Entre 2010 e 2015, procedimento representou 55% dos três milhões de partos realizados no país
O Brasil é campeão em número de cesarianas. Entre 2010 e 2015, dos três milhões de partos realizados no país 55% foram cesáreas e 45% partos normais.
O procedimento só deve ser realizado em caso de necessidade, segundo diretriz da Organização Mundial de Saúde (OMS). Isso porque, como qualquer outra cirurgia, ele traz riscos de infecção, hemorragia, reação à anestesia, trombose e complicações pós-parto, além de ter recuperação mais demorada.
Para reverter este quadro, após denúncia de um grupo de mulheres ativistas pelo parto normal ter movido uma ação no Ministério Público Federal de São Paulo, a Agência de Saúde Suplementar (ANS), o Instituto para Melhoria da Saúde, de Boston (Estados Unidos), e o Hospital Israelita Albert Einstein desenvolveram o projeto Parto Adequado.
Iniciado em fevereiro de 2015 no segmento da saúde suplementar, o projeto se voltou para a redução da taxa de cesáreas desnecessárias, especialmente as eletivas, procedimento que consiste em marcar a cirurgia sem razões médicas antes que a mulher esteja em trabalho de parto.
“Desde 2004, a ANS desenvolve medidas para redução do percentual de cesarianas na saúde suplementar. Em 2015, a Agência passou a focar suas ações para redução de cesarianas sem indicação clínica em um projeto de melhoria da qualidade voltado aos hospitais”, afirma Rita Sanchez, obstetra do Hospital Israelita Albert Einstein e coordenadora médica do Parto Adequado.
Hoje, 127 hospitais, sendo 25 deles públicos, participam do projeto que busca garantir qualidade e segurança na atenção ao parto e ao nascimento e dar poder de decisão para gestantes, junto ao médico, sobre a via mais adequada.
Nesses hospitais, as equipes multiprofissionais devem participar de sessões de aprendizado sobre modelo de melhoria, discussão de modelos de atenção ao parto, puerpério, cuidados aos recém-nascidos e estímulo ao parto normal baseado em evidências científicas, além de se submeterem a treinamentos técnicos do Hospital Israelita Albert Einstein, do Conselho Regional de Enfermagem de São Paulo (Coren-SP) e da Associação Brasileira de Obstetrizes e Enfermeiros Obstetras (Abenfo).
“A ideia é que essa metodologia seja levada a todas as maternidades do país. As fases seguintes estão em planejamento”, diz Sanchez. Segundo a obstetra, nos hospitais onde o Parto Adequado foi implantado houve melhorias na estrutura e na atenção.
“O engajamento da equipe em transformar o cuidado para que seja centrado na paciente é importante para a excelência da prática obstétrica”, afirma.
Os resultados do projeto estão disponíveis no site da ANS. O programa tem também o apoio do Ministério da Saúde, da Febrasgo (Federação Brasileira das Associações de Ginecologias e Obstetrícia) e da Abenfo, entre outras instituições.