O movimento antivacina e a falta de vacina
04/09/2019

Abastecimento de inúmeras vacinas em cidades da Baixada Santista é alvo de constantes reclamações da população

Impensável há pouco tempo acreditar que vivenciaríamos um retrocesso em etapas já vencidas e consolidadas na área da saúde pública. Por um lado, podemos mencionar o movimento antivacinação, considerado uma verdadeira ameaça à espécie humana, que reúne grupos que conspiram sob teorias sem qualquer comprovação científica, estimulando a prática da não-imunização. Um verdadeiro crime, nas palavras do médico oncologista Drauzio Varella, ao qual a própria humanidade nos submete.

Por outro lado, temos acompanhado, ao longo deste ano, recém-nascidos deixando a maternidade sem receber a famosa BCG, a primeira vacina do calendário infantil, ofertada pelo próprio hospital logo após o nascimento, que previne a tuberculose. Situação esta à qual estamos sendo submetidos por problemas na distribuição, segundo alega o Governo Federal.

 

O Ministério da Saúde é o responsável pelo abastecimento das vacinas junto aos estados da Federação.

Posteriormente, de posse das doses, os estados redistribuem aos municípios. O fato é que o desabastecimento de imunizações básicas do calendário vacinal num momento como o atual, em que existe um grande esforço da comunidade médica visando o convencimento dos pais de que vacinar é imprescindível, enfraquece o discurso.

Lembro-me do zelo e preocupação da minha mãe quando o assunto era carteira de vacinação. Ela sempre estava em dia. Quando iniciavam as campanhas? Lá estava ela, sempre atenta às convocações da população. Não havia hesitação. Não havia contestação. Não era uma escolha pessoal, mas uma obrigação.

O movimento antivacinação nasceu a partir de um estudo fraudado publicado pelo médico britânico Andrew Wakefield, relacionando a vacina tríplice viral MMR, que protege contra o sarampo, rubéola e caxumba, com o autismo. Depois de propagada e difundida a inverdade, o médico foi processado e julgado por fraude, conspiração e teve a licença cassada. A revista, de credibilidade no meio científico, se retratou, porém, o estrago já estava feito.

O reflexo dessa desinformação pode ser sentido no mundo todo. Este ano, a Organização Mundial de Saúde (OMS) incluiu o movimento antivacinação em seu relatório sobre os dez maiores riscos à saúde global, porque “ameaça reverter o progresso feito no combate às doenças evitáveis por meio de vacinação”.

Esse assunto é muito sério e precisamos falar sobre ele. Muitas famílias que se juntam ao movimento relatam utilizar as redes sociais como fonte da informação. A tecnologia é aliada e deve ser usada a serviço do bem comum. É preciso ter responsabilidade na interpretação, na conferência das fontes, no compartilhamento, nas curtidas e comentários em redes sociais sobre notícias falsas e infundadas.

A vacinação é a maior conquista da humanidade no último século. Por meio dela, nos mantivemos distantes de doenças infectocontagiosas que em outrora dizimaram populações. Dúvidas sempre existirão, e os especialistas da área estarão sempre de plantão para esclarecê-las. A disseminação de fake news sobre o assunto é alarmante, e os resultados já começam a aparecer. De acordo com os dados do Ministério da Saúde, a cobertura vacinal vem caindo no país. As estatísticas das oito vacinas obrigatórias até o primeiro ano de vida variavam de 74% a 89%, em 2018. A OMS preconiza que sejam de 90 a 95%.

Recentemente, o Brasil perdeu, também, o certificado de erradicação do sarampo pela Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS) e deve concentrar ações para a retomada do status. Na Baixada Santista, os cuidados devem ser redobrados em função do Porto de Santos, uma porta de entrada para o progresso, mas também de doenças. Isto significa que os cuidados devem ser redobrados.

O importante é cada um seguir fazendo a sua parte, essencialmente o Governo Federal, no que compete à distribuição das vacinas básicas do calendário, responsabilidade que lhe compete. É inconcebível que essa situação se perpetue. Temos acompanhado a angústia de alguns pais em busca da BCG, da pentavalente, entre outras, nos postos de saúde em todo o estado.

Diante disso, no primeiro semestre deste ano, solicitamos informações junto à Secretaria Estadual de Saúde para acompanhar o andamento dos estoques, solicitando dados sobre os municípios atingidos com o desabastecimento de vacinas nos postos de saúde e os tipos de vacinas não disponibilizadas.

A demora na normalização do abastecimento oferece muitos riscos à saúde das crianças e de suas famílias. O assunto é prioridade zero. A falta de vacina é tão nociva quanto à defesa do movimento antivacinação. Sem vacinas, não há profilaxia.

Fonte: Anahp




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