A Hospital Care, holding do fundo Crescera (ex- Bozano) e dos empresários Elie Horn e Julio Bozano, está diversificando seu negócio. O grupo acaba de criar uma empresa para reunir prestadores de serviços que trabalham com modelos de remuneração variável, calculada de acordo com os resultados médicos obtidos com o procedimento ou tratamento.
Inicialmente, os prestadores de serviços serão da rede própria da Hospital Care, que é dona de hospitais, clínicas e laboratórios de medicina diagnóstica nas cidades de Campinas e Ribeirão Preto, ambas em São Paulo, e Florianópolis. Mas, futuramente, prestadores de serviços independentes poderão compor esse grupo.
Um dos papéis da nova empresa é mostrar e convencer os prestadores de serviço e médicos a adotarem determinados protocolos clínicos considerados mais eficazes.
"É um modelo em que o prestador assume o risco, porque se ele não atingir as metas prometidas não terá incremento na remuneração. Essa meta é baseada em desfecho médico, não é somente uma métrica financeira", disse o médico Fábio Nanci Gonçalves, diretor de valor e acesso da Hospital Care.
Gonçalves fez um piloto desse projeto dentro de casa, com o plano de saúde Vera Cruz, que possui 30 mil usuários em Campinas. A taxa de sinistralidade, que em 2016 era de 91%, caiu para 87% no ano passado. É com esses resultados em mãos que o médico tem apresentado a nova empresa para as operadoras de planos de saúde. A ideia é que as operadoras e seguradoras criem modalidades de planos com uma rede fechada, no caso, da Hospital Care.
Iniciativas semelhantes surgiram no mercado nos últimos meses. A Rede D'Or firmou, recentemente, parcerias com as seguradoras de saúde Bradesco e SulAmérica para criação de planos em que a maior parte dos prestadores de serviços são do grupo hospitalar.
Questionado sobre os motivos da Hospital Care não oferecer esse tipo de parceria diretamente para as operadoras e seguradoras, Rogério Melzi, presidente da holding, explica que "hoje a relação entre as partes está envolta de muita desconfiança". Numa relação comercial nos moldes atuais, operadoras e hospitais não informam detalhadamente como são calculados os custos. A nova empresa vai ter que abrir no detalhe custos e estratégias dos dois lados para que os ganhos sejam compartilhados, segundo Gonçalves.
Melzi explica ainda que os hospitais já têm toda uma estrutura montada para atender o sistema no moldes atuais e que não é possível fazer uma virada radical. "Por isso, preferimos criar uma empresa independente para tocar esse projeto, que está pensando na sustentabilidade do setor".
Nos Estados Unidos, esse modelo é muito comum e tais empresas são conhecidas como "Accountable Care Organization (ACO)", sendo que várias prestam serviços para o Medicare, programa de saúde do governo para idosos. A ACO mais famosa é ligada à Cleveland Clinic, tradicional centro médico americano, que atende a mais de 100 mil pessoas. "Estamos com assessoria da ACO da Cleveland, que nos ajuda muito a não repetir os erros que eles cometeram lá", disse Gonçalves, que fez MBA na Duke University, na Inglaterra, sobre risco compartilhado na saúde.
Um dos desafios das "ACOs" é integrar os médicos que cuidam dos procedimentos de baixa, média e alta complexidades para que o desfecho clínico do paciente seja bem sucedido. O ideal é que o paciente seja bem acompanhado constantemente para evitar internações. Nos casos em que houver, por exemplo, uma cirurgia, é preciso que o paciente volte a ser tratado pelo médico de atenção primária a fim de evitar que ele seja reinternado. Se isso ocorrer, o modelo de remuneração baseado em valor não consegue atingir seus objetivos. "Implementamos dentro da Hospital Care um modelo de gestão em que corpo clínico, investidores, paciente e operadoras têm seus representantes dentro da empresa para que os interesses não se sobreponham", disse Melzi. "Eu represento os investidores, mas tenho sorte porque são investidores de longo prazo", acrescentou.