser usado para pagar as pesadas dívidas necessárias para custear a aquisição.
Como parte do negócio, dois diretores da Allergan, incluindo o presidente do conselho de administração e executivo-chefe, Brent Saunders, vão integrar o conselho da AbbVie. Saunders, que se juntou à Allergan em 2014, liderou o grupo em meio a um período complicado, durante o qual um plano de fusão com a Pfizer foi abandonado e as ações caíram mais de 60% desde o pico de 2015.
Mais recentemente, a Allergan foi criticada pelo fundo hedge Appaloosa que defendeu a divisão dos cargos de presidente do conselho e de executivo-chefe, ocupados por Saunders.
A AbbVie planeja financiar a transação com emissão de dívidas e o caixa em seu balanço patrimonial. O Morgan Stanley e seu parceiro no Japão MUFG prometeram US$ 38 bilhões para financiar a transação, um dos maiores empréstimos-ponte na história.
A captação vai sobrecarregar a AbbVie com dívidas e o grupo farmacêutico destacou que vai ter como foco nos próximos anos a redução da alavancagem. As empresas esperam que a fusão gere economias de custo de pelo menos US$ 2 bilhões graças cortes de empregos e ao encolhimento de seus programas de pesquisa e desenvolvimento.