Geriatria preventiva vira opção para jovens que querem envelhecer com saúde
22/08/2019

Quando Djanira Ribas, de 38 anos, diz qual é a especialidade de seu médico, a reação vai do estranhamento à curiosidade. Embora faltem 22 anos para que ela engrosse o percentual de idosos brasileiros, a administradora se adiantou e já frequenta o geriatra.

A decisão foi tomada após ela e o marido, que se consulta com o mesmo profissional, sentirem a necessidade de contar com um acompanhamento médico mais permanente.

— Num primeiro momento, a gente pensou em um clínico geral. Mas, ao compartilhar esse desejo com uma tia, ela nos recomendou um geriatra. No começo, soou meio estranho, mas decidimos tentar. Fomos na consulta e amamos — lembra.

Djanira e o marido, Rodrigo Ribas, de 42 anos, acabaram aderindo a um grupo crescente de pessoas abaixo da marca dos 60 anos que quer antecipar os cuidados para chegar bem à velhice. É a chamada geriatria preventiva, que foca nas condições que podem (ou não) levar ao desenvolvimento de doenças. Após três anos frequentando o especialista, foram muitos os aspectos que mudaram na vida dela.

Durante aquela primeira consulta, descobriu que estava com pressão alta em virtude do estresse. Precisou, então, reaprender a reagir frente às demandas do cotidiano. Sem praticar atividades físicas, também se deu conta dos perigos de uma vida sedentária. Voltou logo a se exercitar e readequou a alimentação.

— O médico fala muito que a primeira coisa é ter mais consciência sobre o nosso próprio corpo e sobre os impactos que algumas atitudes e escolhas têm ao longo do tempo. Então, o fator principal foi começar a ter consciência — diz.
Quando vislumbra a velhice, Djanira deseja estar em forma para viver a etapa o melhor possível:

— O brasileiro terá uma expectativa de vida muito maior. Espero me aposentar daqui a dez ou 15 anos. Então, quero estar com vigor para aproveitar essa fase que pode ser maravilhosa ou depressiva. Vou me preparar para que seja boa.

Embora ainda esteja na faixa dos 30 anos, a administradora já diz sentir as mudanças que o envelhecimento impõe. A energia e a disposição são desafiadas com mais frequência, sobretudo para ela, que tem uma recém-nascida em casa.

— Sinto muito mais meu cansaço agora do que quando tinha 20 anos. Nessa época, virava uma noite tranquilamente e acordava bem. Agora, não. Se eu tiver uma noite maldormida, o dia se arrasta — comenta.

Recorrer ao geriatra, portanto, foi uma forma de se preparar para as mudanças. Casado com Djanira há oito anos, Rodrigo também espera se antecipar aos problemas. O economista vê os medicamentos como algo a se usar apenas em último caso, perspectiva compartilhada por seu médico.

— Ele não é só um geriatra, atua também na gerontologia ( estudo mais abrangente e interdisciplinar do envelhecimento ). Então, procura preparar as pessoas para o futuro. Para mim, o melhor tratamento é a prevenção — defende.

Outro ponto que agradou Rodrigo é o fato de o profissional atentar não apenas para o histórico médico do paciente. Durante a consulta, é levado em conta o conjunto de doenças que prevalece na família.

— O nosso profissional pesquisa muito a fundo a história familiar do casal. Tive que conversar com meus ascendentes duas, três gerações para cima. Ele, de certa forma, montou a nossa árvore genealógica para trabalhar de forma mais precisa — afirma.

Saúde total

De acordo com Ivete Berkenbrock, vice-presidente da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia (SBGG), aqueles que procuram a geriatria preventiva costumam ter o perfil de Djanira e Rodrigo. São pessoas que, embora distantes da velhice, buscam levar uma vida mais saudável para chegar bem à terceira idade, postura que ela vê com bons olhos.

A médica destaca que 35% do modo como alguém envelhece depende da genética, mas o resto está nas mãos de cada um. Por isso, é importante não só buscar um estilo de vida saudável como também ter objetivos e fugir de ambientes estressantes.

— É mais do que a doença. A questão está relacionada à saúde total. Não adianta a pessoa não comer batata frita. Ela tem que ter propósito. A gente não depende de um único fator para envelhecer bem, são vários.

Ao comentar a surpresa que uma pessoa jovem causa ao frequentar o geriatra, a médica destaca que isso é reflexo de uma visão limitada sobre o que cada um entende por velhice.

— Parece que procurar o geriatra significa estar velho. Os meus pacientes dizem que os colegas acham um mico procurar o geriatra. Então, a questões central é o preconceito contra o envelhecimento — afirma Berkenbrock.

Fonte: O Globo




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